Já passava das 23h, no amplo hall que antecede o vestiário do Beira-Rio, quando a grande surpresa do Inter no ano apontou no corredor que serve de zona mista para a imprensa após a vitória sobre o São José.
Os cerca de 30 metros de pista até o batalhão de repórteres que o aguardava foram percorridos a passos lentos, quase cerimoniais. Antes de alcançar os microfones, Patrick ainda deu uma ajeitada no bigode, desenhou as pontas como um elegante atendente de saloon dos filmes de Western e passou a mão na cabeça, cuidadosamente raspada, mais por estilo do que por necessidade.
Logo na primeira resposta, apresentou as suas credenciais. Foi questionado sobre ser o 12° jogador de Odair Hellmann, e disparou:
— Não, sou o 11°. Estava entre os 11. Vim para o Inter ser titular.
Patrick e William Pottker foram os destaques da goleada do Inter sobre o São José. Se o janeiro colorado havia sido de futebol arrastado, o fevereiro começou com um jogo bem mais promissor. Pottker foi o nome do jogo, mas Patrick foi a grande surpresa. Agora titular, se ele mantiver o mesmo nível de atuação desta semana, o Inter terá obtido um pequeno feito. Afinal, encontrar livre no mercado um meia cuja movimentação em campo lembra Tinga e Alex, nos bons tempos de Beira-Rio — e que foi contratado muito pela sua capacidade de desarmar adversários, tendo sido um dos principais ladrões de bola do último Brasileirão —, não é todo o dia. Por ironia, enquanto o Inter tentava com repetidos insucessos contratar o volante Rithely ao Sport, foi justamente o seu rival de posição em Recife quem assumiu vaga na nova equipe colorada.
Garimpado por um Inter com severos problemas de investimento, Patrick estava no Sport, entre a lateral esquerda e o meio-campo, até ficar sem contrato com o clube porque os pernambucanos não pagaram ao Monte Azul pelos direitos econômicos do jogador. No Inter, Patrick assinou por duas temporadas, com parte dos direitos fixados na casa dos R$ 5 milhões.
— Patrick não é volante. É um meio-campo. Volante é o Rodrigo Dourado — sentenciou Odair Hellmann.
Em sua primeira grande chance como titular, Patrick fez o que Camilo (o primeiro titular de Odair no ano) nunca conseguiu: fazer o ataque jogar e, sobretudo, atuar dentro da área do adversário.
— Me adaptei rápido ao trabalho de toque de bola do Odair. E acho que esta adaptação vem dos treinamentos. Sou um camaleão, me adapto a tudo — disse Patrick.
Questionar a "posição" na qual algum jogador atua na dupla Gre-Nal não é um esporte novo. O canhoto Patrick, de cara tem a resposta:
Sou meio-campo. Se precisar, vou para a lateral, mas a minha posição é o futebol.
PATRICK
Jogador do Inter
— Sou meio-campo. Se precisar, vou para a lateral, mas a minha posição é o futebol.
Pois o guri da Rua Wilson, no bairro de Olaria, na zona norte do Rio de Janeiro, deixou o treino da manhã de sexta-feira no CT Parque Gigante e voou para casa. No Rio, estaria ao lado da mulher, Fernanda, sua namorada desde os tempos dos torneios no areião em Olaria. O motivo? Acompanhar o nascimento do primeiro filho do casal, João Patrick.
— O João vai nascer agora, preciso estar por perto. Também gosto de voltar ao Rio para rever os amigos, nunca esqueço das minhas raízes — avisou o camisa 88.
Ativo nas redes sociais, Patrick costuma utilizar a sua conta no Twitter (@patrickChoco92) para comemorar as vitórias do Inter e para se defender. Quando o seu suposto sobrepeso ao se apresentar para o Inter virou comentário na cidade, Patrick republicou uma foto de suas férias. À beira-mar, com uma rocha como pano de fundo, e de bermudas ao lado de Fernanda, ele aparecia com o abdômen bem definido e com a tatuagem de um rosário acima do mamilo direito. Nas hashtags, a resposta a quem disse que ele estava fora de forma: #faladorpassamal, #invejamata, #ficadica e #gordo.
— É sempre bom chegar e dizer que a gente não está aqui só para escutar. Tem de haver o respeito. Foram tirar um sarro e eu dei a resposta, só isso — respondeu Patrick.
O Inter dos desejos de Odair Hellmann tem no quarteto Patrick, D'Alessandro, Pottker e Damião uma comissão de frente que conseguiu pela primeira vez na temporada dar equilíbrio entre ataque e defesa. E o responsável por isso é Patrick, o "meio-campo" elogiado pelo treinador e, no momento, peça única no elenco colorado.
— Patrick dá o equilíbrio. Se eu usar o Marcinho ali, por exemplo, vamos ter de buscar o equilíbrio em outro setor, com uma linha de trás — analisou o treinador colorado.
De repente, em sua primeira chance como titular por 90 minutos, Patrick deixou a desconfiança sobre o seu futebol de lado e assumiu um inusitado protagonismo no Inter, e se tornou um símbolo de esperança para a torcida.
— O que eu faço é tentar pegar um pouco de cada jogador qualificado da posição e tento colocar em prática, evoluir com isso. Se estou jogando de meia, não posso só tocar de lado. Tenho de passar, fazer cruzamentos. Se estou de lateral, tenho de defender bem e atacar. Estudo cada posição — contou Patrick, o surpreendente 11° jogador de Odair Hellmann.