Mais uma expressão entra para o vocabulário do futebol brasileiro. A "calibragem do VAR" esteve no centro da partida entre Vasco e Inter, disputada no domingo (14). O primeiro gol colorado na vitória por 2 a 0 foi, como os árbitros falam, um lance ajustado de impedimento. Durante a transmissão da partida, o repórter Edson Vianna, do Premiere, informou que houve um erro de calibragem do VAR na hora de verificar a jogada. A situação causou revolta entre os vascaínos. No segundo tempo, Viana afirmou que o sistema havia voltado a funcionar normalmente.
É possível que o sistema do árbitro de vídeo tenha tido problemas na hora do gol? Esse erro teria sido por uma falta de calibragem?
Sim, é possível que o sistema do VAR não tenha funcionado na hora do gol, de acordo com fontes consultadas pela reportagem que pediram para não ser identificadas. E não, dificilmente o erro tenha sido na calibragem do sistema.
Em uma linguagem mais simples, pode-se dizer que a calibragem é a leitura das linhas do campo. É um mapeamento de todos os setores do gramado de um gol ao outro. O mapa é feito pelas câmeras 6 e 7, responsáveis pelas filmagens dos lances de impedimento.
Antes da partida, as câmeras percorrem o gramado de uma ponta a outra. São tirados frames (fotos) de diversas áreas do gramado. Em geral, são entre seis e nove fotografias.
A partir dessas imagens, são traçadas linhas horizontais e verticais. A intersecção entre elas se transformam em coordenadas. Tudo isso é processado digitalmente por um software para evitar que aconteça o erro de paralaxe (mais um termo para o glossário).
A paralaxe é uma aparente mudança da localização de um objeto de acordo com o ângulo que ele é observado. Essa circunstância pode fazer com que, dependendo do ponto de vista, um jogador possa parecer impedido e o mesmo lance visto de outra perspectiva conclua que a posição é legal. É para corrigir essa variação da perspectiva que o software entre em ação.
Cerca de uma hora antes da partida é feito o mapeamento do gramado e, a partir dele, são traçadas as coordenadas. Mesmo que a posição do sol se modifique ou que comece a chover, é improvável que o sistema fique descalibrado. Então, o que pode ter acontecido?
O sistema pode apresentar dois problemas. Um é a indicação errada do ponto que deve ser analisado e a outra é o sistema cair, sair do ar, parar de funcionar, o que é o mais provável de ter acontecido em São Januário.
O programa do VAR roda no Windows, esse mesmo que você tem na sua casa. Por vezes ele trava, não? O mesmo pode acontecer com o VAR e, momentaneamente, as linhas terem sido perdidas. Pode acontecer até de o sistema funcionar em uma metade do campo e não funcionar na outra.
O tempo para a correção varia. Pode ser rápido ou demorar um período maior. Essa é a razão para que no segundo tempo o sistema estava funcionando normalmente, de acordo com a transmissão da televisão.
O equipamento utilizado pela CBF é considerado bom pelos especialistas consultados. Entretanto, existem sistemas mais avançados. Em jogos da Conmebol, por exemplo, é disponibilizada uma câmera na linha dos gols para verificar se a bola entrou ou não. Em outros campeonatos, como o Inglês, ainda há um chip na bola que verifica se ela ultrapassou a linha.
No Brasil, o VAR é operado pela empresa Hawk-Eye, que atua em 26 competições diferentes ao redor do mundo, entre elas os campeonatos alemães e italiano.