O dilema que vive o Inter é bem comum no futebol brasileiro. Machuca um jogador, outro é suspenso, alguém não dá a resposta e... A solução vem da base. Sem Bruno, Moledo, D'Alessandro e Guerrero, a equipe que enfrentará o Palmeiras, às 16h deste domingo, no Beira-Rio, poderá ter guris criados no que o clube costuma chamar de Celeiro de Ases, mas que nem sempre são usados até que surja uma emergência. Os três mais cotados são o lateral-direito Heitor, o zagueiro Bruno Fuchs e o volante/meia Nonato.
Bruno Fuchs, aliás, é candidato até a ter sequência no time. A confirmação de que Moledo ficará 30 dias fora por causa de uma lesão muscular abriu uma vaga do lado de Víctor Cuesta na zaga. Para enfrentar o Palmeiras, Emerson Santos certamente está fora, já que é emprestado pelo clube paulista. Klaus poderia ser o substituto natural. Foi ele quem entrou no Maracanã na última quarta-feira (25), mas sua participação mereceu críticas. E isso possibilita a especulação do aproveitamento do menino de 20 anos, natural de Ponta Grossa (PR), figura constante nas seleções brasileiras de base nas mais variadas categorias — a última convocação, há uma semana, foi para a equipe olímpica (sub-23, uma fase acima da sua idade).
Heitor, nascido em Morro Redondo, cidade do sul do Estado, também já apareceu na Seleção, chamado para treinar com o time de Tite durante a preparação para a Copa América. Aos 18 anos, mostrou personalidade nas chances que recebeu de Odair Hellmann no Brasileirão. Contra o Atlético-MG, no Horto, por exemplo, foi um dos melhores em campo. Tem como principais virtudes o chute forte e a capacidade de recuperação física na marcação. Jogou até o Gre-Nal do Brasileirão, que teve — apesar de muitos reservas — a presença de Everton no lado gremista.
Nonato, paulista de 21 anos, é quase um veterano na comparação com os outros. Seu caso também é diferente: não é que precise aparecer ou virar opção. Inclusive, teve seus direitos adquiridos por R$ 2,25 milhões junto ao São Caetano, estendendo seu contrato até dezembro de 2023. O debate sobre sua presença é o de ter continuidade como titular. Entre idas e vindas, já são 39 partidas e dois gols marcados em 2019, mas quase sempre entrando no segundo tempo, pelo menos na formação considerada titular. No esquema colorado, fica atrás de Edenilson e Patrick. Não está descartado, porém, que no domingo esteja junto aos dois diante do Palmeiras.
Só o campo dá a resposta. O treino e a conversa ajudam, mas é na partida que te diz tudo. Jogar com torcida, um adversário forte, a imprensa, tudo isso aumenta a tensão"
DANIEL FRANCO
Ex-lateral do Inter, hoje técnico do União-FW
Apesar do cartel promissor, nenhum dos três está garantido. E o fato de o adversário ser justamente o atual campeão brasileiro pode interferir na decisão de Odair. Um time cascudo, segundo colocado no campeonato, recheado de estrelas do futebol nacional, é um risco para estragar a imagem de um guri recém-lançado. O ideal, claro, é apresentar ao mundo no Estadual, mas circunstâncias podem levar a catalizar o crescimento.
— Precisamos lembrar que, se o Inter perder, pode deixar a zona de classificação. É um jogo de risco, complicado. O time vive um momento de oscilação, natural. Não é nada grave, está bem colocado, mas é preciso ter cuidado. É uma partida de responsabilidade grande — aponta o ex-lateral-esquerdo Daniel Franco, hoje técnico do União-FW.
Apesar disso, o treinador defende a utilização, em geral, de jovens. Segundo ele, se o técnico entender que um jogador está pronto, deve lançá-lo:
— Só o campo dá a resposta. O treino e a conversa ajudam, mas é na partida que te diz tudo. Jogar com torcida, um adversário forte, a imprensa, tudo isso aumenta a tensão.
A ideia é defendida também por Luiz Carlos Winck, também ex-lateral colorado e treinador (sem clube):
— A partida é o teste de fogo. Ela define a personalidade do atleta. Vejo que a geração atual precisa disso, levar a carreira a sério, acreditar, treinar, ter ambição e motivação.
André Luiz, ex-zagueiro e ex-lateral do Inter, foi lançado ainda jovem, em um time que mais tarde seria campeão brasileiro invicto em 1979. Com passagem recente pelo Beira-Rio como auxiliar técnico de Guto Ferreira, cargo que exerce agora no Sport, vê uma vantagem na atual conjuntura.
— Odair conhece muito a categoria de base. Pude ver isso quando estive aí. Perguntávamos sobre um jogador, e ele sabia tudo. Então, com certeza, saberá o momento de usá-los — analisa.
Odair conhece muito a categoria de base. Pude ver isso quando estive aí. Perguntávamos sobre um jogador, e ele sabia tudo. Então, com certeza, saberá o momento de usá-los"
LUIZ CARLOS WINCK
Ex-lateral do Inter, hoje técnico de futebol
Outro aspecto que André Luiz leva em conta, além da convicção do técnico em aproveitar o jovem, é a conversa com o jogador. Ainda que acompanhar treino da base, misturá-los aos profissionais e dialogar com o treinador da categoria ajudem, é o jogo que dá a certeza da sequência.
— E é nessa hora que é preciso dar confiança. Quando um jovem chega em um time em que estou, encosto nele e digo: "Se te chamamos é porque estás bem na base. Agora, teu objetivo aqui é repetir o que fazias lá. Foi isso o que te trouxe aqui. Se tua característica é driblar, vai para o drible, se achar que tem que dar caneta, dá caneta, balãozinho, elástico. Se for chegar firme, chega firme. E não aceita cara feia. Não tenta mudar". Aconteceu comigo, acontece com todos. Tem de ter personalidade — finaliza.
Se personalidade é mesmo o mais importante, possivelmente não haverá oportunidade melhor do que enfrentar o vice-líder do Brasileirão, em casa, em um domingo à tarde para receber a chance. Até porque o time terá pela frente quase um turno inteiro para buscar os pontos que faltam. É um domingo para possíveis novidades no Beira-Rio.