O fôlego dos jogadores do Grêmio será parte fundamental em uma temporada com cinco competições à vista. Além de um calendário que poderá chegar aos 80 jogos, a pré-temporada iniciada apenas 11 dias antes da estreia será mais um desafio.
Em entrevista para GZH, o preparador físico Réverson Pimentel, 42 anos, reconheceu que o time não estará nas condições ideais nas primeiras rodadas do Gauchão, mas que o grupo vai estar pronto após 30 dias de trabalho. Confira a entrevista abaixo.
Já teve a experiência de comandar uma pré-temporada tão curta?
Sabemos que teremos um jogo com 10 dias de pré-temporada. Mas digo que ela continuará. A carga de trabalho ainda estará aumentando. Teremos os cuidados individuais. Estaremos tratando cada caso com muito cuidado. É impossível condicionar um time de futebol em 10 dias. É impossível. Os clubes do Interior terão, no mínimo, 60 dias. Quando falamos do cenário ideal, o mínimo é 30 dias. Estaremos iniciando uma base para ter o mínimo de condição de iniciar o campeonato.
Qual é o maior risco: falta de performance ou lesões?
Uma coisa está ligada a outra. A falta de performance causa a lesão. Por isso, teremos esses cuidados. Temos que elevar muito a carga nesse início. Como teremos jogos em sequência, podem acontecer lesões. É isso que tentaremos minimizar. Tentar ter cautela e individualizar o trabalho com alguns atletas, mas entregar para o dia 20 o máximo de jogadores em condições.
Como se monitora os atletas neste período?
É jogador a jogador. O Renato está acompanhando. Com tudo que aconteceu com os exames, ganhamos mais tempo de trabalho. A parceria com o Hospital Moinhos de Vento ajudou bastante. Mas é pouco tempo. Como o Brasileirão atrasou o final, isso prejudicou o nosso tempo de pré-temporada. Seriam alguns dias a mais. Isso faz muita diferença. Municiamos o Renato diariamente de informações de quais atletas estão se condicionando mais rápido, não estão sentindo, para que ele possa utilizar o que temos de melhor.
Pela diferença de tempo de preparação, o Grêmio sofrerá no início do Gauchão?
Nesse início de temporada, o torcedor precisará ter paciência. Criaremos o alicerce para quatro competições. Logicamente, quando avaliar fisicamente, os clubes do Interior estarão melhor. Vamos fazer de tudo e trabalhar muito para termos condições de apresentar um bom futebol. Mas precisamos ter paciência. Vocês não verão o Grêmio que terminou o Brasileirão no dia 21. O que nos ajuda é termos mantido uma base, conhecem a nossa linha de trabalho. Mas isso não nos fará estarmos bem fisicamente na estreia. Peço essa paciência. O trabalho continua e teremos um grande ano.
Depois de quanto tempo para ver o time bem fisicamente?
Nossa ideia é mesmo com os jogos do Gauchão, termos amistosos para quem não vem jogando. Vamos rodar o grupo para termos a carga de jogos. Acredito que a partir da quarta ou quinta rodada do Estadual, já teremos uma equipe muito mais competitiva, com lastro de jogos e treinamentos para competirmos de igual para igual.
Como enxerga o teu trabalho no Grêmio nessas três temporadas?
Passei por vários momentos nestes três anos, e muito aprendizado. Cheguei em Grêmio em 2021 com uma semana para trabalhar e ter a responsabilidade de disputar o campeonato. Fomos campeões estaduais, mas caímos naquele ano. Mesmo assim, construímos coisas boas em termos de processo no clube. Jogar a Série B pelo Grêmio foi de pressão muito grande. E ano passado, no terceiro ano, vejo uma validação de tudo que construímos. De um profissional mais experiente, que conhece os atalhos no clube e que tem a confiança do Renato e de toda a comissão técnica. A responsabilidade aumenta em 2024, com a Libertadores como grande desafio.
Geromel terá atenção especial?
Sempre tem atenção especial. Kannemann também. Jogadores que passaram dos 30, 31, 32 anos, ganham uma atenção especial. O Geromel pelos poucos jogos que fez ano passado, temos que respeitar a idade e a questão física. Fazer o que mais ele utiliza no jogo. Gastar a energia dele apenas com o que é necessário para ele utilizar na partida.
Os atletas que chegaram ano passado parecem ter sofridos mais lesões do que os que já estavam no clube. Realmente foi isso?
O ritmo de jogo, o calendário e o formato de trabalho, toda a troca de metodologia de trabalho acaba provocando mais lesões nos atletas. Não foi apenas com os jogadores que chegaram no meio da temporada. Os atletas que vieram da Europa ou de fora no início do ano também tiveram algumas dificuldades. Faz parte da adaptação. A adaptação ao calendário, aos campos e as viagens tudo isso muda. O atleta passar pela pré-temporada e terminar o ano no clube é um privilégio. O João Pedro, o Ely, o Lucas Besozzi vão colher muitas coisas boas esse ano.
A ideia é conseguir minimizar esses problemas físicos com a pré-temporada?
Estamos criando o alicerce agora. Eles estão se entregando. Explicamos como tudo será feito e o porquê. Chamei os atletas individualmente e ressaltei a importância desse momento. Todos estão cientes. A entrega de todos está muito grande. É bonito de ver.
Como você enxerga a preparação física do Grêmio em comparação com os outros clubes do Brasil?
Quando falamos em preparação, a primeira coisa que temos que ver são as características de cada atleta. Pega o Palmeiras, por exemplo. É continuidade e o tempo de trabalho juntos deles. Ano passado, vieram muitos jogadores com poucos jogos em 2022 ou com alguma patologia. Isso também prejudica até você os adaptar e intensificar. O Grêmio dá todo o suporte que os outros clubes dão, mas é algo individual do jogador. Lesionar não quer dizer que está mal condicionado. Entregamos um trabalho de qualidade. Teve clube com muito mais estrutura física e investimentos tecnológicos que ficou atrás da gente no Brasileirão. Com menos, conseguimos entregar pela qualidade dos nossos profissionais.
A pré-temporada é dividida de qual forma?
A nossa metodologia está toda estruturada nos 30 dias, com os treinos todos montados. Mas lidamos com seres humanos e com coisas que não controlamos, com a temperatura, por exemplo. A cada sessão de treinamento nós avaliamos e vemos aonde podemos chegar na próxima atividade. Ao fim de cada dia, vemos o que podemos fazer. Pode ter alguma mudança, mas está toda planejada junto aos outros departamentos.
Uma competição como a Libertadores altera alguma coisa que será trabalhada da pré-temporada?
A Libertadores exige muito da questão física. É um campeonato de força. Para aguentar a sequência de jogos, com a Libertadores e os demais campeonatos paralelos, preciso estar em dia com a parte de força. Está sendo cobrado dentro dos treinos. A ordem é competir. É um campeonato de duelos individuais. Teve um trabalho de marcação individual, que precisava correr, não podia desistir. Correr em cima do cansaço. A Libertadores exige isso.
Como lapidar o Nathan Fernandes para 2024?
Quando o atleta consegue fazer a pré-temporada no profissional, com toda a estrutura que temos, com os trabalhos individualizados e uma carga muito mais alta de trabalho do que na base, o jovem renderá mais durante o ano. Estamos trabalhando com o Nathan. Veio e sentiu a sequência de jogos em alguns momentos. Estamos o preparando para que ele não sinta isso. Como ano passado não fez a pré-temporada, descia e subia, perde um pouco a metodologia. São intensidades diferentes nos jogos de base para o profissional.