Sílvio Vargas é funcionário do Grêmio desde 1972. Por 42 anos, sua vida foi ir de casa para o Olímpico, do Olímpico para casa. Porém, por mais que tenha se envolvido na realização de centenas de partidas do Velho Casarão, jamais assistiu a uma completa.
Mas como explicar que alguém que trabalhou por mais de quatro décadas no Olímpico jamais acompanhou um jogo completo do Grêmio no estádio? Ossos do ofício.
— Eu fazia parte da comissão de organização e fiscalização dos jogos, não tinha como ver. Era portaria, roleta que trancava ou alguém sem carteira. Então, estava sempre resolvendo um problema — recordou Vargas, que recebeu Zero Hora no pátio do antigo local de trabalho.
— Por vezes, acontecia algo dentro do estádio, dava para dar uma olhada rápida. As referências eram os barulhos da arquibancada. Às vezes eu só ficava sabendo do resultado depois, perguntando para alguém — complementou.
Vargas, 77 anos, chegou ao Tricolor para ser segurança. Passou pela portaria, departamento de futebol e Conselho Deliberativo até se tornar o encarregado pela manutenção. Função que exerceu no Olímpico até 2014, e agora é executada nos centros de treinamento — Luiz Carvalho (profissional), Hélio Dourado (categoria de base), Cristal (escolhinhas) e Ulbra (time feminino). O Grêmio é sua segunda casa — ou até a primeira.
— Dá para dizer que é a primeira casa. Eu era sempre o primeiro a chegar e o último a sair. Às vezes até dormia por aqui quando a operação encerrava tarde — disse.
Vargas deixou seu gabinete no Olímpico há 10 anos, mas ainda sente falta do antigo local de trabalho.
— Aqui no Olímpico a gente era uma família, algo diferente de hoje. Estávamos sempre com os jogadores, tomando chimarrão ou realizando refeições. Tenho amizade boa com vários que passaram por aqui — comentou.
Houve vezes até que, no piloto automático, o encarregado pela manutenção se atrapalhou e dirigiu até o velho estádio, e não ao CT. Embora o Grêmio esteja organizando o Olímpico para a festa de aniversário para a festa do dia 28 de setembro, ele lamenta ver o estádio em ruínas.
— É um momento de tristeza. Nunca imaginei ver o Olímpico assim. Ele tinha vida. Pulsava. Mas mudou completamente. Agora só tem destruição. Sinceramente, eu gostaria que um dia a gente pudesse voltar para cá — concluiu.