O Grêmio disputará a Série B pela terceira vez em sua história na próxima temporada. Presidente do clube na última participação tricolor na competição, em 2005, Paulo Odone tem recordações não muito agradáveis do campeonato. Apesar de ter recolocado a equipe gremista na Série A, com direito à famosa Batalha dos Aflitos, o ex-mandatário alerta para as dificuldades de jogar na segunda divisão do futebol brasileiro.
— Agora é diferente. Classificam quatro equipes, é toda de pontos corridos, não tem aquele quadrangular. Mas vai ser difícil, tem clubes com camisa, tradição, como Cruzeiro e Vasco, mas tem estádios pequenos, times que fazem uma guerra contra os grandes. A segunda divisão é um pequeno inferno. É preciso que todo o vestiário, do massagista ao treinador, tenha a consciência de que só com muita pegada e garra se consegue fazer um time vencedor — disse Odone em entrevista ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha, nesta sexta-feira (10).
O ex-presidente gremista destaca que, para o time retornar à Série A já em 2022, será importante que a torcida abrace a equipe e incentive tanto quanto em 2005. Além do apoio das arquibancadas, Odone entende que será preciso buscar atletas e uma comissão técnica que conheçam o Grêmio e tenham vontade de vestir a camisa do clube.
— Quando o Grêmio foi para a segunda divisão lá atrás, tínhamos sete atletas, sendo três goleiros. Tivemos de montar um time. Quem nos ajudou muito foi o Mano Menezes, que conhecia a realidade que iríamos viver. Ele montou muito bem o time, com disciplina, caráter, tinha a habilidade de lidar com o grupo e fez daquele catado de jogadores um time muito competente — afirma, antes de complementar:
— É preciso ter humildade. Às vezes, ter muito dinheiro atrapalha. Você começa a trazer peças, jogador da seleção de tal país, que não sabe o que é o Grêmio, não conhece a nossa grandeza. Em 2005, alguns jogadores não quiseram vir para o clube na segunda divisão. E que bom, porque era preciso ter atletas com vontade de jogar no Grêmio. É muito melhor do que pegar um jogador de seleção que não sabe o que é esse clube.
Na avaliação de Paulo Odone, o rebaixamento do Grêmio à Série B foi "uma morte anunciada", devido às mudanças na comissão técnica e no nível de atuações da equipe desde o início do campeonato. Ele relatou, inclusive, que na reunião do Conselho Consultivo do clube, que reuniu os ex-presidentes em agosto, aconselhou o presidente Romildo Bolzan a ter mais protagonismo no vestiário, mas entende que "já era tarde demais".
Por fim, o ex-presidente falou sobre o trabalho de Vagner Mancini. Foi Odone, aliás, que contratou Mancini para o Grêmio pela primeira vez, em 2008, mas demitiu o técnico após seis jogos, ainda invicto, com quatro vitórias e dois empates. Segundo ele, o motivo foi uma equipe muito aberta, sem os resguardos defensivos necessários.
— Não vou dizer se está certo manter o Mancini agora. Essa avaliação o presidente deve fazer com o seu grupo e o vestiário. Quando demiti o Mancini, vi que era um técnico muito ofensivo. Me espantei quando vi o time jogar, sem proteção à defesa. Não poderia admitir o Grêmio ir para a segunda divisão de novo. Quando eu vi que poderia correr esse risco, optamos pela troca. Ele era um treinador jovem, com um futuro brilhante, mas tinha um conceito que não era o nosso, que era de pegada, dedicado à marcação, e não um futebol aberto. Achava que ele iria se dar bem do Rio de Janeiro para cima — salientou Paulo Odone.