O reinado de um Inter vitorioso tem diversos personagens significativos. De Clemer a Gabiru. Do cafezinho do seu Pernambuco ao presidente Fernando Carvalho. Mas, principalmente, a liderança de Fernandão. Rememorar épocas de glória no Beira-Rio é automaticamente incluir o camisa 9 nas lembranças. Não há como esquecer o discurso vigoroso do centroavante antes do confronto diante do Barcelona ou do retorno de Yokohama a Porto Alegre, quando o capitão fez coro aos mais de 50 mil colorados que lotavam o estádio em comemoração ao título Mundial. O legado deixado pelo atacante é imenso, seja dentro ou fora de campo.
Quatro atletas, que viveram momentos distintos com Fernandão, sabem bem disso. Iarley, Tinga, Rafael Sobis e Rodrigo Dourado cultuam o centroavante em pensamento, em atitudes e não cansam de ressaltar, com saudosismo, a importância do atacante em suas vidas e na história colorada.
— Logo quando cheguei no Inter, que conheci Fernandão, foi amor à primeira vista. As características já se bateram, a maneira de ver a vida. Ele tinha uma inteligência fora do comum. De primeira, já identifiquei que ele era o cara do grupo. Até uns dois ou três anos depois da morte, eu não conseguia falar dele. Mas hoje falo com muita alegria, muito prazer. A gente tem que dizer para as pessoas como ele era, a inteligência que ele tinha. Porque se não fosse o Fernandão, dificilmente tínhamos ganho os títulos que nós ganhamos. Ele nos conduziu a eles, a toda essa época vitoriosa do Inter — ressalta Iarley.
— Em termos esportivos, é o maior ídolo da história do clube. Ele foi o líder da grande virada do Internacional. Um clube que até 2006 tinha somente o nome de Internacional, mas não tinha conquista e respeito internacional. O legado desportivo é que ele participou dessa mudança, onde o clube Internacional saiu do patamar nacional e foi conhecido e respeitado internacionalmente — analisa Tinga, que fez parte da convivência do atacante durante um ano e meio.
Tinga e Sobis fizeram parte do grupo campeão da América em 2006 — o atacante também estava no bi em 2010. Iarley, além da Libertadores, foi campeão mundial pelo Inter. Já Dourado, teve sua primeira oportunidade no grupo profissional colorado dada pelo então técnico Fernandão.
Ele foi o líder da grande virada do Inter
TINGA
Campeão da Libertadores de 2006
— É uma história muito bacana, tenho muita gratidão por ele. Quando fiz meu primeiro gol, me marcou muito e naturalmente acabei lembrando do Fernandão. Por isso homenageei ele. Ele tinha confiado muito em mim, em 2012, no início. É marcante na minha vida — recorda o atual capitão colorado.
Mas não só de gratidão aos títulos da história recente colorada vive a memória afetiva ao eterno capitão do Inter. Fernandão era humilde. Figura simples, de coração enorme, que doava toda sua paixão e comprometimento em tudo o que tocava. Era, também, dono de um espírito encorajador.
— Ele deixou aquela coisa de a gente sempre acreditar. De nunca duvidar do que você quer, de lutar sempre por isso. Ele sempre disse: "Fernanda, as pessoas tem mania de colocar na sorte as coisas boas que acontecem na vida e eu não acredito em sorte. Eu acredito em trabalho". E eu acho que ele está certo. Sorte ok, mas ela só acompanha quem trabalha. Ele sempre pensava positivo. No Mundial, por exemplo, ele falou: "Estou indo e nós vamos ser campeões lá" — relembra a Fernanda, viúva de Fernandão.
— Procurei aprender muito quando ele chegou no Inter, eu era meninão. E essa amizade foi para fora do campo, convivia com ele, com a família. Foi um aprendizado maravilhoso, foi o cara que mais me ensinou. Eu digo para todo mundo que ele foi um pai para mim, já que sai de casa muito cedo. Aprendi bastante, ainda bem. Sempre que lembro dele, me emociono ainda — recorda o atacante Rafael Sobis, que atuou com o ídolo de 2004 a 2006, e deixou a entrevista chorando.
Nesta sexta-feira (7), o Inter entra em campo. Por coincidência, a primeira partida do Colorado em uma sexta-feira no ano de 2019 será justamente no dia do aniversário de morte do ídolo colorado. E Rafael Sobis estará na equipe titular, no lugar do peruano Paolo Guerrero — que representa sua seleção na Copa América. Quem sabe o camisa 23, contra o Vasco, não possa sair de São Januário presenteando Fernandão da maneira que ele mais amava: marcando gols e fazendo a alegria torcida colorada.