A semana deveria ter Grêmio x Estudiantes pela Libertadores. No melhor cenário, a Arena estaria completamente lotada, na expectativa do reencontro tricolor com o adversário que lhe devolveu a vida na competição. Possivelmente, valeria até encaminhar uma vaga às oitavas de final. Mas o que se vê no bairro Farrapos, onde se impõe a casa gremista, é água quase na altura das paradas de ônibus, lixo boiando, pedaços de madeira. Em vez daquela multidão caminhando, barulhenta e esperançosa, as ruas têm barcos, ruídos de motor e desolação.
Do Viaduto José Eduardo Utzig, onde a reportagem de Zero Hora subiu em uma embarcação de resgatistas na Zona Norte, à Arena, não há qualquer trecho em que a água não esteja com pelo menos 1m50cm de altura. Uma centena de carros está parcial ou totalmente submersa. Um deles, inclusive, parece boiar, na Rua Frederico Mentz.
É nela que, ao fundo, enxerga-se o letreiro "Arena do Grêmio". Passando pelas placas de trânsito que estão lado a lado com os barcos, é possível "navegar" até a entrada do setor oeste. Os bares, sempre tão cheios, pintados com as três cores, estão com janelas quebradas, por onde se vê geladeiras, garrafas e móveis inundados.
É esse o cenário da frente principal do estádio. A esplanada, é claro, tem pontos acima da água. A alça de acesso à Rodovia do Parque (BR-448) serve para alguns resgatistas usarem como ponto de apoio aos barcos. O estacionamento, localizado em uma espécie de subsolo, está completamente submerso. A água avançou também pelo primeiro andar.
Havia pelo menos 80cm de lâmina d'água em cima do gramado. Vestiários, zona mista e o almoxarifado ficaram inundados. Outras estruturas foram removidas às pressas e estão no estádio, em pontos mais altos. Se não correm risco de alagar, preocupam pela criminalidade. O estádio sofreu com saques. Foram registrados furtos na loja e também na hamburgueria. A administração reforçou a segurança para evitar prejuízos ainda maiores.
Nem o clube nem a Arena conseguiram iniciar os cálculos das perdas. Só depois que a água baixar será possível medir o tamanho do estrago. O Grêmio terá de incluir também o CT Luiz Carvalho, que fica do outro lado da estrada, e o CT Hélio Dourado, em Eldorado do Sul, além das escolinhas, no Bairro Cristal, todos afetados pelas enchentes.
É improvável que o time tenha condições de usar a Arena nos próximos três meses. Há um temor, no clube, de que não seja possível jogar no estádio em 2024.
Alguns funcionários do Grêmio passaram por situações dramáticas. São 48 os atingidos diretamente, que perderam a maior parte de seus bens (ou tudo mesmo, em alguns casos). Uma campanha de ajuda está sendo espalhada pelas redes sociais.
O som dos passos, da cantoria, dos vendedores ambulantes, dos guardadores de carro ainda vai demorar para ser ouvido. Por enquanto, é só água, remos, motores de barco, pessoas e animais resgatados. Um cenário desolador em vez da caminhada confiante rumo à arquibancada.