Em meio ao clima positivo ocasionado pela vitória sobre o Flamengo, no Maracanã, e a sinalização de reação no Campeonato Brasileiro, o Grêmio tem uma situação que intriga boa parte da torcida. Trata-se do aproveitamento do meia Jaminton Leandro Campaz. Maior investimento do clube na temporada, o colombiano de 21 anos não vem sendo opção do técnico Luiz Felipe Scolari sequer para entrar no decorrer dos últimos jogos.
Campaz desembarcou em Porto Alegre em 19 de agosto para assinar um contrato até dezembro de 2025. Seis dias depois, ele fez sua estreia ao entrar aos 14 do segundo tempo (o placar estava em 1 a 0) na goleada de 4 a 0 sofrida para o Flamengo, pela Copa do Brasil. Foi titular na partida seguinte, a derrota por 1 a 0 para o Corinthians, pelo Brasileirão, quando saiu aos 20 da etapa final (placar estava em 0 a 0) para a entrada de Maicon – a primeira substituição de Felipão. Contando os acréscimos, ele tem 104 minutos com a camisa gremista nesses dois compromissos.
Existia a expectativa de que Campaz fosse titular na rodada seguinte, contra o Ceará, quando o Grêmio teve um período de duas semanas de preparação depois da derrota para o Corinthians. Apesar de ter sido testado no time em alguns treinamentos, o colombiano ficou no banco e sequer entrou, o que se repetiu nas duas partidas seguintes diante do Flamengo, por Copa do Brasil e Brasileirão.
Felipão afirmou publicamente que Campaz precisa ainda se adaptar estilo de jogo do Grêmio, que tem no momento praticado um futebol de muita marcação e ataques em transições. Não por acaso o treinador usou contra o Flamengo um esquema com três volantes e dois atacantes de velocidade pelos lados do campo.
— Logo, logo o Campaz vai voar. É um jogador que acabou de chegar, tem a questão do idioma, da adaptação. Mas ele está vibrando com o Grêmio, ele é realmente diferente. Vai se adaptar rapidamente — declarou o vice de futebol Marcos Herrmann após a vitória sobre o Flamengo, no último domingo.
Internamente, o Grêmio avalia que a estreia de Campaz foi precipitada quando ele ainda conhecia pouco os companheiros. Por se tratar de um jogador de apenas de 21 anos e vindo de um clube de menor tradição da Colômbia foi feita uma estratégia para ajudar o jogador na ambientação ao clube e a Porto Alegre.
Campaz tem a companhia de um irmão na Capital. A partir da próxima semana, uma tia deles também virá para o Brasil. Além disso, o Grêmio disponibilizou uma cozinheira para que a alimentação do atleta em casa siga as orientações de nutrição do clube. Campaz iniciará nos próximos dias aulas para melhorar a sua comunicação em português. No momento, o seu compatriota Miguel Borja tem lhe ajudado com o idioma.
Sobre a pouca utilização nos jogos, a direção conversou com o meio-campista no último final de semana, no Rio de Janeiro, antes da partida com o Flamengo. A avaliação é de que, apesar de não ter atuado nos últimos três jogos, o atleta tem se mostrado animado no dia a dia no clube.
Adaptação ao modelo de jogo do Grêmio
Como dito por Felipão, a comissão técnica do Grêmio tem cobrado uma maior participação sem a bola para que Campaz possa brigar por vaga no time. Essa exigência de recompor na marcação é algo que o meia fazia pouco nos tempos Tolima.
— O Tolima jogava com uma linha de cinco defensores e dois volantes de marcação, um com o estilo Thiago Santos e outro que posso comparar ao Rodrigo Dourado, do Inter. O Campaz jogava livre na frente deles, por trás do centroavante e com liberdade para jogar com a bola. Eu tinha a curiosidade de saber como o Campaz iria se comportar na fase defensiva no Grêmio porque ele não era muito exigido no Tolima — observa Juliano Fontana, auxiliar do técnico Alexandre Guimarães. Ambos trabalharam no América de Cali e no Atlético Nacional, entre 2019 e 2021.
Apesar desse receio, Fontana ressalta sua confiança na capacidade de Campaz ter sucesso no futebol brasileiro.
— É preciso ter paciência porque ele vinha de dois meses e meio praticamente parado. Mas vejo ele como um “jogadoraço”, penso que o Grêmio fez uma contratação certa. O Campaz era ao lado do Jarlan Barrera (meia do Atlético Nacional) um dos dois principais jogadores do futebol colombiano — completa.
Sobre posicionamento, a melhor função para Campaz exercer é a de meia por trás centroavante, no 4-2-3-1, por exemplo. No atual 4-1-4-1 de Felipão, o auxiliar técnico acredita que o colombiano brigue por posição com Villasanti.
— O Campaz até pode jogar de extrema, mas essa é uma função que ele não sabe fazer. Jogando por dentro, ele pode cair pelos lados, isso é algo que ele costuma fazer, mas iniciar pelos lados para cair por dentro já é uma função difícil para ele. Do jeito que o Grêmio joga atualmente, com o Thiago Santos de primeiro e o Lucas Silva sendo um segundo marcador, a função para o Campaz seria mais a do Villasanti — finaliza.
Valores
A contratação de Campaz foi um dos maiores investimentos do Grêmio neste século. O valor pago ao Tolima, de 4 milhões de dólares, equivale a R$ 21 milhões, o que supera os R$ 20 milhões investidos em Bolaños em 2016. No entanto, isso acontece em razão da desvalorização do Real desde então, pois na época o Tricolor desembolsou 5 milhões de dólares para contar com o atacante equatoriano.
Com valores corrigidos, levando em conta a inflação, além de Miller Bolaños, as contratações de Marcelo Moreno e Giuliano aparecem como mais caras que a de Campaz. Os cálculos foram feitos usando a calculadora do Banco Central com base no índice IGP-M (FGV).
- 1) Miller Bolaños (R$ 34,7 milhões)
- 2) Marcelo Moreno (R$ 33,2 milhões)
- 3) Giuliano (R$ 29,3 milhões)
- 4) Campaz (R$ 21 milhões)