Com duas vitórias em dois jogos, Mano Menezes já obteve estofo suficiente para assumir um compromisso público além do desempenho em campo. O treinador, ao final do jogo contra o Independiente Medellín, elogiou individualmente Rodrigo Dourado e reconheceu que uma de suas missões é recuperar o volante. E esses dias serão decisivos para o futuro do jogador natural de Pelotas, cujo contrato se encerra em breve.
Cria da base colorada, o jogador de 27 anos (completa 28 em junho) virou bode expiatório da má fase do clube. Caiu sobre seus ombros especialmente — e de alguns colegas, como Cuesta, Moisés e até Edenilson — a responsabilidade pelos insucessos em campo. O Inter chegou a contratar três atletas de seu setor, com a ideia de pouco aproveitá-lo. Mas Mano chegou e mudou tudo.
— Uma das minhas missões é recuperar jogadores. Na questão do Dourado. Entendo que uma derrota dura, às vezes inexplicável na diferença entre os clubes, tende a apontar ou criar culpados. Pode abrir feridas que demoram para fechar. Mas, se eu estivesse em qualquer clube do Brasil e me oferecessem o Dourado, faria questão de contratar. Aqui temos o Dourado, e temos de usá-lo — elogiou Mano, que o escalou de titular, em sua primeira aparição entre os 11 iniciais desde 20 de fevereiro, no São José 3x2 Inter, pelo Gauchão.
Com a atuação em Pereira-COL, aliás, Dourado completou 302 jogos pelo clube. No próximo domingo, em seu retorno ao Beira-Rio, é esperado que receba a placa alusiva ao 300º, realizado diante do Fortaleza no dia 17. A ação ainda não está confirmada, justamente por essa relação de amor & ódio que vive com a torcida. Do grupo colorado, a partir da saída de D'Alessandro, ele lidera, longe do segundo colocado, o ranking de partidas pelo time. A lista prossegue com Edenilson, que tem 30 a menos. Moledo está 100 atrás. Taison, 130.
Homenagens à parte, Dourado está há 10 anos prestando serviços ao time principal do Inter. Sua estreia na equipe de cima foi em 16 de setembro de 2012, um empate em 2 a 2 com o Sport, na partida que ficou marcada por um forte discurso de Fernandão a respeito de "zona de conforto". O volante voltou para a base e só voltou a aparecer na "equipe de cima" em 2015, quando Diego Aguirre o efetivou até como titular. Fez um bom ano e não saiu mais.
Em 2016, de certa forma sobreviveu ao rebaixamento, especialmente por ter sido integrante da Seleção Brasileira campeã olímpica. Ficou no time na Série B e, em 2018, fez um Brasileirão tão bom que acabou eleito para duas seleções da competição, a Bola de Prata e o Prêmio CBF. A partir de 2019, porém, começou a conviver com lesões. Passou por duas cirurgias no joelho direito que o tiraram de atividade por mais de um ano. Recuperou espaço com Eduardo Coudet e Abel Braga, fixou-se no time, mas as limitações físicas se refletiram no desempenho. Passou a ser criticado e até hostilizado por torcedores. E esteve perto de ser negociado.
Agora, vive a incógnita sobre o futuro. Seu contrato com o Inter vai até dezembro de 2022. Ou seja, em dois meses poderá assinar um pré-contrato e deixar o Beira-Rio sem custos. Pessoas ligadas ao atleta garantem que há interesse e sondagens de outros clubes. Dirigentes colorados ainda não abriram negociações para uma possível renovação. A rigor, nem havia ideia de estender seu vínculo. Mas a chegada de Mano e a reviravolta que o treinador apresentou podem mudar os planos.
As próximas semanas serão decisivas para o futuro de Dourado em Porto Alegre. Oportunidades, porém, não devem faltar.