Na noite de 17 de dezembro, quando o Grupo A da Libertadores foi sorteado, imaginar um River Plate e Inter no Monumental de Núñez com o time de Odair Hellmann já classificado às oitavas, e como o campeão da chave, era algo improvável. Pois chegou o dia de colorados e "millonarios" se enfrentarem em Bueno Aires, nesta terça-feira (7), às 21h30min.
Ainda que o jogo não modifique a ordem interna do grupo, a pontuação final poderá dar o benefício de seguir decidindo em casa os mata-matas, a partir das quartas de final. Daí, a importância de se obter um bom resultado na Argentina. E o Inter que habla terá um desafio extra: este será o primeiro jogo do River na Libertadores com torcida em seu estádio. Até então, o clube estava cumprindo punição imposta pela Conmebol pelos incidentes da final do ano passado, contra o Boca Juniors — e que acabou levando a maior decisão da América do Sul para o Santiago Bernabéu.
Para isso, o Inter levará a Núñez para encarar o atual campeão da Libertadores o seu quinteto em espanhol: Andrés D'Alessandro, Paolo Guerrero, Martín Sarrafiore, Víctor Cuesta e Nico López. É possível que o filho da casa, D'Alessandro, seja a ausência física em campo. Pendurado com dois cartões amarelos (assim como Edenilson e Patrick), o camisa 10 corre sério risco de receber mais uma "tarjeta amarilla" e ficar fora do jogo de ida das oitavas, longe do Beira-Rio — um mata-mata que poderá ser até mesmo contra o River, uma vez que a Conmebol sorteará os confrontos cruzando os primeiros colocados contra os segundos, em sorteio.
Mas, mesmo que D'Alessandro não vá a campo, certamente será dele o discurso motivacional final, antes de o time ingressar na casa dos atuais campeões da América. Figura mais conhecida e mais respeitada do Inter junto ao River Plate, D'Alessandro fez uma das grandes partidas da sua carreira justamente no Monumental de Núñez, quando estava no San Lorenzo — eliminando o River da Libertadores de 2008.
— D'Alessandro será importante para o Inter em seu lugar de líder do time. Conhece o Monumental, o time, a torcida, e poderá oferecer dados importantes para seus colegas, o que certamente será um grande apoio aos mais jovens — aposta Sílvio Favale, repórter do diário Olé.
Para Favale, Víctor Cuesta, outro "local", e Guerrero são os jogadores que mais despertam a atenção na Argentina, depois de D'Alessandro.
— Cuesta conhece o futebol argentino e, sem dúvida, tem condições e experiência para poder fazer um bom trabalho na marcação a Lucas Pratto. Guerrero vai ter uma grande possibilidade: River terá uma defesa alternativa, e os zagueiros deverão ser reservas, o que pode facilitar a vida de Guerrero. Me parece que o peruano será a chave do jogo. Nico López é um importante complemento a Guerrero, não vai sentir o jogo, e poderá causar danos ao River. Já Sarrafiore surge como uma grande curiosidade para nós, argentinos, que o conhecemos pouco, mas sabemos se tratar de um jogador de muita velocidade e de perigosos chutes de fora da área — disse Sílvio Favale.
Caso o quinteto gringo colorado vá a campo em Núñez, o Inter terá igualado um recorde: atuar outra vez com cinco estrangeiros ao mesmo tempo na Libertadores. Em 2010, no 1 a 1 com o Deportivo Quito, contou com cinco não-brasileiros em campo: Pato Abbondanzieri, D'Alessandro e Guiñazu (argentinos), mais Sorondo e Bruno Silva (uruguaios) — além do uruguaio Jorge Fossati na casamata. Na Libertadores de 2015, foram quatro estrangeiros ao mesmo tempo no time do uruguaio Diego Aguirre: Aránguiz (chileno), Nico Freitas (uruguaio), D'Alessandro, Lisandro López e/ou Carlos Luque (argentinos).
Se D'Alessandro é o mentor de um Inter que busca voltar às grandes glórias, a Argentina começa a ver em Paolo Guerrero e em Nico López uma das principais duplas de ataque da Libertadores.
— Guerrero é a grande ameaça ao River. Enzo Francescoli (ex-diretor de futebol do River) adora Guerrero. Tentou contratá-lo inúmeras vezes, mas sempre foi um jogador muito caro para que o River conseguisse buscá-lo, e foi impossível. É um atacante da elite mundial. Nico López também interessou ao River, anos atrás, quando jogava pelo Nacional-URU, mas acabou parando no Inter. É um jogadoraço. E está formando uma dupla mortal com o Guerrero. Certamente o River terá muito cuidado com estes dois. E é certo que Sarrafiore, jogando em casa pela primeira vez como profissional, pode fazer a diferença, apesar de muito jovem — comenta Lucas Ajuria, setorista de River Plate na Rádio Zónica, de Buenos Aires.
— Já o regresso do D'Alessandro a Núñez será algo muito sentimental, ainda que ele não jogue. Está em seus últimos passos na carreira, haverá grande respeito a ele, pois sabemos que ele encontrou o seu lugar no mundo no Inter — completou Ajuria.
Para Alejandro Casar, repórter do jornal argentino La Nación, o jogo no Monumental de Núñez, com o campeão da Libertadores contando pela primeira vez com a sua torcida no estádio, é a partida ideal para que a equipe de Odair Hellmann avance às oitavas com uma confiança ainda maior.
— É um jogo para a estatística, é algo simbólico, mas com muito valor futebolístico. O River terá torcida e está outra vez em boa fase. Tem um time forte e o melhor treinador do continente. Creio que os argentinos do Inter serão fundamentais. D'Alessandro, mesmo que não comece ou que não atue, será importantíssimo nos bastidores. Cuesta está acostumado ao Monumental, é um zagueiro firme, e Sarrafiore estará se apresentando pela primeira vez em um dos maiores palcos de seu país. Me parece que o jogo passará por eles. E, claro, por Guerrero e Nico como os goleadores do time. É jogo para o Inter crescer na Libertadores, já projetando as oitavas - afirmou Casar.
Na semana mais dura do Inter na temporada, chegou a vez de encarar o River Plate. Flamengo e Palmeiras já ficaram para trás. E, depois de jogar contra o campeão da América, a equipe de Odair Hellmann terá pela frente o Cruzeiro. Semana entre gigantes.