Maicon rescindiu seu contrato com o Grêmio em 8 de setembro de 2021. Desde então, porém, a forma como o ex-volante deixou a Arena foi relatada em várias versões e ainda desperta dúvida dos torcedores.
No Rio de Janeiro, em entrevista exclusiva à Rádio Gaúcha, o capitão gremista no título da Copa do Brasil de 2016 deu a sua versão sobre a rescisão do contrato, afirmando ter saído do clube por ter sido "chato" nas cobranças aos dirigentes.
Marcos Herrmann, um dos vice-presidentes da época, afirmou em agosto que a decisão foi tomada em comum acordo. E que Maicon fez parte do processo.
Na entrevista, o volante revelou a ideia de um jogo de encerramento de carreira organizado pelo Grêmio e projetou o futuro como dirigente do clube. Confira:
O que você anda fazendo? Como está a vida após a aposentadoria?
Estou jogando futevôlei, disputando uma peladinha, levando e buscando as filhas na escola e curtindo em casa a vida de pai e de ex-jogador aposentado. Estou aproveitando um pouco a vida, fazendo viagens e passeios quando possível para poder descansar e curtir.
Qual o seu plano de carreira a partir de agora no futebol? Você se imaginava mais como treinador, como diretor-executivo de futebol ou em outra função?
Eu estava fazendo o curso de treinador da CBF, mas acabei desistindo no primeiro dia. Não é uma coisa que vai se enquadrar comigo. Viagens, concentrações, lidar com um grupo de 30 a 35 jogadores... Meu pensamento é diferente. Acho que vou migrar para outra função. Vamos ver o que vai aparecer.
Você se imagina como um executivo ou com um cargo de gestão no Grêmio?
Pelo tempo que eu joguei no Grêmio, com conquistas e legado que deixei especialmente com as pessoas que trabalham no clube, pudemos fazer muitas coisas. Sem dúvidas, se eu tiver oportunidade de trabalhar no Grêmio, será um prazer enorme. Sei da minha capacidade e do que tenho condições de fazer. Mas tem de ser no tempo certo. Se eu puder ajudar na base ou no profissional, vou procurar fazer o meu melhor para sempre fazer coisas boas para o Grêmio.
Você foi procurado pelos candidatos à presidência do Grêmio, Alberto Guerra e Odorico Román? Se sim, eles te convidaram para fazer o quê? E o que você respondeu?
Fui procurado pelos dois. Principalmente para fazer um jogo de despedida. Já trabalhei com o doutor Odorico e com o Guerra. Eles me conhecem, sabem o que eu penso e que eu falo olho no olho. Eles reconhecem, como a maioria, que a minha saída não foi como deveria ter sido e me convidaram para fazer um jogo de despedida. Torço pra que isso aconteça.
Como foram as conversas?
Odorico me perguntou o que eu gostaria de fazer no próximo ano. Passei uma situação que o presidente Romildo já tinha me convidado a fazer, mas as coisas não aconteceram. Se tiver que acontecer, acontecerá. Sou uma pessoa bem resolvida. Eles já sabem que, se me convidarem para fazer alguma coisa, que seja algo que eu possa ajudar e com autonomia. Para ajudar e não por ficar. Quero ir pra trabalhar, ajudar e fazer o Grêmio crescer cada vez mais.
Que convite foi esse que o presidente Romildo te fez?
Pouco antes da final da Copa do Brasil (em fevereiro de 2021), o presidente me convidou para ser tipo um coordenador, olhando a categoria de base, para ver os moleques que estão se destacando e poder passar para o profissional. Seria para fazer o meio de campo entre jogadores, treinador e diretoria. Infelizmente, isso não aconteceu devido à situação que o clube passou ano passado. Mas não tem problema. Se tiver que acontecer, pode ser daqui a um, 10 ou 15 anos. Vou estar sempre à disposição para conversar e ajudar.
Mas então você falou apenas sobre o jogo de despedida? Não há compromisso com nenhuma das chapas para assumir algum outro cargo?
Não. Foi mais o jogo de despedida. E, como falei, o Dr. Odorico perguntou o que eu gostava e pensava para o próximo ano. Foi essa situação que eu passei para ele. Mas vamos ver. O mais importante é o Grêmio voltar à Série A. E que quem ganhar possa ajudar a fazer o Grêmio grande como sempre foi.
Por que você saiu do Grêmio? Foi um comum acordo ou uma decisão unilateral da diretoria?
Foi uma decisão da diretoria. Eles entenderam que era hora de me mandar embora porque eu era o chato da história. Eu cobrava, pois eu sempre queria o melhor para o clube. Eu era o chato porque falava a verdade para o presidente ou quem quer que fosse. O presidente fez uma história bonita e está terminando nessa "merda" que está agora. O final da história que será contada é que foi rebaixado. Eu cobrava e algumas pessoas se incomodavam. Saía que eu ganhava R$ 700 mil ou R$ 800 mil, mas de todos os jogadores ali eu era o mais barato. Esse não era o problema. O problema é que eu incomodava, porque eu queria o melhor para o clube. Se tinha algo errado, eu ia lá e cobrava. Dizia o que não estava certo e isso incomoda algumas pessoas. Mas a decisão foi só da diretoria. E ninguém da diretoria me ligou. Quem me fez o comunicado (da saída) foi o Machado (Jorge, empresário). Falei que se, com sete anos de clube, o clube quer que eu saia, por que iria ficar? Assinei a rescisão e fui embora.
Mas logo após a saída você disse que estava deixando o clube em comum acordo com a direção. Por que você só está externando isso agora?
Falei aquilo em respeito aos meus companheiros. O clube já vivia um momento muito complicado. Eu, o Geromel e o Kannemann éramos os capitães. Mandar embora um jogador desse porte teoricamente abala, pois as pessoas gostavam de mim. Sempre fui transparente, gostasse de mim ou não. Eu falo o que eu acho. Não tenho rabo preso. Mas não quis externar em respeito aos companheiros e à torcida. Por mais que fosse ruim, eu queria que as pessoas entendessem que o clube iria seguir e que os jogadores conseguiriam tirar o Grêmio daquela situação. Mas todos eles sabem o motivo e porque me mandaram embora.
Na sua visão, por que o Grêmio chegou nesta situação de cair para a Série B após ganhar tantos títulos? Eram essas as "verdades chatas" que você falava e que causavam tanto incômodo?
Vínhamos com um grupo entre 2016 e 2019, mas em 2020 e 2021 o grupo começou a se desfazer. Chegam jogadores novos com outros pensamentos. Até dar certo e encaixar, às vezes dá e às vezes não, que foi o que aconteceu. Isso a gente se cobrava muito. Tiveram várias reuniões. Todo mundo colocava a sua opinião em prol de tentar melhorar. Dentro de campo, não estava dando liga. Por isso, acabou acontecendo o que aconteceu. No futebol, se você perde um jogo, dois, três, a confiança vai ladeira abaixo. Se não for forte mentalmente e não levantar a cabeça, você vai lá para o fundo do poço. Naquele grupo eu entendia que tinham jogadores que eram mentalmente muito fortes e outros que não eram. Não tinham capacidade de tentar se reerguer e se levantar. Acabavam jogadores de qualidade perdendo a confiança e não conseguindo produzir o melhor futebol. E aí acabou acontecendo aquilo.
E agora o que o Grêmio tem de fazer para mudar e se reconstruir?
Para mudar, só no próximo ano, com novas pessoas e pensamentos diferentes, entendendo que quem joga, joga. Quem comanda, comanda. Quem está ali dentro que entende. Tem de ter humildade de não achar que você pode fazer tudo. No futebol, tem pessoas que vivem o Grêmio há 50 anos, mas nunca jogaram ali dentro. Tem de ter humildade. Nós, jogadores, temos de ter humildade de escutar os mais experientes, mas quem está lá em cima tem de ter humildade de escutar quem está lá dentro. Quem está lá dentro é que vive e que sabe o que pode acontecer. Torcemos para que o presidente novo que entrar tenha essa humildade e entenda que tem de escutar quem está jogando, quem viveu e vive há mais de 20 anos aquilo ali. Não achar que porque você é o presidente, com outras pessoas ao seu redor, que fazem parte da diretoria, que vai mandar em tudo, porque não vai dar certo.
Qual o seu legado para o Grêmio? A torcida sempre gostou de volantes mais viris e que davam carrinho. Você concorda que mudou a forma de o Tricolor jogar?
Lá dentro do clube, o presidente e vários vices e dirigentes quando me encontravam falavam que eu mudei o estilo do Grêmio. Acho que foi o encaixe de jogadores com características parecidas com a minha que me ajudou. Foi o encaixe do time. Fica esse legado. Que bom que pude deixar coisas boas ali. Não vejo como o cara que mudou o estilo de jogo do Grêmio. Até porque joguei com mais caras que me ajudaram no meu estilo de jogo. Mas fico feliz. O maior troféu de todos é esse legado que a gente deixa.