Odair Hellmann é um forte. Se não bastasse toda a trajetória como jogador ou mesmo o fato de ter sobrevivido à tragédia com o ônibus da delegação do Brasil-Pel, em 2009, que vitimou o atacante Claudio Milar, ele se lançou à carreira de treinador como prata da casa — o que é sempre mais difícil —, e no pior momento da história do Inter: a Série B.
Já são 613 dias no comando do time, desde o interinato nas últimas rodadas da segunda divisão. Os títulos ainda não chegaram, é bem verdade, mas Odair ganhou nova força depois de eliminar o milionário e favorito Palmeiras na Copa do Brasil. Agora, mais um desafio se posta à frente do treinador colorado: o Gre-Nal.
O clássico ainda é uma fronteira a ser ultrapassada por Odair. Seu retrospecto como treinador em Gre-Nais não chega a ser um sucesso: 33,3% (duas vitórias, três empates e quatro derrotas, com quatro gols marcados e 11 sofridos). Nos três jogos contra o Grêmio em 2019, soma uma derrota e dois empates em 0 a 0, com a perda do título estadual nos pênaltis.
Ainda que o Gre-Nal 421 possa ser majoritariamente formado por reservas, quase reservas e neo titulares, devido às decisões da Libertadores que se avizinham para a Dupla, sobre Odair Hellmann parece pesar um ranço constante por parte da torcida. A cada revés, se dá início ao muxoxo, e o nome do técnico Abel Braga é permanentemente lembrado. Por isso, ganhar o Gre-Nal, mesmo que entre suplentes, é fundamental para a paz de Odair.
— Eu sofro a carga do cargo. Sou treinador do Inter e sou criticado e elogiado. Algumas eu respeito e concordo, outras não. Não leio, não escuto. Trabalho com eles (os jogadores) todos os dias, vou ter minhas convicções. Eu ouço, mas, no final, quem decide sou eu. Mas com convicção do dia a dia. Eu conseguir uma classificação daquelas, eu ia comemorar como? — comentou Odair Hellmann, após sua festa-desabafo junto à arquibancada, após passar pelo Palmeiras na Copa do Brasil. — Fui lá cantar com o torcedor mesmo, eles mereciam, a gente merecia também — acrescentou o treinador colorado.
Gosto muito do perfil do Odair como treinador. Ele não é só o "Papito" (apelido de Odair junto aos atletas), é um cara que é amigo do grupo, como tem de ser, mas também é o cara que cobra. Até porque é impossível comandar um gigante como o Inter sem cobrar
MURICY RAMALHO
Ex-técnico colorado e atual comentarista dos canais SporTV
Se ainda não conquistou títulos, Odair já possui um recorde no Inter: o da longevidade. Nas últimas quatro décadas, o ex-volante catarinense é o recordista como treinador do clube, com 20 meses de comando. Odair Hellmann já bateu nomes consagrados como Muricy Ramalho, Abel Braga, Tite e Celso Roth treinando o Inter. Antes dele, apenas Rubens Minelli, bicampeão brasileiro à frente do clube havia permanecido por mais tempo: quase três anos, de 1974 a 1976 (quadro abaixo).
— Gosto muito do perfil do Odair como treinador. Ele não é só o "Papito" (apelido de Odair junto aos atletas), é um cara que é amigo do grupo, como tem de ser, mas também é o cara que cobra. Até porque é impossível comandar um gigante como o Inter sem cobrar — diz o ex-técnico do Inter e atual comentarista dos canais SporTV, Muricy Ramalho.
Ainda que a Odair lhe faltem taças pelo Inter, Muricy acredita que breve elas chegarão. Chega a comparar o seu trabalho no clube em 2005, que rendeu frutos em 2006, com a conquista da Libertadores e do Mundial — já sob o comando de Abel Braga.
— O técnico marca quando ganha, mas, por vezes, está remontando o time. Se ele é bom para o time, quando começar a ganhar, decola. Não adianta ficar trocando de treinador, tem que ver se é bom para o time. Se é bom, tem que ficar, mesmo com alguns resultados ruins. E Odair prova que é bom treinador. Se precisar ir com reservas no clássico, que vá. O Flamengo não preservou (no Brasileirão), foi eliminado na Copa do Brasil, e perdeu o Arrascaeta, lesionado — ensina Muricy. — Pelo que vejo e ouço, conversando com pessoas ligadas ao clube, Marcelo (Medeiros) gosta muito do Odair. E tem confiança nele — finaliza o ex-Inter.
Neste sábado, Odair Hellmann terá a chance de vencer o seu terceiro Gre-Nal, e o segundo clássico na semana, devolvendo o Inter ao G-4 do Brasileirão. Mesmo sem todos os titulares.
A Era Hellmann no Inter
Números do treinador, a partir de sua efetivação, ao final de 2017
- 94 jogos
- 51 vitórias
- 22 empates
- 21 derrotas
- 126 gols marcados
- 69 gols sofridos
- 62% de aproveitamento
Técnicos com mais jogos no Inter
- Teté - 337 jogos
- Abel Braga - 322 jogos
- Cláudio Duarte - 306 jogos
- Dino Sani - 271 jogos
- Rubens Minelli - 225 jogos
- Celso Roth - 180 jogos
- Muricy Ramalho - 166 jogos
- Ênio Andrade e Tite - 109 jogos
Curiosidades sobre o treinador colorado
- Odair é o quarto técnico mais longevo do futebol brasileiro (Série A), atrás de Mano Menezes, Renato Portaluppi e Rogério Ceni
- Técnico mais longevo do Inter nas últimas quatro décadas: um ano e oito meses, superando a marca de Tite (um ano e quatro meses, nos anos 2000) e de Celso Roth (um ano e cinco meses, nos anos 90)
- Último técnico a ficar tanto tempo no Inter foi Rubens Minelli, de 1974 a 1976