As entrevistas após a vitória do Inter por 2 a 1 sobre o Atlético-GO escancararam as divergências entre o técnico Eduardo Coudet e o diretor-executivo de futebol Rodrigo Caetano. Em síntese, treinador e dirigente discordam sobre três temas: a qualidade do grupo, o aproveitamento de jovens e o perfil de contratações a serem buscadas.
Enquanto Coudet reclama repetidas vezes da qualidade do grupo e da falta de reforços mais experientes, o dirigente defende o uso dos garotos e entende que o clube tem elenco e estrutura acima da média do futebol sul-americano.
— Às vezes jogamos o que queremos, às vezes jogamos o que podemos. Quando não temos jogadores (reservas) com as mesmas características (dos titulares), temos de nos adaptar e ser inteligentes para obter o resultado que temos de obter, rodando e vendo quem está melhor. Claro que, quando acumular tudo, vai ser muito difícil. É a verdade. Falo sempre o que penso, ainda que alguns não gostem de escutar. Mas não gosto de mentir — declarou o técnico Eduardo Coudet.
Já Caetano, que hoje é o número 1 na hierarquia do departamento de futebol, entende que o treinador tem sido injusto em relação à qualidade do grupo e não leva em conta as dificuldades financeiras do futebol brasileiro, que foram agravadas pela pandemia. Em meio à crise, o dirigente é favorável à ideia de o clube dar mais oportunidades aos garotos.
— Como disse o Chacho, nós aqui, por parte da diretoria que eu represento hoje, também falamos a verdade, né? Se ele se refere ao elenco, limitado em número, eu tenho de exaltar que ele é extremamente qualificado. Atingimos, desde o ano passado, uma cobrança muito forte para o aproveitamento de jovens no Inter. E, bom, neste ano fizemos isso. E aí, em contrapartida, somos cobrados para contratar. Vamos contratar se der e que seja alguém que, no nosso entendimento, seja realmente para elevar a qualidade — declarou o diretor-executivo de futebol.
O perfil dos reforços buscados também causa divergências no Beira-Rio. Por um lado, Coudet pede a contratação de jogadores experientes e prontos para dar uma resposta rápida no time titular. Já Caetano, por sua vez, defende a contratação de atletas jovens e com potencial de venda futura, como Yuri Alberto e Maurício, em nome da sobrevivência do clube.
— A direção tenta ser engenhosa, mas estamos falando de um jogador (Maurício) que praticamente não jogou na primeira divisão. Vamos tratar de adaptar e transformá-lo o mais rápido possível em um jogador de primeira divisão. Não considero um reforço a curto prazo. Teremos de adaptar e trabalhar. É um jogador como o Yuri, que tem futuro, tem boa condição e é de seleção de base, mas que ainda não teve continuidade na primeira divisão — disse Coudet.
Já Rodrigo Caetano alega que o clube não tem dinheiro para contratar atletas com o perfil exigido por Coudet.
— Eu não acredito na filosofia de você se endividar para trazer esses jogadores e depois ter uma dívida com aqueles que hoje estão no Inter. Eu não acredito nesta filosofia. Respeito quem trabalha desta forma, mas eu certamente não estarei aqui no dia em que isso for direcionado. Quais são as equipes que não estão utilizando jovens? Talvez o Flamengo, que utilizou numa necessidade e que tem um orçamento muito maior, e o Atlético-MG, que fez um grande número de contratações. Quais outras equipes que não colocaram seus jovens, muitos deles como solução? O próprio São Paulo, que teve sequência de vitórias muito creditada a estes jovens. Então, se nós temos bons valores em casa, vamos acreditar, sim — completou.
Não é de hoje que as reclamações de Coudet sobre a qualidade do grupo desagradam à direção, em especial o núcleo profissional, chefiado por Rodrigo Caetano. Nesta terça (3), contudo, o desconforto foi externado publicamente. E será um desafio a ser superado até o final da temporada, em fevereiro.