
Se hoje o Inter ostenta o título de "Campeão de Tudo", tudo começou em 1975, quando a equipe de Manga, Figueroa, Falcão, Carpegiani, Valdomiro e companhia conquistou pela primeira vez o Campeonato Brasileiro, ao vencer o Cruzeiro por 1 a 0, no Beira-Rio, em 14 de dezembro daquele ano. Até mesmo por isso, o primeiro dos três troféus do Brasileirão vencidos pelo Colorado foi escolhido por leitores de GaúchaZH para ser relembrado no projeto Saudade do Esporte, do Grupo RBS.
O gol do título, marcado por Don Elias Figueroa, capitão daquele time, ficou eternizado na história. Conhecido como "gol iluminado", já que o zagueiro chileno cabeceou dentro de um feixe de luz do pôr do sol do Guaíba, aos 11 minutos do segundo tempo, aquela bola no fundo das redes deu início à sequência de conquistas do clube na década de 1970.
— Estávamos beliscando esse título. Aquela conquista foi importante não só para nós, jogadores do Inter, mas para todo o Rio Grande do Sul, porque foi a primeira vez que um time gaúcho ganhou um título brasileiro. Antes, só dava Rio e São Paulo — recorda Valdomiro, ponta-direita do Inter à época.
Ele sofreu a falta e fez o cruzamento que resultou no gol de Figueroa. Até hoje, os jogadores do Cruzeiro naquela decisão reclamam que não havia sido falta no lance, algo que Valdomiro questiona.
— O Piazza é meu amigo e até hoje fala que não foi falta, mas então por que o juiz deu a falta? Tive a felicidade de, bem na hora do gol, o sol aparecer ali naquele pedacinho do Beira-Rio. Estava desenhado para a bola cair ali. Eu sabia onde tinha de colocar a bola, porque a gente treinava muito e o Figueroa sempre vinha de trás e dava aquela penteada — contou.
Mas o jogo não foi fácil. Naquela época, a final era em jogo único. Por ter tido melhor campanha do que o Cruzeiro, a partida decisiva foi no Beira-Rio. Nada disso assustou os visitantes. A equipe mineira, que tinha grandes nomes como Nelinho, Piazza, Zé Carlos e Palhinha, incomodou o goleiro Manga em diversas oportunidades. O Inter, claro, também atacava e parava na meta defendida por Raul.
— Jogamos muito naquele dia, mas o Manga fez de tudo. Foi uma das maiores atuações de um goleiro que vi na vida. Ele parecia um polvo, parecia ter oito braços — disse Palhinha em entrevista a Zero Hora em 2014.
A sorte colorada na partida mudou quando, no início do segundo tempo, o árbitro Dulcídio Boschilia marcou falta em Valdomiro. Foi naquele momento que os mais de 80 mil torcedores que lotaram o Beira-Rio naquela tarde de domingo vibraram como se não houve amanhã. E, como descreveu Armindo Antônio Ranzolin na narração do gol, o estádio se empolgou com as bandeiras e os gritos ensurdecedores vindos da arquibancada.
— Agora é o mar vermelho no Beira-Rio. Pode ser o gol do coroamento de uma campanha: Internacional 1 x 0 Cruzeiro, aos 11 minutos de partida no segundo tempo — disse Ranzolin logo após o gol de Figueroa.

Com festa no Estado, o jornal Zero Hora marchetava no dia seguinte à conquista: "Inter, o melhor do país". O título acompanhava a foto de Figueroa com a taça, que relatou tempos depois.
— Naquele dia, as grandes conquistas se abriram para Inter e Grêmio. Isto foi parte do meu discurso aos jogadores antes de entrar em campo. Quando vi o Beira-Rio lotado, disse: "É a nossa casa, ela está cheia, e nós seremos campeões essa tarde" — destacou o chileno.
E foram. Para ficarem eternizados como o primeiro time gaúcho a conquistar o Brasil.
Ficha técnica
Brasileirão - Final - Jogo único
14/12/1975
Inter 1 x 0 Cruzeiro
INTER: Manga; Valdir, Figueroa, Hermínio e Chico Fraga; Falcão, Caçapava e Carpegiani; Flávio, Valdomiro (Jair) e Lula. Técnico: Rubens Minelli
CRUZEIRO: Raul; Nelinho, Darci Menezes, Morais e Isidoro; Piazza, Zé Carlos e Eduardo Amorim (Souza); Roberto Batata (Eli Mendes), Palhinha e Joãozinho. Técnico: Zezé Moreira
Gol: Figueroa (I), aos 11 minutos do segundo tempo.
Cartões amarelos: Palhinha e Morais (C)
Arbitragem: Dulcídio Wanderley Boschilia, auxiliado por Valdir Pimentel e Emídio Marques de Mesquita
Público: 82 mil pessoas
Local: Estádio Beira-Rio, em Porto Alegre