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GaúchaZH encerra nesta segunda-feira (23) a série especial que relembra a conquista do Tri invicto do Brasileirão pelo Inter em 1979. Na data em que o título completa 40 anos, confira o material especial sobre um dos principais momentos da história do Colorado.
Chamado à época de Copa Brasil, o Brasileirão de 1979, conquistado pelo Inter, foi a última competição organizada pela CBD (Confederação Brasileira de Desportos). Devido a uma orientação global da Fifa, a entidade acabou desmembrada, permanecendo apenas como a representante do futebol. Os demais esportes, a partir daí, ganharam federações próprias.
Em 1979, porém, antes da despedida, a CBD tratou de atender a uma orientação da Ditadura e inchou o campeonato. Transformou a competição em um torneio literalmente nacional, convidando clubes de todas as partes do país a participar.
Assim, a Copa Brasil contou com 94 clubes, entre eles, Leônico (BA), Guará (DF), Colatina (ES), Goytacaz (RJ), Moto Clube (MA), Fast (AM), XV de Jaú (SP) e Potiguar (RN), além dos gaúchos São Paulo-RG, Novo Hamburgo e Brasil de Pelotas. Foram 14 clubes a mais do que a projeção original — que gerou o irônico slogan: "Quando a Arena (o partido que apoiava o Regime Militar de Direita) vai mal, um time no Nacional".
Apesar do "inchaço", os paulistas Corinthians, São Paulo, Portuguesa e Santos se negaram a jogar a Copa Brasil. O Torneio Rio-São Paulo daquela temporada havia sido cancelado. Desta forma, todos os clubes de São Paulo exigiram ingressar no campeonato somente na terceira fase, privilégio que era dado somente ao campeão e vice de 1978: Guarani e Palmeiras.
Como quarteto se recusou a entrar na segunda etapa da competição, batendo o pé para passar diretamente à terceira fase, eles acabaram desistindo do Brasileirão. Além disso, pesava como argumento a disputa do Campeonato Paulista, concomitante ao torneio nacional e que exigiria deles jogar às terças, quintas e aos finais de semana — como fizeram Guarani, Palmeiras, Comercial, São Bento, XV de Piracicaba, Inter de Limeira, Francana e XV de Jaú.
Assim, Corinthians, Santos, São Paulo e Portuguesa (à época um time forte) foram os únicos grandes a não disputar o campeonato de 1979.
Veja 10 curiosidades sobre a conquista colorada
- Teve W.O. — O último jogo do Inter pela terceira fase do Brasileirão teve W.O.. No Beira-Rio. O Atlético-MG se negou a entrar em campo, e o Inter venceu por 1 a 0. No Grupo R, com Goiás, Cruzeiro e Atlético-MG, o Inter havia vencido os dois primeiros. Brigado com a CBD, por entender ter sido prejudicado, uma vez que o mando de campo contra o Goiás foi para o Serra Dourada, sob a alegação da Confederação de que os goianos tinham melhor campanha, os mineiros sequer embarcaram para Goiânia. Levam dois W.O.'s: um contra o Goiás, outro contra o Inter.
- Força da base — Dos 11 titulares do time campeão, cinco deles eram das categorias de base do Inter: João Carlos, Mauro Galvão, Falcão, Batista e Jair. E apenas um estrangeiro: o goleiro paraguaio Benitez.
- O terno verde do Ballvé — Presidente do Inter em 1959, e no biênio 1976/1977, Frederico Arnaldo Ballvé também foi o vice de futebol em 1975 e em 1979. Bem antes de o Inter ganhar o Mundial com camisas brancas, a superstição já tomava conta do Beira-Rio. E Ballvé não dispensava um terno verde claro em dias de jogos. Foi assim durante toda a campanha do tri.
- O time que virou livro — Em 2009, quando comandava na RBS o programa de entrevistas Falcão na Gaúcha, o eterno camisa 5 do Inter escreveu um livro sobre a equipe de 1979: "O time que nunca perdeu". Nele, Falcão contava bastidores do título e entrevistava os seus companheiros de tricampeonato, além de recuperar toda a campanha daquele Brasileirão, comentando jogo a jogo.
- A vingança de Mário Sérgio — Um dos 94 times na disputa do Brasileirão era o São Paulo de Rio Grande. Treinado por Ernesto Guedes, a equipe havia vencido o Inter nos três jogos entre as equipes no Gauchão _ o Inter acabou em terceiro, com o Grêmio campeão estadual. No campeonato nacional, um novo encontro. No Beira-Rio, o Inter venceu o São Paulo por 3 a 1. No terceiro gol, um pequena vingança de Mário Sérgio, que entrou com bola e tudo no gol.
- Os novos camisas 5 e 7 — No jogo de ida das finais com o Vasco, foi de Valdir Lima, buscado no São Paulo de Rio Grande após o Gauchão, a assistência para o primeiro gol de Chico Spina, no Maracanã. A vitória por 2 a 0 foi construída sem dois dos mais importantes jogadores colorados: Falcão e Valdomiro, ambos lesionados. Naquele jogo, a camisa 5 ficou com Valdir Lima e a 7, com Chico Spina. Destino é tudo.
- O freguês Zé Mário — Antes de treinar o Inter em 2000 e 2001, Zé Mário foi um volante clássico do futebol carioca. E freguês do Inter. Em 1975, estava na máquina do Fluminense de Carlos Alberto Torres, de Rivelino e de Paulo César Caju, que foi eliminada pelo Inter na semifinal do Brasileirão. Em 1979, voltou a perder para o Inter. Agora na final do Brasileirão, e defendendo o Vasco de Leão e de Dinamite.
- Marcelo Feijó e José Asmuz — Dias antes de ser campeão nacional, o então presidente do Inter, Marcelo Feijó (tio do atual presidente do clube, Marcelo Medeiros), perdeu a reeleição. Em votação no Conselho Deliberativo, foi derrotado por José Asmuz. Campeão invicto, no dia seguinte ao título, Feijó já era ex-presidente.
- 2x1, fora o baile — A Placar, então a principal revista de esporte dos Brasil, abriu assim o texto da final do Brasileirão 1979: "2x1, fora o baile". A reportagem se referia à decisão no Beira-Rio e ressaltava as grandes atuações de Falcão e de Batista. Logo abaixo, em um segundo texto, uma foto da partida do Maracanã mostrava Roberto Dinamite deitado, com o novato Mauro Galvão quase passando por cima do histórico atacante, tendo Batista ao fundo, e a legenda: "Roberto caído, muito pouco para Mauro Galvão e Batista, o macho". Em editorial, Juca Kfouri, então editor da revista, escreveu: "O Inter tem o time da década, o de 1976, e é também o clube dos anos 70. Salve Inter! O Brasil, a teus pés, te saúda orgulhoso".
- Time sem mordomias — Sim, os tempos mudaram. Em 1979, o Inter se concentrava sob a arquibancada do Beira-Rio. Eram quartos para seis jogadores, com banheiro coletivo. Nada de hotéis de luxo ou mordomias. Além disso, ninguém era poupado naquele time. Só não ia a campo quem realmente não tinha condições de jogo.