Foi uma loucura completa. Os 97 minutos do clássico deste domingo ecoarão por décadas. O que aconteceu depois da partida, então, jamais sairá do imaginário dos torcedores vermelhos e azuis. Em campo, vitória nossa. Nos bastidores, choro deles. A combinação não é exatamente nova - aliás, é a que disparadamente mais acontece em gre-nais nesses 109 anos de disputa -, mas o elemento "liderança do Campeonato Brasileiro de pois de um ano de Bê" faz com que tudo pareça ainda mais intenso, mais forte, mais caótico.
A atmosfera criada para a partida era uma que poucas vezes se viu antes de um clássico gaúcho. Raras foram as vezes em que Inter e Grêmio se apresentaram para o confronto fortalecidos, engrandecidos, vivendo boa fase. Alguém quebrou a gangorra. Estamos, ambos, em boas fases. Eles são, como todo mundo já cansou de escutar, o Melhor Time do Brasil, o Melhor Futebol da América, o Melhor Time da História do Rio Grande do Sul.
Nós, apesar de não contar com bajulação alguma, chegamos como os surpreendentes líderes do Brasileirão, um time organizado, brigador, aguerrido, que desenvolveu uma incomparável simbiose entre arquibancada e campo. Dois adversários valorosos entraram no tapetístico gramado do Gigante sob o sol do domingo.
Para fazer justiça aos acontecimentos do domingo, dando-lhes o devido valor e dimensão, dividi este texto em pequenos capítulos. Cada um com a sua relevância, cada um destrinchando um momento específico que ajudou a construir a maior vitória do Sport Club Internacional em 2018 até aqui.
1. O Povo do Inter
A vermelhidão que toma conta do Beira-Rio em tardes como a de domingo é algo incomparável, indescritível. Ouvir a força da torcida colorada emociona qualquer um que tenha o menor apreço pelo esporte futebol. Quarenta mil ensandecidas vozes não mais cantavam, e sim berravam para fortalecer aqueles onze de vermelho em campo. Se nas arquibancadas havia alguém de azul, não ouvi.
Nessa temporada especial, onde estamos voltando a ver em campo um time vencedor, a torcida virou elemento importante e decisivo na campanha até aqui impecável que fazemos em casa. Está lindo de ver. Está emocionante de ouvir. Está jogando muito, o povo do Inter.
2. A sabedoria do Papito
Tu não querias que o Uendel começasse jogando. Eu não queria que Uendel começasse jogando. Odair Hellmann quis. Conhecedor do elenco que tem e do esporte futebol que disputa, Papito colocou a experiência do camisa 6 em campo. Descartou a possibilidade de passar o Zeca para a esquerda e sair com Fabiano na direita. Resultado: Uendel colocou com perfeição a bola do jogo na cabeça de Edenílson (como veremos no próximo capítulo).
Papito sabe muito. Eu e tu não sabemos de nada. O homem perdeu só um jogo nos últimos 20. O cara está nos deixando sonhar com um título que não ganhamos há 39 anos. Daqui para frente, e cada vez mais, o que ele fizer eu vou aplaudir.
3. A testa do Edenílson
Edenílson é o dono do meio de campo do Inter. É o jogador que traz equilíbrio e consistência ao Colorado desde antes da chegada do Odair. Faz muito, muito tempo que o nosso camisa 8 consegue manter regularidade e um alto padrão de apresentações. Agora com as parcerias qualificadas de um Dourado que recuperou o seu melhor jogo e de um monstro chamado Patrick, Edenílson confirma que é mesmo o Zidane negro.
No domingo, ele dominou a bola no meio de campo (sua sala de estar). Pressionado pela marcação de Luan, achou Patrick mais à frente. O camisa 88 dividia com Geromel enquanto Edenílson corria pelo centro. Antecipando a jogada, avançou sozinho em direção ao gol do Grêmio. Luan, que antes o marcava, não teve a mesma leitura do lance e ficou estático.
A bola dividida por Patrick e o capitão gremista sobrou para Uendel, aberto na esquerda, na localização perfeita para um lateral e fazendo a única coisa que um lateral precisa saber fazer: cruzar para a área. O levantamento preciso achou um Edenílson que já erguia os braços, desesperado para sinalizar a sua solidão aos seus companheiros.
O encontro da bola com a testa do volante não poderia ter sido mais preciso. O desvio direcionou a redonda para o chão antes de encontrar a bochecha esquerda do gol do placar. Explosão no Beira-Rio.
4. Confusão e chororô
Ainda comemorávamos os três pontos conquistados quando a reportagem da Gaúcha entrava no ar para informar da confusão no túnel de acesso aos vestiários. As imagens do rebuliço mostram muito mais gente do que eu imagino ser saudável para aquele espaço. Empurra-empurra, gritaria, treinador deles tentando entrar no nosso vestiário... tudo errado. Todos errados.
Pior do que a cena patética do pós-jogo foi a entrevista do maior ídolo da história do Grêmio. Renato foi aos microfones protagonizar a coletiva mais inacreditável que eu já escutei na minha vida. Nem vale a pena transcrever aqui os trechos da cômica fala para não dar mais espaço a besteiras. Se tu tens estômago (ou precisa dar algumas boas risadas nessa tarde), clique aqui para conferir.
E assim seguimos...
Vencemos o Grêmio mais uma vez. Assumimos a liderança mais uma vez. O ano é tão bom, a fase é tão maravilhosa que eu só consigo sorrir nessa segunda-feira. Os pontos conquistados contra o nosso maior rival serão decisivos ao final do Campeonato Brasileiro. Lá em dezembro, quando (ojalá) estivermos nos aproximando da taça, vamos lembrar que só chegamos à pontuação que chegamos por conta desses três pontos, por causa do gigantesco Gre-Nal 417 que vimos, vivemos e vencemos.
Esse foi o Gre-Nal mais importante da história do Sport Club Internacional.
Seguimos fortes.