Os colorados chamam o 16 de agosto de 2006 como "O dia sem fim". Nenhum nome poderia ser mais adequado mesmo. Neste domingo, a prova foi dada: 5030 dias depois, a noite em que o Inter vermelhou a América pela primeira vez, reprisada na RBS TV, na Rádio Gaúcha e em GaúchaZH, reviveu as antigas e despertou novas emoções nos torcedores. O 2 a 2 do time de Abel Braga com o São Paulo de Muricy Ramalho foi o resultado que os gaúchos precisavam para conquistar a Libertadores, depois da vitória por 2 a 1 no Morumbi, na semana anterior.
O replay da partida mostrou o tamanho da dificuldade que o Inter precisou superar. Fernando Carvalho, presidente à época, definiu como uma "conquista a fórceps", no áudio recuperado durante o Pré-Jornada, da Gaúcha. É por esse assunto que se começa.
O adversário da decisão era o campeão do mundo. Em dezembro de 2005, o São Paulo venceu o Liverpool por 1 a 0, gol de Mineiro e atuação perfeita de Rogério Ceni, levando o Mundial de Clubes organizado pela Fifa. Oito meses depois, nove atletas que estavam em campo em Yokohama foram titulares no Beira-Rio. Naquele mesmo 2006, o tricolor paulista seria campeão brasileiro - e repetiria o feito nos dois anos seguintes.
Um time desse calibre havia sido derrotado em casa no jogo de ida e por isso chegava ferido e faminto para a volta. Era uma equipe acostumada a vencer, que encontraria um grupo que precisava do salto de qualidade. O Inter, até então, montava equipes fortes, ia longe e, pelas mais diversas razões, não ganhava. O maior exemplo foi em 2005, quando o título brasileiro escapou em um campeonato marcado pela Máfia do Apito, que anulou partidas apitadas por Edilson Pereira de Carvalho, e pelo pênalti que Márcio Rezende de Freitas não marcou sobre Tinga - e expulsou o volante colorado por "simulação" no confronto direto contra o líder Corinthians.
Some-se a isso as experiências traumáticas que a Libertadores tinha oferecido ao Inter até então. Em 1980, derrota na final para o Nacional-URU. Nove anos mais tarde, a derrota nos pênaltis para o Olimpia no Beira-Rio lotado, depois de ter vencido no Paraguai e ter desperdiçado uma cobrança no tempo normal, tirou o time de Abel Braga na semifinal.
Com toda essa bagagem, o ambiente do Beira-Rio misturava otimismo e apreensão. Os primeiros minutos, de pressão do São Paulo, defesas de Clemer e fumaça da torcida, aumentavam a tensão.
— Era uma esperança, mas com medo. A gente sentia o medo no Beira-Rio. Depois fomos nos soltando — revelou Rafael Sobis.
Quando se soltou, o Inter fez 1 a 0, aproveitando falha justamente de Rogério Ceni, o herói são-paulino de dezembro de 2005, com Fabiano Eller dando o passe e Fernandão completando para a rede. No segundo tempo, um gol de Fabão deixou tudo igual. O Inter não se abalou — e então veio a cena que definiu a América. Tinga, aos 21, fez o gol. Na comemoração, levou cartão vermelho. O São Paulo cresceu, pressionou. Martelou tanto que empatou, com Lenílson, aos 39. O que transformou os minutos finais nos mais longos até então. Só quando Horacio Elizondo apitou, enfim, a festa foi conflagrada.
Nos áudios da época, todos os atletas e o técnico Abel, ouvidos por Luciano Périco na Rádio Gaúcha, diziam que o era jogo mais importante da história. Menos de quatro meses depois, pode ser que essa opinião tenha mudado.
Mas isso é assunto para daqui a duas semanas, na RBS TV, na Gaúcha, em GaúchaZH.