Um dado trazido pelo plantonista de Esporte da Rádio Gaúcha, Marcos Bertoncello, chama atenção: em 49 anos de Campeonato Brasileiro, é a primeira vez que o Inter consegue marcar ao menos dois gols no primeiro tempo em cinco jogos seguidos (Bragantino, Athletico-PR, Sport, Vasco e Flamengo). Em toda a competição, a equipe balançou as redes 30 vezes — 17 no primeiro tempo e 13 no segundo.
Na avaliação de Bertoncello, que também é colunista de GZH, essa é uma tática do técnico Eduardo Coudet:
— A estratégia parece ir ao encontro do discurso do Coudet sobre a insuficiência do grupo do Inter. A ideia de esgoelar o adversário no começo da partida parte da premissa do treinador de unir intensidade com qualidade. E ele só vai conseguir isso com o time que considera ideal. Basta mexer nas peças ou elas cansarem, e a equipe invariavelmente baixa o ritmo. Logo, buscar resolver rapidamente jogo e obrigar o oponente a correr atrás do placar tem sido o trunfo colorado nos confrontos.
Outra estatística, porém, não é boa. No Brasileirão, a equipe colorada sofreu oito gols na etapa final. Ou seja, deixou de somar 11 pontos com gols sofridos no segundo tempo dos jogos. Destes, cinco foram após os 30 minutos do segundo tempo. Até mesmo no primeiro tempo, a maioria dos gols sofridos pelo Inter são nos minutos finais (quatro dos sete).
Se contarmos também a Libertadores, o time comandado pelo técnico Eduardo Coudet manteve a mesma estratégia de pressionar os adversários para marcar no primeiro tempo, mas acabou sofrendo os gols das derrotas para o Grêmio e para a Universidad Católica na etapa final. Assim, deixou escapar pontos importantes na competição.
Para o ex-treinador do Inter e hoje comentarista do Grupo Globo, Muricy Ramalho, a queda de rendimento no segundo tempo se explica pela falta de qualidade na reposição aos titulares. De acordo com ele, quando os titulares são substituídos, já cansados, as alternativas no banco de reservas não conseguem manter o mesmo ritmo.
— O Inter está tomando gols no final do jogo porque, no primeiro tempo, a intensidade é muito forte e os jogadores pressionam demais o adversário, é uma característica do técnico, mas o time não consegue se manter assim no segundo tempo. Isso acontece porque os jogadores da frente que ele tem, quando são substituídos, não são iguais, não tem a mesma qualidade, a mesma marcação, a mesma pressão e o Inter cai muito — afirma Muricy, que esteve na transmissão de Inter e Flamengo pelo canal Premiere.
O próprio Coudet usou esse mesmo argumento para justificar a mudança de postura da equipe no segundo tempo. Para o técnico colorado, faltam atletas no elenco com características semelhantes às dos titulares.
— Temos que ir trocando a estratégia porque não temos a sorte de ter jogadores da mesma característica dos que iniciam. Por isso, acabamos trocando a ideia na medida em que vai transcorrendo o jogo — justificou o argentino.
A alternativa para evitar os gols no fim, no entendimento do comentarista Adroaldo Guerra Filho, do Grupo RBS, é buscar ter mais posse de bola no campo de ataque do adversário. Assim, a equipe fica menos exposta e faz o time rival cansar mais.
— Acho que o que pesa mais é o cansaço de um time que passa boa parte do tempo jogando no seu campo, se defendendo, correndo atrás do adversário. Isso desgasta. Aí qualquer piscar de olhos fora de hora acaba motivando a alegria do oponente e a tristeza do colorado. Mas são coisas que dá para corrigir tendo mais a bola, porque aí quem se desgasta é o adversário — defende Guerrinha, que comentou o jogo do Inter contra o Flamengo na Rádio Gaúcha.
O certo que, se de um lado o time de Coudet tem feito a torcida sorrir nos primeiros minutos, tem deixado alguns resultados escaparem no final. E, como todos sabem, o que vale é o resultado do fim do jogo. Por isso, é preciso encontrar uma maneira de manter a eficiência da etapa inicial durante ou 90 minutos. Trabalho para o treinador argentino do Inter, que lidera o Brasileirão e tem pela frentes oitavas de final da Copa do Brasil e da Libertadores para provar que merece a confiança dos colorados.
Números no Brasileirão 2020
Gols marcados
1º tempo (17 gols)
- 1 a 15 minutos: 4 gols
- 16 a 30 minutos: 9 gols
- 31 minutos até o intervalo: 4 gols
2º tempo (13 gols)
- 1 a 15 minutos: 3 gols
- 16 a 30 minutos: 3 gols
- 31 minutos até o fim do jogo: 7 gols
Gols sofridos
1º tempo (7 gols)
- 1 a 15 minutos: 1 gol
- 16 a 30 minutos: 2 gols
- 31 minutos até o intervalo: 4 gols
2º tempo (8 gols)
- 1 a 15 minutos: 2 gols
- 16 a 30 minutos: 1 gol
- 31 minutos até o fim do jogo: 5 gols
Os gols sofridos pelo Inter
BRASILEIRÃO
16/8 – Fluminense 2x1 Inter
Gols sofridos aos 39min do primeiro tempo e aos 32min do segundo tempo
2/9 – Palmeiras 1x1 Inter
Gol sofrido aos 49min do segundo tempo
6/9 – Inter 2x2 Bahia
Gols sofridos aos 20min do primeiro tempo e aos 52min do segundo tempo
13/9 – Goiás 1x0 Inter
Gol sofrido aos 45min do primeiro tempo
19/9 – Fortaleza 1x0 Inter
Gol sofrido aos 21min do segundo tempo
26/9 – Inter 1x1 São Paulo
Gol sofrido aos 25min do primeiro tempo
3/10 – Grêmio 1x1 Inter
Gol sofrido aos 8min do segundo tempo
11/10 – Inter 2x1 Athletico-PR
Gol sofrido aos 42min do primeiro tempo
14/10 – Sport 3x5 Inter
Gols sofridos aos 43min do primeiro tempo e aos 11min e 45min do segundo tempo
25/10 – Inter 2x2 Flamengo
Gols sofridos aos 11min do primeiro tempo e aos 50min do segundo tempo
LIBERTADORES
16/9 – Inter 4x3 América de Cali
Gols sofridos aos 28min do primeiro tempo e aos 4min e 33min do segundo tempo
23/9 – Inter 0x1 Grêmio
Gol sofrido aos 29min do segundo tempo
22/10 – Universidad Católica 2x1 Inter
Gols sofridos aos 25min do primeiro tempo e aos 44min do segundo tempo