A Copa São Paulo de Futebol Júnior, que começa hoje com quatro jogos, teve a última conquista gaúcha há exatos 20 anos. Uma geração que contou com um campeão mundial e o atual técnico do time principal levou o Inter a surpreender o país e levantar o troféu mais cobiçado entre a gurizada em 1998, superando equipes importantes, como o Cruzeiro e o Santos, batendo a Ponte Preta na decisão.
Além do Inter, os outros gaúchos que disputaram a Copa São Paulo daquele ano foram o Caxias, o Juventude (comandado por Mano Menezes) e o Grêmio, do técnico Tonho Gil e de um certo Ronaldo de Assis Moreira dando seus primeiros passos com a bola.
A equipe colorada era treinada por Guto Ferreira e contava com jogadores que depois vestiram a camisa do grupo profissional até com alguma frequência, como o volante Claiton, o zagueiro Ronaldo, o atacante Fábio Pinto, o meia Diogo Rincón e outros. O craque daquele campeonato foi o centroavante Manoel, que recém havia chegado do Ituano. Mas daquela geração, o jogador que mais deu certo acabou sendo o zagueiro Lúcio, que, quatro anos depois daquela volta olímpica no Morumbi, comemorou o pentacampeonato mundial da Seleção Brasileira como titular do técnico Luiz Felipe Scolari na Copa de 2002. Além desses, a direção decidiu descer o volante Odair do time principal para o júnior, como forma de liderar a equipe e ganhar ritmo de jogo.
– Fui convocado para a seleção sub-20, então me subiram para o profissional. Depois, voltei para a base para aquela Copinha. Tínhamos uma equipe muito forte, e aquele torneio marcou a reestruturação das categorias menores do Inter – recorda o atual técnico colorado.
A caminhada colorada começou em 4 de janeiro, com uma vitória de 2 a 0 sobre o Rio de Janeiro, clube presidido por Zico, gols de Manoel e Fábio Pinto. Na segunda rodada, o time de Guto Ferreira perdeu por 1 a 0 para o Guarulhos. Para se classificar, precisava vencer a Portuguesa, na última partida da fase de grupos. Manoel, o centroavante, marcou duas vezes – o segundo nos acréscimos – e levou o time adiante.
Nas oitavas de final, o desafio foi contra o Santos, que tinha Gustavo Neri na lateral esquerda e Adiel como camisa 10. Novamente, um gol de Manoel nos últimos minutos garantiu a classificação colorada. Nas quartas, a Desportiva Ferroviária, do Espírito Santo, obrigou o Inter a jogar uma tensa prorrogação. Fábio Pinto fez 1 a 0, os capixabas empataram e, aos 12 do segundo tempo da prorrogação, Donizete marcou o gol da vitória.
A semifinal foi o jogo mais dramático. O adversário era o Cruzeiro de Fábio Júnior e Geovani, que jogou até no Barcelona depois. Manoel fez 2 a 0 no primeiro tempo. O Cruzeiro buscou o empate. Nova vantagem gaúcha, de novo Manoel. A poucos minutos do fim da segunda etapa, 3 a 3. Na prorrogação, Donizete fez 4 a 3 para o Inter. Os mineiros mais uma vez igualaram. E Scott, o centroavante que deveria ser o titular, mas, lesionado, viu Manoel brilhar marcou o gol da vitória aos 12 minutos do segundo tempo da prorrogação.
– Este jogo foi sensacional, mostrou toda a qualidade que tínhamos. Fizemos um primeiro tempo perfeito, mas o Cruzeiro era muito bom e empatou. Mesmo assim lutamos e conseguimos o resultado. É uma bela lembrança – comenta Odair.
A decisão foi contra a Ponte Preta de Luiz Fabiano e companhia no Morumbi, preliminar de São Paulo x Combinado Santos-Flamengo, reestreia de Raí pelo tricolor paulista. Naquele 25 de janeiro de 2018, Guto Ferreira não teve Odair, Marcelo Xavier e André Gheller, todos suspensos. Depois de um 0 a 0 no tempo normal, o lateral-esquerdo reserva Mineiro fez 1 a 0, mas Tiago empatou para a equipe de Campinas. Desta vez não teve gol nos últimos minutos, e a disputa foi para os pênaltis. João Gabriel defendeu um pênalti, a Ponte ainda errou outro, e a cobrança perfeita de Manoel explodiu a festa da gurizada colorada.
– Aquele título mudou a nossa vida. Tanto que na volta para o RS, nove dos nossos jogadores tiveram as férias canceladas e se juntaram ao profissional. Hoje há mais torneios voltados para a base, mas na época a Copa São Paulo era o campeonato que mais importava – recorda Claiton, o polivalente lateral-volante-meia daquele time, hoje técnico do São Paulo-RG.
Goleador do campeonato, Manoel também falou, em entrevista a GaúchaZH, sobre a conquista:
– Fico feliz pela minha carreira, mas poderia ter ido mais longe no Inter, feito uma carreira melhor no clube. Peguei uma fase muito boa do Christian, que era jogador de Seleção. Daí, o espaço ficou reduzido.
Aquele foi o quarto título colorado na Copa São Paulo. Antes, o Inter havia vencido em 1974, em 1978 e em 1980.
A campanha do Inter
1ª Fase
4/1 – Inter 2x0 Rio de Janeiro (Manoel e Fábio Pinto)
7/1 – Inter 0x1 Guarulhos
11/1 – Inter 2x1 Portuguesa (Manoel 2x)
Oitavas de final
14/1 – Inter 1x0 Santos (Manoel)
Quartas de final
18/1 – Inter 1x0 Desportiva (Fábio Pinto)
Semifinal
21/1/1998 – Inter 5x4 Cruzeiro (Manoel (3), Donizete, Scott)
Final
25/1 – Inter 1 (4)x(3) 1 Ponte Preta (Mineiro)
Principais jogadores
João Gabriel – goleiro, jogou profissionalmente no Inter e depois no Mogi Mirim.
Jardel – lateral-direito, pouco figurou na equipe de cima.
Barão – lateral-direito, foi do time principal do Inter, passou pelo Sport e pelo 15 de Campo Bom.
Lúcio – zagueiro, depois de ser o destaque do Inter, foi para a Alemanha, onde jogou por Bayer Leverkusen e Bayern de Munique, antes de ir para a Inter de Milão, na Itália. Campeão da Liga dos Campeões e do Mundial de Clubes, conquistou também a Copa do Mundo de 2002 com a Seleção. Ainda joga profissionalmente, assinou contrato com o Gama.
Ronaldo – zagueiro, foi profissional do Inter nos anos 2000.
Marcelo Xavier – lateral-esquerdo promessa na base, pouco atuou no profissional.
Mineiro – volante e lateral, teve poucas chances no profissional.
André Gheller – depois do Inter, foi para o Criciúma e depois passou por equipes do interior gaúcho.
Juca – o "sobrinho de Carpegiani" passou por Botafogo, Fluminense e atuou fora do Brasil, no La Coruña, da Espanha, e no Partizan, da Sérvia.
Odair – depois do Inter, foi para o Fluminense, jogou fora do país e terminou a carreira após o acidente com o ônibus do Brasil-Pel. É o atual técnico do time principal do Inter.
Gustavo – meia, foi titular na campanha da Copa SP, mas pouco jogou no profissional.
Alex – originalmente meia, atuou também na lateral no time profissional do Inter.
Diogo Rincón – meia de força e finalização, jogou no time principal do Inter e foi vendido para o Dínamo de Kiev-UCR. Voltou ao Brasil para jogar no Corinthians. Enfrentou o alcoolismo e encerrou a carreira em 2012.
Fábio Pinto – uma das maiores promessas da base do Inter, foi pouco aproveitado. Passou pelo Oviedo-ESP e pelo Galatasaray-TUR. Estava no time do Grêmio rebaixado em 2004. Rodou por São Caetano, Coritiba, Cruzeiro e Guarani. Terminou a carreira no Pakhtakor, do Uzbequistão.
Manoel – craque do time na Copa São Paulo, foi negociado para o PSV. Voltou ao Inter, mas não rendeu o esperado. Foi para o Vitória-BA e depois viajou para Portugal, passando por Vitória de Guimarães, Gil Vicente, Moreirense, Sporting e Belenenses. Ainda atuou na China, na Bulgária e no Bahrein.
Donizete – seguiu atuando na base colorada e teve raras oportunidades no time principal.
Scott – chegou a atuar pelo profissional do Inter, depois circulou: Remo, Madureira, Widad (Arábia Saudita), Guarani-VA.