O Vasco da Gama receberá o Grêmio, no domingo (6), em São Januário, vivendo uma de suas maiores crises em 124 anos de história. Ainda que tenha sido rebaixado quatro vezes para a Série B, o clube faz em 2023 sua pior campanha no Campeonato Brasileiro. Com 16 jogos disputados, o Cruz-Maltino conquistou apenas duas vitórias e soma somente nove pontos, com um aproveitamento de 18%. Tudo isso acontece em uma temporada que iniciou com os torcedores empolgados pela transformação do clube em SAF e pelos mais de R$ 100 milhões investidos em reforços.
A empresa americana 777 Partners desembarcou no Rio de Janeiro no ano passado para assumir o comando do futebol vascaíno prometendo um investimento próximo dos R$ 700 milhões ao longo de três anos. A chegada foi ainda durante a Série B. Apesar disso, o Vasco sofreu para confirmar seu acesso como quarto colocado.
— Foi gerada uma grande expectativa sobre a SAF entre os torcedores. A 777 assumiu o futebol na Série B ainda sem ter o investimento, e o acesso veio sofrido na penúltima rodada contra o Ituano. Era esperado que aquilo marcasse o fim do sofrimento. O Paulo Bracks, executivo contratado pela SAF, deu uma coletiva logo após a partida dizendo que o Vasco nunca mais iria cair, que isso havia mudado. A própria SAF, então, gerou essa expectativa — contextualiza Tiago Brandão, do NCB Vasco, site especializado na cobertura da equipe carioca.
A promessa está longe de ser cumprida. O ano do Vasco começou com uma campanha irregular no Carioca, quando foi eliminado na semifinal com duas derrotas para o Flamengo. Na Copa do Brasil, a queda para o ABC aconteceu logo na segunda fase, dentro de São Januário. O clube foi o único da Série A a cair antes da terceira fase do torneio.
O mau início de temporada era um prenúncio do que estava por vir. O Vasco até arrancou bem no Brasileirão com uma surpreendente vitória de 2 a 1 sobre o Atlético-MG, no Mineirão. Depois, uma sequência de 10 partidas sem somar três pontos decretou o fim da passagem de Maurício Barbieri por São Januário. O treinador foi demitido após a derrota para o Goiás, pela 11ª rodada, quando a equipe tinha apenas seis pontos e ocupava a penúltima posição no Brasileirão.
A diretoria encontrou dificuldades para achar o substituto de Barbieri. Foram 18 dias até o anúncio de Ramón Díaz. No período, o time disputou três partidas pelo Brasileirão e perdeu para Botafogo e Cruzeiro e, com o interino William de Almeida, conquistou sua segunda vitória na competição.
— O problema é que o investimento foi alto para os nomes contratados. Os jogadores acabaram supervalorizados porque o Vasco tinha esse aporte da SAF. São jogadores que não entregaram o que se esperava, além de uma montagem desequilibrada de elenco. O Vasco investiu muito em algumas posições e faltou em outras. Além disso, o clube passou 18 dias sem treinador durante a janela de transferências, o que atrapalhou o processo. O Léo Cittadini, por exemplo, não quis vir porque não sabia quem iria comandar o Vasco — explica Brandão.
Com o currículo repleto de títulos, incluindo uma Libertadores e seis Campeonatos Argentinos pelo River Plate, clube no qual é considerado um dos maiores técnicos da história, Ramón Díaz ainda busca sua primeira vitória pelo Vasco. Até o momento foram duas partidas, com derrotas para o Athletico-PR, por 2 a 0, em São Januário, e 3 a 1 para o Corinthians, em Itaquera.
Além da experiência de Díaz, o Vasco aposta em uma nova leva de reforços para tentar escapar do rebaixamento. O clube fechou nesta semana com o atacante Rossi, que já esteve no clube e também defendeu o Inter, como o nono reforço para o segundo semestre. Além dele também chegaram o zagueiro Maicon, o lateral-esquerdo Jefferson, os meio-campistas Medel, Praxedes e Paulinho e os atacantes Serginho, Sebastian Ferreira e Pablo Vegetti.
Lanterna e com apenas nove pontos conquistados, a projeção atual indica que o Vasco precisará fazer, pelo menos, mais 27 pontos para evitar o rebaixamento, o triplo do que fez em seus primeiros 16 jogos — a equipe tem um jogo a menos em relação à maioria dos participantes do Brasileirão. Por isso, o confronto com o Grêmio é tratado como a primeira das 22 decisões que o clube terá até o final da competição.