Revelado em uma época em que o Inter não vencia nem Gre-Nais, Daniel Carvalho construiu uma carreira vitoriosa longe do Beira-Rio. Vestindo a camisa do CSKA Moscou, o meia-atacante conquistou três Copas da Rússia, dois campeonatos russos e uma Copa da Uefa. Porém, o que pouca gente sabia é que ele, em um primeiro momento, rejeitou a proposta do leste europeu.
A história, segundo o próprio atleta contou em entrevista ao programa Bola nas Costas, da Rádio Atlântida, ocorreu na véspera do Gre-Nal de 2003 em que ele marcou o gol da vitória colorada.
— Eu tinha acabado de conquistar o Mundial sub-20, recém tinha feito 20 anos e muita gente me viu jogando. Quando me apresentei para jogar o Gre-Nal, o Fernando Carvalho (então presidente do clube), me chamou e falou sobre a proposta. Eu disse para ele: "Não gostaria de virar pinguim". Eu não tinha noção, não sabia nada sobre a Rússia, só sabia que tinha gelo. Falei que queria continuar no Inter e ser convocado para a Seleção Brasileira. O Paulo Paixão, que era o preparador físico do Inter e da Seleção, ficou sabendo e me falou algo que eu nunca esqueci: "Daniel, tu vai ficar aqui e vai para a Seleção, mas daqui a 10 anos a Seleção vai botar comida na tua mesa? Pensa no teu lado financeiro. É um momento que o clube precisa". Aí, eu aceitei, acertamos salários. Depois veio o Gre-Nal, eu fiz o gol, mas já tinha dado minha palavra — descreveu ele.
A venda impediu que Daniel Carvalho fizesse parte da equipe que, três anos depois, viria a conquistar a Libertadores e o Mundial de Clubes.
— Não me arrependo. Na época, a venda rendeu quase 5 milhões de dólares. O Inter pegou esse dinheiro, reformou os vestiários, reformou a estrutura das categorias de base, comprou o Alex do Guarani... Então, até brinco que eu consegui ajudar — disse.
Em 2008, o jogador voltou a Porto Alegre para reforçar o time colorado. Porém, foi uma passagem curta, sem que ele conseguisse se firmar como titular.
— Cheguei em uma quinta-feira e o D'Alessandro chegou no sábado. Meu empréstimo do CSKA foi de quatro meses. Então, cheguei em agosto, ganhamos a Copa Sul-Americana e eu voltei para a Rússia — recordou.
A ida para a Rússia, contudo, não impediu que ele tivesse oportunidades na Seleção Brasileira. Em 2006, ele não apenas foi convocado como também vestiu a camisa 10.
— Tive um início muito bom. Fiz o primeiro gol da Era Dunga, contra a Noruega. Fui chamado nas oito primeiras convocações. Depois, passei por cirurgia no joelho e fiquei muitos meses parados. Então, não esperava mais voltar à Seleção. Estive perto de jogar uma Copa América. Inclusive, o Vágner Love e o Dudu Cearense, que jogavam comigo no CSKA, participaram e eu fique de fora. Eu estava operado naquela época. Sinceramente, Copa do Mundo eu não sei se teria condições de jogar. Faltavam quatro anos — completou ele.
De volta ao futebol brasileiro em 2009, Daniel Carvalho passou por Atlético-MG, Palmeiras, Criciúma, entre outros, até encerrar sua carreira em 2017, no Pelotas.