Entre a derrota para o Palmeiras, marcada pela confusão protagonizada por torcedores na Arena, no último domingo (31), e o Gre-Nal do próximo sábado (6), no Beira-Rio, o Grêmio tem nada mais, nada menos do que um confronto contra o líder do Brasileirão nesta noite.
A partir das 21h, o time de Vagner Mancini irá encarar o Atlético-MG, no Mineirão, em jogo atrasado da 19ª rodada, precisando pontuar para reduzir a distância para uma posição que evite o rebaixamento à Série B. Primeiro clube fora do Z-4 neste momento, o Bahia leva sete pontos de vantagem para os gaúchos.
Líder do Brasileirão e finalista da Copa do Brasil, o Galo pode ser facilmente apontado como o grande time do país em 2021. O desafio gremista torna-se ainda maior quando olhada a campanha dos mineiros em sua casa no Brasileirão. Depois de perder na estreia para o Fortaleza, a equipe comandada por Cuca conquistou 11 vitórias e teve um empate em Belo Horizonte, o que lhe dá com sobras e melhor campanha como mandante na competição, com 87,2% de aproveitamento.
Apesar desses dados, o Atlético não é um time imbatível. Prova disso é que vem de derrota para o Flamengo, no Maracanã, na última rodada. Se não perdeu no Mineirão por nenhuma competição desde a derrota para o Fortaleza, em maio, o Galo teve uma decepção em sua casa quando foi eliminado na semifinal da Libertadores pelo Palmeiras.
Já o Grêmio, que vive uma temporada de expectativas frustradas e com situação dramática para permanecer na Série A, tem poucos bons exemplos para se apegar. Mas um deles vem de um cenário parecido com o que se espera da partida desta noite no Mineirão. Há pouco mais de um mês, o Tricolor foi ao Maracanã, pela 21ª rodada, e conseguiu bater um então embalado Flamengo por 1 a 0, com gol de Borja, que volta a ficar à disposição após ter sido desfalque contra o Palmeiras.
Relembrar aquele triunfo pode ser positivo para o Grêmio diante das admitidas dificuldades emocionais vividas pelo elenco com a atual situação no Brasileirão. O comentarista Paulo Calçade, dos canais ESPN, salienta que esse desequilíbrio mental do Tricolor ficou claro na derrota para o Palmeiras.
— Contra o Palmeiras se viu um Grêmio físico, o que é legal, mas tem que ter um controle para não errar na dose. E o Grêmio errava em alguns momentos. O time entrava firme na dividida, tentava encaixar a marcação, mas tudo isso desapareceu após o primeiro gol do Palmeiras. É o típico roteiro do time grande que entra nesta situação. Por equipe e elenco, o Grêmio não deveria cair. Mas não tem futebol sem controle emocional. É difícil analisar o lado técnico quando não se tem nenhum controle emocional — observa.
Essa questão mental é outro fator a favor dos mineiros. Mesmo com a derrota para o Flamengo na rodada anterior, quem acompanha o clube de perto elogia a capacidade de reação que os comandados de Cuca têm demonstrado nos poucos momentos de dificuldade na temporada.
— É o melhor Atlético-MG em muito tempo. O time de 2013 (campeão da Libertadores) era muito interessante, fez campanha emocionante, mas o atual é mais regular, oscila menos. O Atlético é uma equipe com emocional muito forte, que não teve nenhum momento da temporada de abalo ou que virou o fio. É um time psicologicamente forte. Quando foi eliminado da Libertadores pelo Palmeiras, logo deu uma resposta muito boa naquela vitória sobre o Inter — ressalta Rogério Corrêa, narrador do SporTV e da Globo Minas.
Como encarar o líder
Dentro de um cenário de situações extremas entre os times, Calçade acredita que a melhor estratégia para o Grêmio é jogar de forma fechada e tentar explorar os contra-ataques. Ele analisa ainda que o Tricolor precisará contar com uma noite pouco inspirada dos mineiros para obter um bom resultado no Mineirão.
— Eu esperaria o Atlético, tentando encurtar a marcação, jogar muito compacto e com uma pressão no portador da bola o tempo todo para evitar que Atlético fique circulando. Tentar recuperar e sair no contra-ataque. É dessa forma que eu jogaria. Olhando para o outro lado, vejo um Atlético equilibrado, que ataca e defende bem. Um bom resultado do Grêmio também depende de uma noite ruim do Atlético — completa.
Esse tipo de estratégia é o que tem causado maior dificuldade ao Atlético nesta temporada e foi usada por Renato Portaluppi no último sábado, mesmo com o Flamengo contando com nomes como Gabigol, Bruno Henrique e Everton Ribeiro no seu setor ofensivo. Na semifinal da Copa do Brasil, por exemplo, o Fortaleza adotou uma postura ofensiva foi goleado por 4 a 0, no Mineirão.
— Times que jogaram com linhas muito baixas causaram dificuldades para o Atlético-MG, mas nem todos conseguiram encaixar contra-ataques. Se defenderam bem, mas não atacaram bem passando 90 minutos encostados na parede. Claro que isso depende da qualidade do adversário, mas o Atlético teve maior dificuldade quando enfrentou times que marcaram perto da sua área com linhas próximas e dificultaram o jogo pela faixa central. O Hulk sai bastante da área tentando gerar espaço arrastando um zagueiro e quem fechou bem isso teve sucesso. Por outro lado, o Galo não se sente incomodado ao enfrentar times que trocam golpes, que buscam atacar. O Atlético se sente bem nesse cenário — avalia Léo Gomide, comentarista da Rádio 98FM, de Belo Horizonte.
Tendo que melhorar nas partes técnica, tática e emocional, o Tricolor tentará surpreender o Atlético na noite em que o Mineirão voltará a ter permissão para público máximo desde o começo da pandemia. A torcida atleticana é mais um desafio nessa difícil missão do Grêmio para evitar o terceiro rebaixamento de sua história.