Sanguíneo. Essa era a característica que a diretoria do Inter dizia procurar no seu próximo técnico, após cometer a insanidade de demitir Diego Aguirre. Difícil era saber quais eram as concepções de futebol que o clube queria no novo comandante.
Confusão que ficou ainda maior depois da tentativa, sem sucesso, de trazer Jorge Sampaoli. Do ultra-ofensivo arquiteto da seleção chilena campeã da Copa América, o Inter passou ao treinador que chegou dizendo, entre outros absurdos, que o 4-2-3-1 era um sistema "faceiro". Além da disposição de prorizar a consistência defensiva do time, em sentido contrário ao de Sampaoli, Argel mostrava desconhecimento em sua apresentação. Ignorava que um esquema tático nada diz sobre a postura do time em campo. Teria se esquecido da Inter de Milão de Mourinho, organizada no 4-2-3-1 e célebre pela retranca nas semifinais e final da Liga dos Campeões de 2010?
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Seguiram-se meses de discursos vazios a cada entrevista coletiva. Quando era questionado sobre seu time, Argel desfilava conceitos genéricos. Dizia querer um time competitivo, que soubesse atacar e defender, que tivesse equilíbrio. E, de acordo com o "perfil" traçado pela diretoria ao contratá-lo, queria que seu time lutasse muito pelos resultados. Ao menos nesse quesito, teve sucesso. Viu crescer a intensidade, o que garantiu alguns bons resultados a despeito da desorganização.
Os primeiros movimentos de 2016 indicavam medidas para corrigir problemas graves do time. Com a movimentação e passe preciso de Fernando Bob, esperava arrumar a combalida saída de bola. Os lados do campo, com a ajuda de laterais apoiadores, seriam uma arma ofensiva para combater o isolamento dos homens de frente. A intenção era diminuir a dependência das jogadas individuais de peças como Vitinho, líder da arrancada na segunda metade do Brasileirão de 2015.
Só que as soluções foram parciais e não atacavam a matriz de todos os problemas do Inter: falta de identidade. Ninguém sabe dizer quais são as principais qualidades e defeitos do time. A cada jogo, elas mudam. No máximo podemos elogiar o espírito de luta, como se viu diante de Juventude e Grêmio. É difícil bater esse Inter em grandes jogos, quando guerreia e, às vezes, compensa o gigantesco déficit na formação do time com força anímica. Mas só às vezes.
Agora, com a sequência de maus resultados, já surgem rumores de que Argel pode ser fritado. Longe de mim ser seu defensor, mas, se a direção pensa mesmo em tirá-lo do cargo, só mostrará seu despreparo. No ano passado, o Inter procurou um técnico sanguíneo. E só. Era esse o pré-requisito. Alguns meses depois, Argel entregou exatamente o que a direção procurava. O Inter é a imagem do seu técnico: sanguíneo. Falta "só" jogar futebol.
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