Duas dezenas de instituições se reuniram na Arena do Grêmio, em Porto Alegre, para estender a mão aos mais atingidos pela enchente de maio. No coração da zona norte da Capital, uma das áreas mais afetadas, foram mais de 2 mil pessoas atendidas entre a quinta-feira (6) e a tarde deste sábado (8), último dia da ação.
O foco do mutirão social foi facilitar o acesso a serviços sociais para moradores dos bairros Humaitá, Anchieta e Farrapos. Ao subir pelas rampas da esplanada do estádio, os cidadãos passavam por uma triagem para identificação de demandas e, na sequência, eram acompanhados por militares do Exército Brasileiro até um verdadeiro corredor humanitário, montado com mesas e barracas no setor onde ficam os bares da Arena.
No local, era possível solicitar a confecção de documentos, conseguir donativos, atendimentos de saúde, entre outros auxílios. De acordo com a organização da iniciativa, os serviços mais procurados foram do Instituto Geral de Perícias (IGP), para confecção de carteiras de identidade, de distribuição de cobertores e de atendimentos para pets — foram cerca de mil animais recebidos, para serviços como vacinação, vermifugação, consultas e doação de ração, cama e coleira, além de microchipagem de gatos.
Houve quem chegou em busca de consulta médica e já saiu com o remédio no bolso, de forma gratuita. Foi o caso do casal de aposentados Maria Salete Fernandes, 65 anos, e Valmor Schmitiz, 70, moradores do bairro Humaitá que ficaram sem o amparo do posto de saúde, inundado pela cheia do Guaíba.
— Não poderíamos ser melhores atendidos do que fomos aqui. Me ataquei por conta desse cheiro. Então, ouvi a orientação da minha filha e vim aqui. Ela me falou que o atendimento estava sendo rápido — comentou Maria Salete, que reclamou do forte cheiro de podridão que domina a região norte da Capital mesmo após o recuo da enchente.
O mutirão no estádio gremista foi mais um pequeno passo para o recomeço. A serviços gerais Sandra de Oliveira, 38 anos, é moradora da Ilha Grande dos Marinhos, em Porto Alegre, e está sem casa e trabalho. Abrigada na casa de um amigo, ela perdeu todos os móveis e viu a creche onde trabalha, na Ilha, ser inutilizada pelas águas.
Sandra foi até a Arena do Grêmio em busca de uma nova certidão de nascimento. Ela também aproveitou para levar cobertores. Ao comentar sobre a situação que enfrenta, não conseguiu evitar as lagrimas.
— Eu perdi tudo. Não tem como não chorar. Na verdade, eu queria ter uma condição melhor para ajudar os outros. Estou com saudade do meu trabalho, das crianças da creche. A Ilha está como uma praia, tomada de areia. É uma situação bem difícil — descreveu Sandra, que também afirmou que procuraria vacina antitetânica no local.
O mutirão social foi um braço da Operação Taquari 2, coordenada pelo Comando Militar do Sul. Participaram da iniciativa o Ministério Público, o Ministério da Saúde, a Defensoria Pública da União e do Estado, a Receita Federal, o IGP, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Grupo de Resposta à Animais em Desastres, a prefeitura de Porto Alegre, o Conselho Tutelar, a Unicef, a Organização das Nações Unidas (ONU), a Organização Internacional para as Migrações, a Secretaria Estadual de Desenvolvimento Social, o Tribunal de Justiça do Estado, a Marinha, o Exército e a Força Aérea Brasileira. Para auxiliar os órgãos oficiais, havia também o trabalho de voluntários.
Ainda não há confirmação sobre a possibilidade de repetição desse tipo de ação na Arena. Conforme o coordenador-geral do mutirão, o coronel Jomane Cordeiro, do Exército Brasileiro, demandas de outros lugares, como do bairro Sarandi, em Porto Alegre, e da cidade de Eldorado do Sul, também precisam ser atendidas para que a necessidade e a viabilidade de um novo mutirão desse tipo seja discutido.