O título gaúcho foi um primeiro objetivo atingido pelo Grêmio em uma temporada na qual o maior desafio começará no próximo sábado (9), a partir das 16h30min, em Campinas. Diante da Ponte Preta, no Moisés Lucarelli, o Tricolor irá iniciar sua caminhada na Série B do Campeonato Brasileiro em busca de um retorno à Série A sem o drama vivido em sua última participação, em 2005. Fortalecido pela taça levantada no Gauchão, Roger Machado encontrou uma forma de jogar que funcionou no Estadual, mas sabe que ao longo da competição nacional precisará de repertório.
Repertório não necessariamente significa uma mudança de sistema tático. A ideia de um tripé no meio-campo e três homens avançados no 4-1-4-1 ganhou a confiança de Roger. Após o título gaúcho, o treinador detalhou seu planejamento tático e explicou a importância que a entrada de Bitello no setor central teve para o encaixe gremista.
— Desde que cheguei aqui nas conversas com os atletas sempre frisei que precisava o mais rápido possível encontrar meu sétimo jogador. Todo mundo defende com seis, os quatro defensores e os dois volantes. Com sete jogadores atrás da linha da bola eu não tomo gol, mas esse sétimo jogador precisa ter características defensivas e ofensivas. Esse sétimo hoje é o Bitello, o Gabriel (Silva), ambos têm força para defender e chegar à frente. É por isso que estou jogando com três atacantes. No momento que acha uma estrutura a gente pode avançar, colocar esse time mais para frente mudando as características das peças e não mudando sistema — pontuou.
A característica de jogo que Roger implementou e teve sucesso no Gauchão contou com a estratégia de abrir mão de ter controle da posse de bola e atacar de forma mais direta. Na final contra o Ypiranga, por exemplo, o Tricolor teve 40% de posse em cada um dos jogos. Nos Gre-Nais esse índice foi ainda menor, uma média de 36% levando em conta os três confrontos com o Inter.
A Série B, porém, deve apontar para um novo cenário. A tendência é de que na competição o Grêmio encontre adversários que lhe entreguem a bola, o que forçará o Tricolor a propor jogo diante de defesas fechadas, algo que não ocorreu na reta final do Gauchão.
— O Roger encontrou uma forma que funcionou pelas circunstâncias dos Gre-Nais e nas finais muito pelo estilo do Ypiranga. Eu ainda tenho a interrogação do que vai ser a Série B, primeiro em razão do cenário diferente e também pela construção do Grêmio. Ele vai precisar encontrar alternativas ou fazer com essa formação de time jogar mais. A questão da construção será muito mais exigida na campanha da Série B do que aconteceu na reta final do Gauchão — observa o comentarista do Sportv Carlos Eduardo Mansur.
Diante da possibilidade de mudança de peças no setor de meio-campo, Mansur lembra da vitória do Grêmio sobre o Ypiranga na fase de classificação do Gauchão, quando Gabriel Silva foi titular e a equipe não teve Lucas Silva. O comentarista vê o garoto como um jogador com potencial para aumentar o poder de criação do meio-campo já que Benítez não tem a capacidade física exigida por Roger para ter os tais sete homens atrás da linha da bola no momento de perda de posse.
— Como o Roger quer desse terceiro do meio uma dupla função é muito difícil ser o Benítez. Benítez deve ser opção para o decorrer de alguns jogos dependendo das circunstâncias. Para o argentino ser titular imagino apenas em um contexto, no 4-2-3-1 com os dois pontas voltando bastante para fechar o espaço e com um centroavante mais móvel que o Diego Souza — avalia.
Posse de bola e número de passes certos são alguns indicadores para mostrar a forma de jogar das equipes. Na Série B de 2021, dos times que conseguiram o acesso, apenas o Avaí esteve entre os quatro primeiros nos dados de posse de bola. Em passes certos, o Avaí também apareceu no top 4, assim como o Coritiba. Campeão da Segunda Divisão, o Botafogo teve apenas a 14ª maior posse e foi o 12º em passes.
O comentarista do Sportv Carlos Eduardo Lino faz a ressalva de que o Grêmio pode obter o acesso jogando um futebol reativo. Ele avalia, porém, que o Tricolor tem capacidade para controlar a maior parte dos jogos e fazer uma campanha de menos sustos na competição.
— A melhor forma de não ter tanta emoção na Série B é se impor como time de Séria A. É você ser dono dos jogos, mandar dentro de casa com superioridade e não se condicionar ao jogo direto de bola longa. É ter o futebol no mais alto nível que puder. Tem o problema dos clubes rebaixados não terem mais a condição financeira para manter os elencos da Série A, o que nem sempre torna possível essa imposição. O caso do Grêmio, porém, é diferente. O time que o Grêmio já tem é capaz de fazer isso, com nomes como Villasanti, Bitello, Gabriel Silva, o Campaz. O Grêmio tem capacidade para controlar, para ser dono do jogo. O bom é diversificar e o Roger sabe disso. Os que subiram nos últimos anos jogando com menos imposição fizeram muito mais pela pobreza de investimento do que de ideias — ressaltou o jornalista que comentou a Série B de 2021 para o Sportv e canais Premiere.
Roger Machado mostrou no Gauchão uma rápida resposta para encontrar soluções e levar o Grêmio ao penta estadual depois da decepcionante e precoce eliminação na Copa do Brasil. Com uma base feita, agora ele partirá para a Série B sabedor de que novas dificuldades aparecerão. A torcida gremista espera que o treinador novamente encontre os caminhos para o Tricolor confirmar sua presença na Série A de 2022.