Nas primeiras 10 partidas de Douglas Costa pelo Grêmio, quem esperava a chegada de um jogador de nível europeu em Porto Alegre viu um meia-atacante ainda em busca da melhor condição física. O ex-Bayern de Munique e Juventus não tem gols nem assistências desde seu retorno ao clube, anunciado em 21 de maio. Na última segunda-feira (9), comemorou contra a Chapecoense sua primeira vitória como titular – também esteve em campo no 1 a 0 fora de casa sobre a LDU, pela Copa Sul-Americana, quando jogou por 14 minutos.
Dentro do clube, mesmo com o time na zona de rebaixamento, o discurso é de compreensão com o momento do jogador. O histórico de lesões na Alemanha e na Itália já era de conhecimento da direção, e sabia-se que levaria tempo para tê-lo na melhor forma. Antes de estrear pelo Tricolor, em 17 de junho, seu último jogo pelo Bayern foi em 11 de fevereiro, no Mundial de Clubes.
— O Douglas passou um ano sem jogar. Não é de um dia para o outro que ele vai recuperar tudo. Além disso, uma ou outra lesão o tem tirado dos treinamentos. Nós pretendemos tê-lo nas melhores condições dentro de 15, 30 dias. Não podemos cobrar algo que ele não tem como fazer no momento — disse o técnico Felipão após a partida diante da Chape.
Preparador físico com passagens pelo próprio Grêmio e também por clubes da Europa e da Ásia, Márcio Dornelles acredita que o prazo sugerido pelo treinador é bastante generoso. Contudo, defende que as observações devem ser feitas diariamente, reavaliando de acordo com o avanço apresentado por cada atleta.
— Isso requer tempo e análises diárias de respostas do jogador ao trabalho, não tem como traçar um plano para dizer que daqui um mês estará pronto. Ele está se adaptando a um outro tipo de preparação, a um novo país. São detalhes que tem de ser levados em consideração para trabalhar com um atleta deste nível. Não basta apenas estar pronto para entrar em campo, mas para competir com qualidade — aponta.
O preparador salienta que precisaria estar no dia a dia do clube para saber quais os melhores processos a serem adotados. Explica que, no esporte de alto rendimento, cada atleta pode reagir de maneira diferente a uma mesma lesão: uns, mesmo com o diagnóstico, conseguem desempenhar determinadas funções com normalidade, enquanto outros com o mesmo problema podem ter limitações. Também indica que no futebol atual não é necessário afastar o atleta dos demais companheiros para que sejam feito trabalhos específicos.
— O atleta pode permanecer treinando com o grupo, mas com cargas diferentes nos exercícios. Tu pode pedir para que ele execute apenas determinados movimentos — explica Dornelles.
Campeão da Copa do Brasil e da Libertadores com o Grêmio anos anos 1990, o ex-meia Arilson corrobora com o pensamento de Dornelles de que é preciso tempo para que Douglas se adapte às diferenças entre o Brasil e a Europa. Não gosta da ideia de o camisa 10 perder espaço no time até recuperar 100% da forma física.
— Ele só vai ganhar ritmo de jogo estando em campo. Por mais que treine, jogar é sempre diferente — pontua.
Arilson também chama atenção para outra mudança na vida de Douglas Costa: na Europa, o meia-atacante tornou-se reserva nas últimas temporadas, com minutos restritos, quase sempre saindo do banco de reservas. Em Porto Alegre, desembarcou com a responsabilidade de ser a principal referência técnica de um time que, em maio, prometia brigar pelo título brasileiro.
— Quando o Grêmio contratou, já sabia da minutagem dele na Europa. Quantos jogos fez, quanto tempo ficou em campo. Sabia de todas as condições. A cobrança aqui vai ser bem maior, porque voltou como ídolo, mas o clube sabia disso. É parte do processo — opina.
Além do tempo e do trabalho, uma das chaves para Douglas Costa recuperar o bom futebol, na visão de Arilson, está no técnico Luiz Felipe Scolari. Ele trabalhou com o treinador no Tricolor entre 1994 e 1995 e também no Cruzeiro, em 1998.
— O Felipão é craque nisso, vai dar todas as condições para ele evoluir. Com certeza vai recuperar o jogador. Sabe muito bem incentivar, conversar e tirar o máximo de cada um, daquele jeito paizão. Sabe que se o Douglas for bem, ele e o Grêmio também vão vencer — aposta.
Contra o São Paulo, no sábado, Douglas Costa deve ser novamente titular. Tentará sua primeira vitória como visitante neste Brasileirão, já que estava fora quando o time bateu o Fluminense no Maracanã. Contra um adversário que também aparece na parte de baixo da tabela, é uma boa hora para começar a mostrar que ainda pode render em alto nível. Mesmo que a parte física vá levar mais tempo.
Os números de Douglas Costa no Grêmio
- 10 jogos
- 7 como titular
- 4 vezes substituído no segundo tempo
- 61,3 minutos de média por jogo