GaúchaZH continua neste domingo (22) a série especial que relembra a conquista histórica do Tri invicto do Brasileirão pelo Inter em 1979. Até segunda-feira (23) serão publicadas mais matérias com personagens daquele título que marcou época para os colorados.
Um time não é feito só de jogadores com carreiras inteiramente vitoriosas. A equipe do Inter campeã invicta do Brasileirão em 1979 não é exceção a essa regra. Formado nas categorias de base do Grêmio, Chico Spina chegou ao Colorado no ano da conquista nacional, mas nem ele mesmo acreditava que seria tão importante naquela temporada.
Até porque, Chico desempenhava a mesma função de Valdomiro Vaz Franco, ídolo da torcida e jogador com mais partidas disputadas com a camisa vermelha.
— Valdomiro não dava brecha. Chegou a jogar inclusive com a virilha aberta no segundo jogo contra o Vasco. Jogou meio tempo e saiu. Era fominha — confessa Spina.
Apesar de substituir o camisa 7 colorado na segunda partida da final, foi no primeiro jogo, no Rio de Janeiro, que o gaúcho de Porto Alegre escreveu seu nome na história colorada. Em um dia chuvoso na Cidade Maravilhosa, Chico foi avisado no hotel por Ênio Andrade que iria começar como titular no Maracanã na vaga de Valdomiro, lesionado. A intenção do treinador era aproveitar o arranque e a velocidade, principais características do reserva, para bater uma defesa lenta do Vasco. E a estratégia colorada deu certo frente a mais de 58 mil pessoas.
Primeiro, aos 28 do primeiro tempo, Valdir Lima, substituto de Falcão, lesionado, lançou o atacante colorado, que tirou do zagueiro e arrematou para dentro do gol defendido por Leão. Aos 10 do segundo tempo, a história se duplicou. Chico Spina recuperou a bola no meio-campo, tocou para Bira, que devolveu para o atacante. De canhota, Chico Spina, deu um chute poderoso e abriu vantagem gigantesca para o Inter.
— Futebolisticamente falando, foi o dia mais feliz da minha vida. Só tive noção disso quando eu cheguei em Porto Alegre. Saí no saguão do (aeroporto) Salgado Filho, e a torcida me recebeu em peso, me pegaram no colo e me atiravam para cima. E era só o primeiro jogo — complementou o autor dos dois gols que abriram o caminho para a conquista de 1979.
Chico era praticamente o 12º jogador do time de Ênio Andrade. Participou de 16 dos jogos e marcou três gols, dois deles os mais importantes daquele campeonato.
A escolha inteligente
Ubiratã Silva do Espírito Santo, também conhecido como Bira Burro, chegou ao Inter aos 24 anos, depois de uma boa temporada pelo Remo. Muitas histórias rondam sobre o apelido, mas a que Bira confere como verdadeira tem a ver com o Flamengo de Zico.
Depois de se destacar no futebol paraense, o centroavante chamou a atenção de dois times: Inter e o rubro-negro carioca. O jogador optou por jogar com Falcão, Mário Sérgio e Jair ao invés de atuar ao lado de Zico, Júnior e Adílio. Jornalistas do Rio de Janeiro, ao saberem da escolha do atacante por Porto Alegre, o chamaram de burro por preterir o time carioca.
— Os jornalistas disseram que eu era burro em não aceitar a proposta do Flamengo. Os jogadores ouviram e começaram a me chamar assim, e aí ficou — contou Bira no livro "O Time que Nunca perdeu," de autoria de Paulo Roberto Falcão.
O camisa 9 colorado foi vice-artilheiro do time na disputa do Brasileirão, mas a trajetória não foi fácil. Em sua primeira partida, contra o Santa Cruz, marcou um dos gols da vitória por 2 a 1, mas caiu e quebrou o braço. Conseguiu se recuperar a tempo de ainda disputar o restante do campeonato. Participou de 15 partidas e fez sete gols. Bira não era o centroavante mais técnico do mundo, mas se tinha uma coisa que ele sabia, era fazer gol.
— Tínhamos uma equipe muito boa, comigo, Batista, Valdomiro, Falcão, Mário Sérgio e, além disso, o Bira Burro, que fazia gol de tudo que é jeito — falou Jair, artilheiro do Inter naquele Brasileirão.
Entre o dia 22 de setembro, data do anúncio da contratação de Bira, e 23 de dezembro, dia da final do campeonato, o centroavante carregou o apelido de burro, mas de forma injusta. Afinal, era campeão brasileiro invicto ao lado de Falcão, Mário Sérgio e Jair. Um coadjuvante perfeito para um time de protagonistas.