Depois de 10 meses de oportunidades, o Grêmio ainda espera que uma de suas apostas uruguaias dê a resposta esperada. Destaque do Nacional com Luis Suárez no ano passado e eleito melhor jogador da última edição do campeonato, Felipe Carballo ainda não apresentou sua melhor versão no futebol brasileiro.
O uruguaio de 27 anos, que teve 80% dos direitos econômicos comprados por US$ 3 milhões, completou no último Gre-Nal seu 33ª jogo no Brasil. Conhecido em seu país como um volante capaz de atacar e defender com a mesma naturalidade, o jogador ainda patina para se afirmar como opção no esquema de Renato Portaluppi.
— Tenho visto várias partidas do Grêmio. Teve algumas dificuldades físicas. Isso o afetou. Creio também que a Felipe os inícios o custam. É um jovem discreto, de perfil introvertido. Muito voltado para a família. Ainda não é a melhor versão dele, mas que vocês a verão futuramente — comentou Juan Pablo Romero, repórter do El Pais.
As dificuldades recentes no Tricolor custaram até vaga entre os convocados por Marcelo Bielsa para a seleção uruguaia. Após fazer parte da relação para as duas primeiras rodadas das Eliminatórias para a Copa do Mundo, Carballo não foi chamado desta vez e permaneceu em Porto Alegre.
Na última terça-feira (10), no CT Luiz Carvalho, o jogador aproveitou a pausa para a data Fifa e deu sequência ao tratamento para lidar com as dores causadas por uma pubalgia. É algo que faz parte da rotina do jogador desde a reta final do Gauchão. A avaliação no clube é de que o desconforto causado pelo problema é um dos motivos para o desempenho abaixo do ideal, entre outros fatores.
Segundo fontes consultadas por GZH, que trabalham com o meio-campista, parte das dificuldades também passa pela própria personalidade de Carballo. Nascido e criado em Montevidéu, o volante apresentou problemas em sua experiência anterior fora do país. Comprado pelo Sevilla em 2017, o camisa 20 gremista decepcionou em sua passagem pela Europa. Não foi utilizado uma única vez na equipe principal e disputou apenas 33 jogos pelo Sevilla B em dois anos. Apesar da companhia de Suárez no clube, o volante ainda não conseguiu se adaptar ao estilo diferente de jogo por aqui.
— No Brasil, há transições muito rápidas. É ataque e ataque. Te obriga a soltar a bola rapidamente. Sou um jogador que dita o ritmo, que gosta de dar uma pausa no jogo. Estou demorando a me adaptar a essa mudança — disse o jogador em entrevista para Rádio Sport 890.
Técnico de Carballo no Nacional em 2019, Álvaro Gutierrez entende que seu ex-comandado tem as ferramentas necessárias para render bem no Brasil. Acompanhando pela TV algumas partidas do Grêmio, o treinador vê margem de crescimento do atleta:
— Ele é um jogador muito dinâmico, que tem chute de fora da área. Que toma boas decisões e é um volante de ida e volta. Não é totalmente um criador, mas também não é apenas um marcador. É um grande profissional. Creio que ele ainda não está demonstrando tudo que pode. Ainda não rendeu seu máximo. Ele precisa jogar bem aí, pois ele é um grande jogador.
O posicionamento diferente em relação aos tempos de Nacional, fator que o estafe do jogador vê como razão para algumas das dificuldades, também é apontado como razão para essas dificuldades de adaptação. Segundo Gutiérrez, a utilização do meio-campista era diferente sob sua gestão do que ele vê agora com Renato Portaluppi no Grêmio.
— No Nacional, jogava com três volantes. Um deles mais centralizado e o Carballo mais pelo lado direito. Mas nunca tão pelo lado — finalizou.
Com contrato com o Grêmio até o fim de 2026, o uruguaio terá a chance de jogar em sua função mais natural na retomada do Brasileirão, no dia 18. Sem Villasanti, que retorna da seleção paraguaia, o camisa 8 poderá atuar ao lado de Pepê contra o Athletico-PR.