Depois de cinco meses de ausência, o Saci voltou às arquibancadas do Beira-Rio. Por conta das restrições sanitárias impostas durante a pandemia, Gabriel Lagoa, funcionário do departamento de relacionamento social do clube, que dá vida ao mascote colorado, foi a única figura presente nas cadeiras do estádio do Inter na vitória sobre o Santos, nesta quarta-feira (13).
— Decidi que iria usar a mesma energia e a mesma disposição, como se todos os torcedores estivessem aqui — contou, após o jogo, resumindo o sentimento de dever cumprido em tempos de distanciamento social.
De acordo com o vice-presidente de administração colorado, Victor Grunberg, o clube fez uma solicitação formal à CBF para saber se a presença do mascote não infringia o protocolo estabelecido pela entidade. Com a aprovação, ele pôde ser "escalado".
— A casa do Saci é o Beira-Rio — sentenciou Lagoa.
A última partida com presença de torcida no Beira-Rio — e, consequentemente, do Saci — foi contra o Brasil-Pel, pelo Gauchão, ainda no início de março. De lá para cá, foram meses de incertezas e trabalho remoto. Gabriel diz que segue os protocolos sanitários nos dias de jogo "sem contato com quase ninguém" — ele já fez o teste e teve resultado negativo para covid-19. Não ter público para interagir é a maior novidade da pandemia para ele.
— Trabalhei 15 anos com teatro, cinema e televisão, mas sempre nos bastidores. Fiz iluminação, produção e direção de cena. Uma vez, perguntaram se eu poderia fazer o Saci em campo e fiz. Por brincadeira, mas também por conhecer a atuação. Tem toda uma linguagem específica — comentou o homem de 38 anos, que veste a fantasia desde 2016.
A rotina é intensa. Além das partidas, o Saci é representante do clube em eventos consulares no interior do Estado e em viagens da equipe pelo país.
A preparação em dias de jogo normalmente começa cerca de três horas antes do apito inicial. Ele conta que espalha garrafas com água por onde vai passar agitando a galera no gramado para manter-se hidratado dentro da fantasia. Depois de caracterizado, recebe torcedores na zona mista. As fotos e interações seguem arquibancada a dentro até o túnel para o gramado, para só ocupar seu lugar atrás do gol quando os jogadores também entram em campo.
— Em dia de jogo normal, chego a perder entre dois quilos e meio e quatro quilos em suor — revela.
Viver o Saci em campo e trabalhar pelo time de coração é a realização de um sonho da juventude de Gabriel. Ele conta que morava no bairro Parque dos Maias e dependia de dois ônibus para chegar ao Beira-Rio.
— Passava por baixo da roleta dos ônibus, esperava o segundo tempo para abrirem as catracas do estádio e entrava para ver o time — relembra.
O dedicado mascote começou a missão de animar a torcida no pior momento do time: as temporadas de 2016 e 2017, marcadas pelo rebaixamento e disputa da Série B. A pandemia é mais uma situação de adversidade em que Gabriel fará sua parte pelo clube, levando alegria para as arquibancadas, mesmo de longe. A chamada nova normalidade, no entanto, não muda o sentimento que o levou para dentro da fantasia de personagem folclórico centenário.
— O Inter fica sempre, a paixão e o "coloradismo" são para sempre. O nosso maior ídolo é quem nos ensinou a ser colorado. É muito importante reconhecermos quem nos passou esses valores — concluiu.