Pouco antes de a bola rolar para Caxias e Grêmio, jogo de ida da final do Gauchão, o atacante gremista Ferreira compartilhou em seu Instagram a imagem de um palpite em um site de apostas. Um usuário não identificado apostou R$ 500 que o Tricolor venceria o time da Serra, o que daria R$ 900 caso o resultado se confirmasse. Lesionado, o jogador estava ausente da partida, mas a divulgação do palpite gerou debates sobre essa ação, por ter sido de um atleta do clube para o qual presta serviços. Uma regra da Fifa proíbe apostas esportivas de jogadores de futebol, bem como a CBF.
Na noite desta segunda-feira (3), o Grêmio emitiu nota informando que está "tomando todas as providências necessárias e que irá emitir um comunicado formal aos atletas e comissões técnicas, de todas as categorias, sobre uma nova norma do clube nas relações com a modalidade de apostas." O Tricolor também se comprometeu em manter um amplo controle interno.
Conforme a Esportes da Sorte, casa que registrou o palpite, a aposta não foi feita por Ferreira. GZH teve acesso às imagens que comprovam o titular da conta. A postagem foi uma peça de marketing. Em nota, o site afirmou que a postagem tinha a intenção de divulgar a decisão do Gauchão. Uma manifestação similar foi feita pelo staff de Ferreira, também afirmando que o conteúdo era uma peça publicitária.
A Fifa prevê multa de "pelo menos 100 mil francos suíços" (R$ 550 mil) e banimento do futebol por até três anos para jogadores, árbitros e dirigentes que fizerem apostas em jogos de futebol. A publicidade de casas de apostas, no entanto, é permitida no Brasil, apesar do debate sobre a ética desse tipo de ação. Inglaterra e Espanha, por exemplo, resolveram o problema tornando ilegal essa prática.
Segundo o Regulamento Geral de Competições da CBF, um item do artigo 65 fala sobre a proibição de um atleta de apostar. Um outro item afirma que será considerado "conduta ilícita" o fato de: "instruir, encorajar ou facilitar qualquer outra pessoa a apostar em partida de futebol da qual esteja participando ou possa exercer influência". O RGC da Federação Gaúcha tem um item similar.
Para o presidente do Instituto Brasileiro do Jogo Responsável (IBJR), André Gelfi, a postagem é delicada, gera questionamentos quanto ao potencial conflito de interesses entre jogador e patrocinador.
— De qualquer forma, é mais um sintoma da falta de regulamentação do setor — finalizou.
A atividade das casas de aposta é legal no Brasil, mas ainda não foi regulamentada no Congresso. Por isso, não há lei brasileira que proíba o que o atacante do Grêmio fez. No âmbito esportivo, no entanto, segundo advogados ouvidos por GZH, há margem para que a publicidade feita por ele possa gerar alguma sanção por parte da CBF caso a ação de marketing seja entendida como ato para encorajar alguém a apostar.
Comunicado Esportes da Sorte
"A postagem de Ferreira fez parte de uma ação para divulgar a Final do Gauchão. O atleta recebeu o print da aposta através da nossa equipe e postou nas redes sociais. Assim como Ferreira, outros influenciadores realizaram postagens para essa ação"
Comunicado oficial Grêmio
"O Grêmio FBPA, no intuito de preservar a transparência de seus processos, dos valores éticos e morais preconizados por essa instituição, informa que está tomando todas as providências necessárias sobre o episódio envolvendo o atleta Ferreira e a patrocinadora do Clube, Esportes da Sorte, divulgada em rede social do jogador no último sábado.
O Grêmio, em consonância com as regras estabelecidas pelas organizações mundiais do futebol, no que tange à proibição de apostas esportivas e eventuais punições, como as regulamentadas pela FIFA, passa a emitir a partir desta segunda-feira, 03, comunicado formal aos atletas e comissões técnicas, de todas as categorias, sobre nova norma que irá vigorar no Clube nas relações de seus profissionais com essa modalidade de entretenimento.
Por fim, o Grêmio se compromete a manter a lisura do jogo e um amplo controle interno para que nenhuma prática possa se configurar em desrespeito ou descumprimento às normas vigentes."