A situação na qual o Grêmio se meteu por conta de seus erros transformou a reta final do Campeonato Brasileiro em uma sequência de decisões. Assim, as emoções e expectativas vão oscilando a depender do resultado. Se após a derrota no confronto direto com o Bahia o clima foi de pessimismo entre os gremistas, a goleada sobre o São Paulo reacendeu a chama da esperança na permanência na Série A. Essa tendência positiva depende de nova resposta do time de Vagner Mancini neste domingo (5), às 16h, diante do Corinthians, em São Paulo.
Classificado para a Libertadores e sem a chance de atingir o objetivo ultrapassar o rival Palmeiras na tabela, o Corinthians quer confirmar a presença da fase de grupos do torneio continental, algo que pode acontecer até mesmo com derrota para o Grêmio. Isso não significa que o time de Sylvinho não tenha motivação para o jogo no Itaquerão. No Parque São Jorge, há um sentimento de busca por vingança, já que o único rebaixamento da história do Timão teve a marca de um empate com Tricolor na última rodada do Brasileirão.
Em 2007, o Corinthians precisava de uma vitória simples para se garantir na Série A diante de um Grêmio que não tinha mais ambições no campeonato. Em uma tarde de domingo de forte calor em Porto Alegre, os gremistas lotaram o velho Olímpico e vibraram com o 1 a 1 que, combinada de uma vitória do Goiás sobre o Inter, levou os paulistas para a Série B em um raro momento em que colorados e tricolores compartilharam da mesma alegria na cidade.
Essa situação foi lembrada pela mais importante torcida organizada corintiana. Durante a semana, a Gaviões da Fiel publicou uma nota na qual pediu para os jogadores empurrarem o Grêmio para a Segunda Divisão. "No dia mais triste de nossas vidas, estávamos diante desse mesmo adversário, que participou, se orgulhou e tripudiou de nossa tragédia. Assim é o futebol, mas o mundo gira, não é mesmo? É por isso que a gente conta com vocês para lavarem a nossa alma. O título não veio, mas queremos outros presentes: o rebaixamento do nosso adversário, acompanhado da quarta colocação no campeonato para encerrarmos bem a temporada e olharmos para 2022", disse trecho do comunicado.
As arquibancadas da Arena Corinthians deverão ter um clima parecido com aquele do Olímpico de 14 anos atrás. Os alvinegros que irão ao estádio estarão sedentos por esse troco no Grêmio. É difícil medir o quanto isso chega aos jogadores. Integrante daquele time gremista de 2007, Willian Magrão contou a GZH que a situação corintiana gerava até um clima de constrangimento nos atletas gremistas.
— Foi difícil porque poderíamos ser nós naquela situação ali. Então foi um jogo diferente, tenso, mas tínhamos de ser profissionais e encaramos da melhor maneira possível, com todo o respeito ao Corinthians. A gente via no rosto do adversário a tensão, o nervosismo, a ansiedade — recordou.
Se em 2007 o Corinthians não conseguiu vencer para escapar do rebaixamento, quatro anos antes o Grêmio fez seu papel diante do time paulista em situação parecida. Na última rodada do Brasileirão de 2003, uma goleada de 3 a 0 no Olímpico evitou a queda tricolor. Lateral-direito do time treinado por Adílson Batista, Anderson Lima recorda o clima daquele confronto com os alvinegros.
— O momento era muito mais tranquilo do que agora. Para nós, jogadores do Grêmio, era muito importante porque a gente não queria ficar marcado pelo rebaixamento, ainda mais que era o centenário do Grêmio. A pressão externa era muito grande. A gente entrou para fazer um grande jogo. Talvez para o Corinthians era mais um jogo, e para nós era decisão. Agora será diferente porque o Corinthians entra com essa pressão da torcida pela vitória —avalia.
Anderson Lima também esteve em outro confronto histórico do Grêmio contra o Corinthians: a decisão da Copa do Brasil de 2001. Para conquistar o tetra, o Tricolor superou os paulistas dentro de um Morumbi lotado de torcedores corintianos. Com essas duas experiências vividas, o ex-lateral ressalta que a pressão de jogar para evitar o rebaixamento supera qualquer decisão valendo taça.
— O título te dá pressão, um frio na barriga da decisão, mas essa situação (de rebaixamento) pesa muito o psicológico porque você está lutando contra um momento ruim. O time do Grêmio ainda tem jogadores que há pouco tempo conquistaram grandes títulos, que são experientes em decisões, mas esse tipo de disputa contra o rebaixamento é sempre mais difícil — completa.
Grêmio e Corinthians é um confronto de muita história no futebol brasileiro. O Tricolor tentará escrever neste domingo mais um capítulo positivo para manter viva a esperança de permanência na Série A sabendo que empate ou derrota podem ser fatais. É hora de reagir e não permitir o troco de 2007 que os paulistas tanto querem dar.