A contratação de David, que chegou a Porto Alegre segunda-feira (17), não encerra a busca do Inter por reforço para o setor ofensivo. A ideia é contratar, pelo menos, mais um jogador para o ataque e dois nomes apontados estão no futebol dos Estados Unidos. O interesse pelo argentino Ezequiel Barco, 22 anos, do Atlanta United, e o uruguaio Brian Rodríguez, 21, do Los Angeles FC, revela um olhar colorado para um mercado que cada vez mais conta com jogadores sul-americanos.
Rodríguez e Barco são atletas com perfis parecidos. Além de serem atacantes de lado de campo, ambos foram formados em gigantes clubes sul-americanos e negociados cedo para o futebol dos Estados Unidos. Brian Rodríguez saiu do Peñarol para o Los Angeles FC em 2019, quando tinha 18 anos, vendido por US$ 8 milhões. Ele atuou no Almeria-ESP por empréstimo no primeiro semestre do ano passado, mas voltou para o time da Califórnia.
No entanto, o seu estafe vê uma nova saída dos Estados Unidos como uma forma de aumentar sua possibilidade de ser convocado para a Copa do Mundo do Catar. O Inter apresentou uma proposta por empréstimo para o Los Angeles FC, que está sendo avaliada. Além do Colorado, a Real Sociedad-ESP e Flamengo também demonstraram interesse no jogador. Em conversa com GZH, o empresário do atleta, Edgardo Lasalvia, disse que não há um favorito na disputa. Nos bastidores, a expectativa é de uma resposta do Los Angeles para essa semana sobre a possibilidade de empréstimo.
— Estamos a esperar — afirmou Lasalvia.
Já Ezequiel Barco está no Atlanta desde janeiro 2018, quando foi comprado por US$ 15 milhões depois de ter sido um dos destaques do Independiente no título da Copa Sul-Americana do ano anterior, quando também tinha apenas 18 anos. A possibilidade de mudança do jogador para o Beira-Rio surgiu a partir da contratação por parte do Atlanta de outro argentino, o meia Thiago Almada, do Vélez Sarsfield.
A chegada de Almada faz o clube estourar a regra da MLS que limita a três o número máximo de atletas por equipe que podem receber acima do teto salarial da liga, de US$ 1,5 milhão (R$ 8,6 milhões) por ano. Além de Barco, o Atlanta conta atualmente com o brasileiro Luiz Araújo e o venezuelano Josef Martínez acima dessa faixa salarial. Essa regra é chamada de Lei Beckham porque foi criada para permitir a contratação de David Beckham pelo Los Angeles Galaxy em 2007.
O inglês foi o primeiro jogador a autorizado a receber acima do teto salarial imposto para tentar gerar equilíbrio na liga americana. Por Barco, o Inter também tem a concorrência do Flamengo. No caso colorado, apenas um dos jogadores será contratado. Ou seja, no momento que houve acordo com um, o clube deverá encerrar as negociações com o outro atleta.
— Barco é o jogador para sair com a chegada do Almada. Isso acontece porque o Josef Martínez é o ídolo do clube e um dos maiores sul-americanos da história da liga. Até é difícil entender como ele não deu certo na Europa. O Luiz Araújo chegou faz pouco tempo e teve bom rendimento. É um jogador que pode ser revendido depois. Já o Barco foi bastante utilizado pelo Atlanta e demorou para estourar. Ele teve dificuldade e foi provar sua qualidade mesmo na última temporada, podemos dizer que mostrou seu futebol aos 45 do segundo tempo — afirma o jornalista Gabriel Oliveira, do site do Território MLS.
Se a contratação de Beckham foi o marco para a nova lei e possibilitou a chegada de outras estrelas veteranas como o brasileiro Kaká, o italiano Andrea Pirlo e os ingleses Frank Lampard e Steven Gerrard, os clubes têm mudado o perfil das contratações nos últimos anos. A procura tem sido cada vez maior por jovens sul-americanos. Na atual janela, além de Almada, o também talentoso meia uruguaio Facundo Torres está de malas prontas para a MLS. Ele foi negociado pelo Peñarol com o Orlando City por 10 milhões de dólares.
Diretor de Scout do San Jose Earthquakes desde 2017, o brasileiro Bruno Costa aponta alguns fatores para esse movimento dos clubes dos Estados Unidos no futebol sul-americano.
— O primeiro passo é a questão econômica. A dificuldade e desvalorização das moedas sul-americanas em relação ao dólar favorecem para isso. No pré-olímpico de 2020, a MLS foi a liga de fora da América do Sul com o maior número de jogadores. A busca é por esse jogador semipronto, jovem que pode evoluir e ainda ser revendido. O MLS acaba sendo muito atrativa. É uma liga que se paga bem e em dia. Os jogadores recebem os salários quinzenalmente — explica.
A MLS também tem construído mecanismos que incentivam a busca por jovens. Desde 2016, há permissão para ultrapassar o teto do orçamento de transferências em caso de compra de jogadores abaixo de 22 anos, respeitado o limite salarial. Para quem acompanha a MLS, existe a certeza que o nível da liga subiu com a mudança no perfil das contratações.
— É uma liga que parou de só olhar para veteranos da Europa. Esses jogadores geram atenção do público, mas se viu que pode ter dois jovens com o preço do salário de um veterano rendendo mais e podendo jogar um número maior de partidas. O nível de competitividade certamente subiu. O Higuaín (Gonzalo, centroavante argentino que joga no Inter Miami) mesmo deu uma entrevista dizendo que esperava ter maior facilidade do que estava tendo na MLS — cita Gabriel Oliveira.
Essa busca feita pelo Inter e também pelo Flamengo nos EUA acaba sendo uma nova alternativa de mercado. Da mesma forma que é comum buscar jogadores que não estouraram na Europa como esperado, os clubes brasileiros deverão cada vez mais olhar para MLS em busca de talentos sul-americanos possíveis de serem repatriados.