O ex-jogador Dorinho, Oldorelino Nunes Leal para os mais íntimos, completará 70 anos em junho, quase 50 dedicados ao Inter. Olheiro do clube, o professor de Educação Física aposentado, ex-colega de Felipão no IPA, descobriu recentemente Valdívia e Artur, treinou Argel na base e encontrou a maioridade num Gre-Nal nos anos 1960. Ele vestiu a camisa vermelha entre 1964 e 1974.
Leia a seguir um resumo da conversa com Dorinho.
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Argel Fucks, técnico do Inter, classificou os guris do Inter de homens. Jovens trabalhados nas categorias de base dos clubes ganham a maioridade mais cedo?
Conheço o Argel. O treinei nas categorias de base do Inter no começo dos anos 1990. Ele sempre foi um líder, o que puxava a fila nos treinos e falava no vestiário. Brigava pelos colegas, conversava com o treinador sobre questões táticas e portava-se como um verdadeiro capitão. O Argel estava à frente dos colegas quando jovem. Mas é preciso diferenciar o futebol da vida real. Um jogo tem 90 minutos, a vida tem mais.
Pode explicar, Dorinho?
Com uma boa formação nas categorias de base, e o Inter cuida muito bem dos garotos, o clube pode formar bons atletas. Eles estarão prontos para o jogo depois de três, quatro anos, de lapidação, o que não quer dizer que eles estarão bem encaminhados para a vida fora do futebol. Longe das chuteiras a história é outra. É como um filho. Aos 18 anos, ele fará o vestibular. O resultado ninguém sabe antecipadamente. A gurizada colorada se conhece, fez pré-temporada, joga junta. Farão sucesso.
E se não fizerem?
Sou contra o Gre-Nal como balizador da vida de um atleta local. Eles precisam de mais oportunidades, outras partidas importantes. Sei, lógico, que quem se destaca no clássico tem muito futuro no futebol gaúcho.
Você, que estreou num Gre-Nal aos 17 anos, passou por uma experiência semelhante àquela que os jovens colorados enfrentarão neste domingo na Arena. Pode explicar?
É muito parecida. Eu só tinha 17 anos quando na estreia com a camisa do Inter. Sou um dos três jogadores que mais vestiu a camisa colorada. Eu era um guri de Livramento, não conhecia muito bem o Inter, Porto Alegre, a realidade do futebol. Não é como hoje, quando a TV exibe todos os jogos e o futebol tem espaço nas 24 horas do dia. Sinceramente, quando pisei no Olímpico, não sabia do peso de um Gre-Nal. Era do Interior. Só fui entender depois.
Como você foi no clássico de estreia, em 1964?
Bem, ganhamos, marquei um gol. Entrei em campo sabendo que seria o jogo da minha vida. O Gre-Nal pode liquidar a carreira de um jovem. A responsabilidade é imensa. O treinador precisa conhecer muito bem o menino antes de confirmar a sua escalação. O guri precisa ter tranquilidade, calma e acertar as primeiras jogadas. Quando a confiança chega, tudo fica mais fácil, a bola parece obedecer mais, porém não são todos que conseguem. O Gre-Nal sepultou carreiras promissoras.
É mais fácil ganhar lugar na dupla Gre-Nal hoje ou no seu tempo?
São momentos completamente diferentes. Na minha época, o clássico era tudo, a partida do ano. Eu precisava atuar bem, me destacar, aparecer para conseguir renovar o contrato, que durava apenas um ano. Não havia Brasileirão ou Libertadores. O Gauchão era Copa do Mundo.
Os jogadores gaúchos sentem mais o clássico do que os que chegam de fora do Estado?
Sim, muito mais. A pressão é bem maior com quem é local. Quem nasce no Rio Grande do Sul e se aventura no futebol, que busca uma carreira, é pressionado desde cedo, já nas escolinhas por pai, mão, tio, a família inteira, colega, treinador. Antes de alcançar os profissionais, ele disputa uma infinidade de clássicos e aprende na derrota e na vitória.
O que um Gre-Nal decisivo significa para um jovem atleta?
Uma vida inteira, quase uma carreira. Nem todos têm uma segunda chance. Eu me formei num Gre-Nal.
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