A vida encaminhou Renato para o futebol e nele Portaluppi tornou-se o maior jogador e um dos treinadores mais consagrados da história do Grêmio. Só que antes de calçar chuteiras, ainda na infância, sua função em Bento Gonçalves era botar a mão na massa e entregar pães pela cidade.
Foi daí que surgiu seu apreço pela confeitaria, o que anos depois lhe aproximaria do Seu Zé, o chef confeiteiro do hotel Deville, onde o treinador morou em suas passagens como treinador gremista.
— Por isso ele sabe quando o pão é novo, quando o produto é bom. Diz que ninguém vai enganar ele, daquele jeito que vocês conhecem — brinca José Antônio Lorenci Nunes, Seu Zé, autor das receitas preferidas de Renato no hotel.
São raros os casos de pessoas que moram em um hotel. Renato, ao contrário, sempre preferiu este modo de vida em Porto Alegre pela privacidade e pela facilidade para ir ao aeroporto e embarcar ao Rio de Janeiro, sua base, quando era necessário.
Sozinho, com apenas eventuais visitas de familiares e amigos em seu quarto, criou uma relação de amizade com os funcionários. Isso ficou claro quando fez questão de citá-los, dando ênfase para dois, em seu texto de despedida do Grêmio na semana passada. Além do já mencionado Seu Zé, o outro foi André Machado, o gerente do hotel.
— Renato é uma figura fantástica. Um cara simples, que cativou e ajudou todos por aqui — comenta André.
Para evitar alvoroços em ambientes públicos, as refeições de Renato eram feitas no CT Luiz Carvalho ou no hotel. E é aí que entra o papel do confeiteiro Zé, que sempre usou de sua habilidade de misturar sabores para garantir lanches ou sobremesas desejadas por Portaluppi.
Os doces preferidos de Renato
Mil folhas, torta de bolacha e grostoli (ou cueca virada). Não necessariamente nesta ordem, esta é a lista dos doces preferidos de Renato na cozinha do hotel. Mas com um detalhe. Ao contrário do gol marcado no Gre-Nal das faixas, em 1984, quando invadiu a área pela ponta direita e encobriu o goleiro colorado Gilmar, nas comidas açucaradas Portaluppi não gosta de cobertura de chocolate.
— Começou com mil folhas. Mil folhas, mil folhas e mil folhas. Era tudo de mil folhas. Aí, daqui a pouco, enjoou do mil folhas e passou para a torta de bolacha. Mas ele queria uma torta de bolacha diferente, porque ele não gosta de chocolate e de creme. Então eu fiz um creme de doce de leite, que ficou sensacional. E essa torta agora foi fixada no nosso cardápio — explica o chef confeiteiro.
O grostoli, tradicional doce italiano, era feito na hora da refeição de Renato, quando o antigo homem-gol gremista queria recordar suas origens na Serra. Houve também um surpreendente pedido de um petit gateau sem o brownie de chocolate, mas com uma bola de doce de leite, prontamente atendido por Zé.
— A gente mimou bastante ele — revela.
Resenha fora da cozinha
Chef confeiteiro do hotel Deville desde 2012, Zé acostumou-se com a presença de famosos no hotel. Foi dele a autoria do bolo de aniversário de 27 anos de Lionel Messi, completados quando a seleção Argentina estava em Porto Alegre para enfrentar a Nigéria na fase de grupos da Copa do Mundo, em 2014.
Serviu também a seleção do Uruguai na Copa América de 2019 e atendeu um curioso pedido do roqueiro Roger Waters um ano antes: uma torta toda vermelha.
A amizade com Renato foi além pela presença constante do treinador em sua cozinha. Zé ficou até constrangido de responder que era torcedor do Inter, embora este fato nunca tenha atrapalhado sua relação com o ídolo gremista e os demais jogadores que frequentam o hotel durante a concentração.
— Ele brinca, tira sarro, corneta depois de Gre-Nal. Mas tudo na boa, respeitando o espaço de cada um — destaca.
O fato é que Portaluppi tornou-se um amigo para compartilhar assuntos fora da rotina do futebol ou da cozinha, tratando os funcionários do hotel praticamente como seus familiares.
— O Renato fez parte da nossa vida aqui. E sempre nos tratou como um irmão da família. E aí cria um vínculo mais afetivo, né? De a gente estar mais junto, da gente conversar assuntos que muitas vezes fogem da rotina dele, fogem da minha — conclui o chef.
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