Será a estreia, mas João Peglow já está acostumado ao Gre-Nal. Primeiro, é claro, como torcedor. Vindo de uma família de colorados, passou a infância roendo unhas no estádio ou na TV. Depois, no início da adolescência, virou rotina enfrentar o Grêmio pelas mais variadas categorias. Neste domingo, isso ocorrerá pela primeira vez entre os profissionais.
O jovem de 19 anos recém completados é o escolhido de Abel Braga para substituir Caio Vidal, que levou o terceiro cartão amarelo contra o São Paulo. A outra opção seria Thiago Galhardo, mas por estar se recuperando de lesão, mesmo que tenha condições de atuar, ficará como opção no banco de reservas. Isso manterá Yuri Alberto como centroavante — se Galhardo atuasse, Yuri deveria ser deslocado para a ponta direita.
Sendo assim, Peglow vive mais um loop na montanha russa do futebol 2020/21. Chamado para o time principal quase sem jogar no sub-20, passou por um período de adaptação e recebeu as primeiras chances ainda com Eduardo Coudet. Sofreu lesões, teve covid e aos poucos foi recuperando espaço. Quando o argentino foi embora, renasceu no time com Abel Braga. Mas também em alta velocidade, para cima e para baixo.
Elogio do comandante
No primeiro jogo do novo treinador, contra o América-MG, entrou no lugar de Patrick, que se machucou ainda no primeiro tempo. E saiu antes do final da partida. Abel correu para defendê-lo:
— Olhei no treino e fiquei encantado. Não o conhecia. Podem ter certeza. Este menino será usado muitas vezes. Terá moral, mas sem responsabilidade.
Caio Vidal assumiu de vez a função pela direita e Peglow foi recuperando espaço. Veio, então, a Bombonera. O 1 a 0 do tempo normal levou a partida aos pênaltis. Na série de cinco cobranças, igualdade. Na sexta, o Boca fez. Peglow assumiu a bronca e cobrou para o Inter. Para fora. Ele desabou no gramado, chorou e foi consolado pelos companheiros. Imediatamente, veio do vestiário uma onda de solidariedade, elogiando a coragem de bater e tirando o peso da eliminação.
Voltou a aparecer e, na quarta-feira, participou diretamente de dois gols, roubando a bola e dando assistência para Yuri Alberto. Segundo integrantes da categoria de base do Inter, o passe vertical é, de fato, uma de suas principais virtudes.
Mas o Gre-Nal? O campeonato à parte que move o Rio Grande do Sul também já fez parte da vida de Peglow. No mais importante que disputou, fez um dos gols do 4 a 1 colorado na Copa Santiago de 2018.
— Ele sempre foi referência dentro da idade dele, participativo e decisivo nos clássicos, seja com gols, assistências ou boas participações nas construções das jogadas — recorda o técnico daquele jogo, Ricardo Grosso, que viveu também uma passagem curiosa: — Nas categorias sub-12, sub-13, sub-14 e sub-15, Peglow era o jogador a ser marcado pelo Grêmio. Sei bem disso porque nessa época eu era o treinador do Grêmio. E ele sempre fazia gols ou jogadas.
Agora, o desafio é maior. Não são mais os meninos de sua idade. Do outro lado, possivelmente estarão Geromel e Kannemann, invictos no Gre-Nal, seu oponente será Diogo Barbosa, outro jogador experiente. A favor de Peglow, as memórias de roer as unhas na frente da TV, os clássicos da base e o futuro todo que ainda tem. Não é sempre que a vida oferece tantas reviravoltas.