Na série de quatro vitórias e atuações consistentes do Grêmio nas últimas semanas, o técnico Renato Portaluppi tem se destacado por fazer modificações na equipe sem alterar o esquema 3-4-3. O time gremista tem por vezes sido um time que procura estar mais com a bola e busca envolver o adversário com triangulações.
Em outros momentos, a proposta é se compactar na defesa, fechar os espaços para o rival e contragolpear em velocidade. Essas trocas estratégicas têm sido fundamentais para a equipe manter sua consistência e alcançar resultados positivos em diferentes cenários.
Recuperando algo que foi feito em 2013 — sua segunda passagem como técnico do clube — Renato voltou a formar o Grêmio com três zagueiros diante do ABC, fora de casa, pela Copa do Brasil, no início de abril. O jogo exigia maior proteção defensiva às bolas aéreas, além da disposição ao contra-ataque.
Sem contar com Luis Suárez, a opção do treinador foi colocar Bruno Uvini no time titular, e a vitória por 2 a 0 foi construída no segundo tempo. O gol de Villasanti, que abriu o placar, é oriundo de uma recuperação de bola no campo de defesa e uma migração rápida ao ataque.
A nova tentativa, no entanto, não teve êxito. Contra o Palmeiras, em São Paulo, mais uma vez sem contar com Suárez, a formação foi completamente envolvida pela velocidade do time de Abel Ferreira, seja na troca de passes em progressão ou no mano a mano, e foi derrotada por 4 a 1. O gol de Bitello foi único brilho gremista na noite.
— O jogo do Palmeiras foi trágico, mas a ideia estava lá. Depois veio o segundo momento, com vitórias épicas, e o Cuiabano de novidade. Mas aí são vitórias sem a posse, sem o domínio do jogo, algo que não é sustentável. Poderá funcionar em alguns jogos, fora de casa, contra equipes melhores — analisou Sérgio Xavier Filho, comentarista do SporTV.
Quatro vitórias em quatro jogos
O jogo virou, porém, a partir do Gre-Nal — e desta vez com Luis Suárez em campo. Supreendentemente, Renato voltou a escalar o time no 3-4-3, após os empates contra Fortaleza e Cruzeiro no 4-2-3-1, e o Tricolor venceu o clássico por 3 a 1.
Neste jogo, o zagueiro Kannemann teve liberdade para marcar em zonas mais avançadas do campo, ajudando na retomada da posse antes mesmo de o Inter chegar ao ataque. Além disso, o trio ofensivo formado por Bitello, Cristaldo e Suárez esteve próximo para tabelas na fase ofensiva e também colaborou na recomposição.
A partir da expulsão do defensor argentino, aos sete minutos do segundo tempo, o time se reorganizou em duas linhas de quatro, com Suárez isolado no ataque, e encaixou um jogo reativo para marcar o terceiro gol.
Dez minutos depois, Everton Galdino substituiu Cristaldo, e o time não só conseguiu ter sustentação defensiva com um jogador a menos como ainda conseguiu marcar o terceiro gol em um contra-ataque. Na sequência, Cuiabano, lateral de origem, entrou no jogo como ponta esquerda e plantou uma dúvida na cabeça do treinador para os jogos que viriam.
— É uma forma de jogar mais realista, dentro daquilo que é o Brasileirão para o Grêmio. Não é o time mais técnico, com os jogadores mais poderosos, que gasta mais. Então é natural que seja impossível sair de peito aberto para jogar em todas as partidas — afirmou Rodrigo Coutinho, também analista do SporTV.
No jogo seguinte — a vitória fora de casa sobre o Athletico-PR — Renato preservou seis titulares e, entre as novidades, escalou Cuiabano como o atacante pelo lado esquerdo. Essa alteração teve como objetivo explorar as características do jogador, de força e velocidade, para reagir às investidas do time da casa e se adaptar ao rápido jogo no gramado sintético.
A proposta deu certo. Cuiabano terminou o jogo como autor de um dos gols da vitória por 2 a 1 e outras duas conclusões ao gol de Bento. O desempenho também lhe garantiu presença na equipe titular na partida decisiva diante do Cruzeiro, pela Copa do Brasil, vencida por 1 a 0. Desta vez, porém, o jogador só não terminou um jogo com uma assistência pois o gol de Bitello foi anulado após intervenção da arbitragem de vídeo.
Para o jogo seguinte, a vitória sobre o São Paulo no último domingo (4), na Arena, foi a vez de Cristaldo voltar ao time, após duas partidas no banco, demonstrando a vontade do treinador em adaptar a equipe de acordo com o adversário e buscar vantagens táticas.
A presença do argentino proporcionou uma alternativa de jogo com mais trocas de passes para envolver o rival paulista sem comprometer a identidade e o estilo de jogo do Grêmio. No segundo tempo, o time baixou as linhas e sustentou o placar de 2 a 1.
— Contra o São Paulo, foi resgatada a ideia inicial do meio-campo dominante e juntando a ideia dos três zagueiros. Deu muito certo, com um primeiro tempo de excelência. E recuperando uma questão dos zagueiros caçadores, com o Kannemann — destacou Sérgio Xavier Filho.
— Renato foi muito bem ao mexer na última linha, pois automaticamente se projeta melhor e não perde a caracterítica de posse, quando é possível ter posse. Esse comportamento possibilita que os caras do ataque, mesmo que em menor número, possam jogar mais — comentou Coutinho.
Renato Portaluppi não definiu esta formação como definitiva, mas a tendência é de que ela tenha sequência pelo menos até a abertura da janela de transferências, em 3 de julho.
— O que eu preciso são os homens de velocidade. E aí, dependendo do resultado, do adversário, do local do jogo, do que eu tenho em mãos, a gente pode mudar o esquema durante uma partida, iniciar de uma outra forma. O importante é o adversário não saber como o Grêmio vai estar, pois daqui a pouco eles começam a nos marcar melhor. Por isso é importante ter opções de jogo — comentou o técnico.
O Grêmio enfrenta o Flamengo no próximo domingo (11), às 18h30min, pelo Brasileirão. Para o jogo no Maracanã, o lateral-esquerdo Reinaldo está suspenso pelo terceiro cartão amarelo. Se mantiver a ideia de um jogo reativo fora de casa, Renato Portaluppi pode escalar Diogo Barbosa como substituto, e Cuiabano na linha ofensiva.