Força física, gramados ruins, viagens longas e desgaste. Todas essas são características conhecidas da Série B. O próprio Grêmio, que estreia neste sábado, contra a Ponte Preta, sabe muito bem disso. Mas o torneio vem se transformando ao longo dos anos e, por isso, nada melhor do que saber dos quatro clubes que conquistaram o acesso na temporada passada o que é importante para voltar à Primeira Divisão.
GZH consultou personagens importantes de Botafogo, campeão em 2021, Goiás, Coritiba e Avaí. Com base nos relatos de quem vivenciou e teve sucesso na Série B do ano passado, o Grêmio e o seu torcedor podem ficar atentos ao que precisa ser feito — e evitado — para que o Tricolor siga os passos destes quatro times e retorne à elite do futebol brasileiro neste ano.
O primeiro ponto salientado por todos é "entender a competição". Mas o que isso significa? Para Luís Fernando Rosa Flores, auxiliar-técnico de Enderson Moreira no título do Botafogo, o primeiro passo para subir de divisão é montar um grupo qualificado, sem pensar na velha história de que existem "jogadores de Série A e outros de Série B".
— Há uma diferença técnica, claro. Mas os clubes evoluíram, tem muitos bons jogadores na Série B. Mas não tem essa de jogador de Série B. É preciso atleta de qualidade. Se o treinador não tiver um grupo com capacidade, não vai conseguir alcançar o objetivo. Têm caído equipes grandes, então a Série B está mais forte. Ficou mais difícil — alerta o ex-meia-atacante, que também esteve com Enderson nos títulos do Goiás, em 2012, e do América-MG, em 2017.
Ainda relacionado à montagem do elenco, o ex-goleiro e hoje vice-presidente de futebol do Goiás, Harlei Menezes, ressalta a importância de ter um grupo competitivo. Na avaliação dele, é fundamental que haja disputa por posição para estimular os atletas e, especialmente, solidez defensiva para disputar a Série B.
— Nós entendemos que precisávamos montar uma equipe com esse perfil. Fizemos um grupo enxuto, muito competitivo, que priorizou sempre a forte marcação. Tomamos poucos gols. Uma equipe muito bem consolidada no sistema defensivo, com uma transição e um poder de finalização muito bons. Entendemos que a Série B se ganha com luta, com força, com disposição, onde a técnica nem sempre é o fator decisivo para que você vença os jogos — definiu.
No quesito "entender a Série B" também está incluso o pacote viagens e gramados. Os deslocamentos se tornam um problema porque há equipes de cidades sem aeroportos, muitas vezes distantes das capitais, o que obriga os clubes a realizarem trajetos de ônibus, mais demorados. Além, claro, de ter jogo em Porto Alegre e, poucos dias depois, um longo percurso até cidades como Maceió, em Alagoas, e São Luís, no Maranhão. Além disso, os campos nem sempre são de qualidade, o que atrapalha os times com mais potencial técnico.
— Essas são grandes dificuldades na Série B, a qualidade dos gramados e as distâncias. Muda muito. A gente encontra alguns extremos. Jogamos no Rio Grande do Sul, depois Recife, aí vai para o Centro-Oeste. Um país continental como o nosso gera esse tipo de dificuldade. A qualidade dos gramados também. Temos 16, 17 sedes. Metade dos gramados são muito precários. Isso complica para os times melhores — destaca Juarez Moraes e Silva, presidente do Coritiba.
Mas há um ponto de alento para o Grêmio, na opinião de quem conhece bem o clube e também a Série B. O ex-meio-campista Marquinhos, que vestiu a camisa tricolor em 2011 e 2012, é atualmente gerente de futebol do Avaí. Como jogador, conquistou cinco vezes o acesso pelo clube catarinense e virou ídolo por lá. E, na avaliação dele, o time gaúcho pode tirar proveito de uma situação específica da competição: a oscilação dos rivais.
— A Série B é difícil, mas acho que o Grêmio não vai passar tanta dificuldade. Tem um bom time. E a Série B te dá chance para errar, permite oscilar, porque a qualidade não é tão elevada e todos os times têm altos e baixos na competição. Na Série A, se você errar, a qualidade é maior e pode ficar muito para trás. A Série B te dá essa margem de erro, o que pode favorecer uma equipe forte como a do Grêmio — afirma o ex-atleta gremista.
Há, ainda, outros dois pontos em comum levantados por todos os entrevistados: a importância da bola parada e do fator local. Se levarmos em conta a final do Gauchão, contra o Ypiranga, como exemplo, os dois gols do Grêmio no jogo decisivo, na Arena, saíram a partir de bolas paradas. E quanto à torcida, a expectativa é de casa cheia como no jogo do fim de semana passada. Afinal, pode até não valer taça, mas cada partida na Série B será decisiva para o time voltar ao seu lugar na elite do futebol brasileiro.