Embora esteja reagindo nas mãos de Abel Braga, o Inter pode abrir 2021 com um novo treinador. Já não é segredo que, antes mesmo de vencer as eleições presidenciais, Alessandro Barcellos abriu conversas com Miguel Ángel Ramírez, do Independiente Del Valle. Na última semana, inclusive, o espanhol anunciou que não permanecerá no clube equatoriano na próxima temporada. Porém, não quis anunciar seu destino.
Diante de um possível desembarque do profissional no Beira-Rio, GZH ouviu repórteres que acompanharam o trabalho desenvolvido no Equador e comparou as estatísticas do atual elenco colorado para projetar quais setores teriam mais dificuldade em se adaptar ao modelo de jogo do espanhol. Confira:
Modelo de jogo
Sob o comando de Abel, o Inter deixou de exercer a marcação pressão na saída de bola como fazia nos tempos de Eduardo Coudet. Assim, passou a atuar em linhas mais baixas, adotando um jogo mais direto. O sistema tático que tem sido usado é o 4-1-4-1, um posicionamento semelhante ao do Independiente Del Valle. A grande diferença está na postura em campo.
Adepto do "jogo apoiado", Ramírez exigia de seu time um domínio da bola, atuando de maneira ofensiva, com linhas altas. Para exemplificar as diferenças, foram selecionados números dos jogadores do Inter na vitória contra o Palmeiras, no último sábado (19) — levantados pelo site SofaScore —, e comparados às estatísticas da equipe equatoriana no empate por 0 a 0 com o Nacional-URU, pelo duelo de ida das oitavas de final da Libertadores. Nos jogos comparados, o Independiente Del Valle teve maior posse de bola (78% contra 41%), maior troca de passes (577 contra 329) e quase que o triplo de finalizações (32 contra 12).
Goleiro também joga
A ideia do espanhol é sair jogando com a bola pelo chão desde a defesa e, por isso, muitas vezes o goleiro é exigido a trabalhar também com os pés. Para se ter uma ideia, Marcelo Lomba executou apenas oito passes diante do Palmeiras, enquanto o equatoriano Jorge Pinos distribuiu 31 passes contra o Nacional-URU.
Zagueiros de bom passe e agilidade
Caso Rodrigo Moledo continue no Beira-Rio em 2021, o debate será retomado. Reconhecido pela imposição imposição física, o zagueiro se sobressai no jogo aéreo. Diante dos palmeirenses, venceu as três disputas que participou. Porém, se a exigência for por jogar quase sempre fora da grande área, ele passará a ser cobrado também pela agilidade na recomposição, para que não fique vendido nos contra-ataques. Além disso, é preciso ter um passe qualificado para iniciar a construção do jogo. No último sábado, Moledo deu 13 passes certos. Já o argentino Richard Schunke distribuiu 60 passes certos a mais contra o Nacional.
Laterais apoiadores
Com Coudet, Heitor já mostrou que tem qualidade para apoiar. Porém, diante do Palmeiras, como a proposta era mais defensiva, apresentou-se muito pouco na frente, efetuando apenas dois cruzamentos (um certo). No Equador, Ramírez usava o meia Angelo Preciado na função, que foi responsável por sete cruzamentos contra os uruguaios (quatro certos). Consequentemente, ele também participava mais da construção de jogo, tendo trocado 22 passes a mais do que o jovem colorado nas partidas comparadas.
Volante com saída de bola
Aqui talvez esteja a maior diferença entre os dois estilos. No Inter, os primeiros volantes são usados para proteger a defesa, enquanto no Independiente Del Valle é basicamente o pensador do jogo. O experiente Cristian Pellerano, de 38 anos, foi o maior passador do time contra o Nacional-URU, acertando 80 passes (49 a mais do que Rodrigo Dourado diante do Palmeiras). Além disso, o argentino também efetua lançamentos, quase sempre buscando a velocidade dos pontas. Somente neste jogo analisado, usou 11 vezes deste recurso, acertando sete deles. Dourado, neste sábado, fez isso apenas duas vezes.
Meias construtores
Neste setor do campo há uma diferente concepção quanto ao estilo do jogador. Edenilson e Praxedes são volantes de boa chegada na área adversária. No caso do time equatoriano, o atleta usado era Chrístian Ortiz, um meia-atacante argentino, contratado junto ao Sporting Cristal-PER. Portanto, trata-se de uma opção mais ofensiva. Contra o Palmeiras, Edenilson teve duas finalizações e marcou até mesmo um gol, além de ser responsável por dois desarmes. Já Ortiz, diante dos uruguaios, teve seis finalizações a seu favor, mas não desarmou uma única vez.
Pontas de velocidade
Na ideia de jogo implementada por Coudet, não havia a presença de extremas. Os dois atacantes eram escalados dentro da área, enquanto os meias tinham a obrigação de surpreender a marcação vindo de trás. Por isso, quando Abel Braga assumiu o comando da equipe, subiu do time sub-20 o jovem Caio Vidal, de apenas 20 anos. A outra opção no elenco é Marcos Guilherme, que já parece ter virado reserva.
No clube equatoriano, os atacantes de lado de campo são fundamentais, pois são responsáveis por permanecerem cravados nas pontas, prendendo a marcação rival e alargando o campo. Quando o time está retraído, são acionados para, em poucos toques na bola, partirem em velocidade em direção ao gol. Contra o Nacional-URU, Bryan García, de 19 anos, tentou aplicar quatro dribles (acertou dois). O colorado Caio teve apenas duas tentativas (ambas concluídas). Neste caso, talvez seja necessário o Inter buscar mais peças no mercado com estas características.
Centroavante de mobilidade
O panamenho Gabriel Torres, de 32 anos, sequer joga com a camisa 9 (mede 1,73m). Portanto, não é aquele centroavante que fica parado na área, brigando com os zagueiros. Pelo contrário, ele tem a função de sair da área, chamando a marcação consigo e abrindo espaços para que os pontas fechem em diagonal. Assim, ele participa mais do jogo por dentro e briga pouco por bolas aéreas, já que o jogo é construído pelo chão. Thiago Galhardo não teria problemas em se adaptar a este modelo de jogo. Desde que Abel chegou ao Beira-Rio, o atacante parou de fazer gols.