Maicon não é mais jogador do Grêmio. Restando quatro meses para o final de seu vínculo, o jogador pediu a rescisão de contrato, que foi aceita pelo clube gaúcho nesta segunda-feira (30). A decisão ocorre dois dias depois de ele ter sido expulso na derrota para o Corinthians, pela 18ª rodada do Brasileirão.
Após sete temporadas na Arena, o jogador deixou seu nome escrito na história do clube e os pés na Calçada da Fama da Arena. Relembre 10 momentos desta vitoriosa trajetória:
1) Contratação
Quando chegou a Porto Alegre, em 9 de março de 2015, Maicon tentava dar a volta por cima na carreira. Revelado como meia no Madureira, passou ainda por Fluminense, Botafogo e Figueirense até desembarcar no Morumbi. Pelas mãos de Muricy Ramalho, transformou-se em volante, mas não caiu nas graças do torcedor. As vaias da arquibancada fizeram com que o São Paulo aceitasse o seu empréstimo. Foi pedido por Felipão, que na época comandava o Tricolor.
— Eu desejava vir para o Grêmio. Eu não queria nem escutar se tinha outros clubes interessados — declarou em sua apresentação no auditório da Arena.
Como o jogador se destacou pela capacidade de organizar o jogo com bons passes, acabaria sendo comprado ao final daquele ano, por R$ 7 milhões.
2) Surge o "capita"
Maicon entrou para o imaginário do torcedor gremista como o capitão do time vencedor. Mesmo quando não carregava a braçadeira, era chamado de "capita" pelos companheiros de equipe. E esta figura começou a ser construída no dia 21 de julho de 2015.
Até aquele momento, o maior líder do vestiário era o zagueiro Rhodolfo, que acabara de ser vendido ao Besiktas, da Turquia. Foi quando o então camisa 19 herdou a responsabilidade. No jogo de volta da terceira fase da Copa do Brasil, contra o Criciúma, no Estádio Heriberto Hülse, assumiu o posto de capitão por indicação do técnico Roger Machado. Foi pé quente!
Com gol de Pedro Rocha, o Tricolor venceu por 1 a 0 e, como havia perdido pelo mesmo placar no duelo de ida, na Arena, levou a decisão para os pênaltis — onde brilhou a estrela do goleiro Marcelo Grohe, que defendeu duas cobranças e sacramentou a classificação.
3) Críticas da imprensa e torcida
Embora tenha sido o símbolo de um futebol propositivo praticado pelo Grêmio sob o comando de Roger Machado, Maicon também recebeu muitas críticas da imprensa e torcida.
No desembarque no aeroporto Salgado Filho, após a eliminação para o Rosario Central, na Libertadores de 2016, chegou a ser chamado de "pipoqueiro" por alguns torcedores. A principal cobrança era para que o capitão se impusesse sobre os companheiros de equipe.
— Meu momento no São Paulo foi diferente. Bem ou mal, o torcedor me escolheu para as críticas. Aqui também gera (críticas), pelo tempo sem ganhar. Por eu ser o capitão, por exigirem uma cobrança minha com os jogadores — explicou em entrevista.
4) Título da Copa do Brasil
A turbulência em meio à temporada fez com que o técnico Roger Machado deixasse o cargo e Renato Portaluppi assumisse em seu lugar. A troca no comando, porém, não tirou a braçadeira de capitão de Maicon. Pelo contrário, deu ainda mais protagonismo ao jogador.
Ao final daquele ano, seria dele a missão de erguer a taça da Copa do Brasil, que encerrou 15 anos de "seca" sem títulos nacionais e deu início a um ciclo vitorioso na Arena.
5) "Sujeito homem"
Ironicamente, o ano em que o Grêmio alcançou o tri da América e encerrou a temporada enfrentando o Real Madrid, em Abu Dhabi, não foi proveitoso para o seu líder. Submetido a cirurgia no tendão de Aquiles, perdeu a fase decisiva da Libertadores, abrindo espaço para que Arthur surgisse das categorias de base.
Antes disso, porém, o camisa 8 teve sua postura profissional exaltada por Renato quando pediu para ir ao banco de reservas antes de um empate por 3 a 3 com o Cruzeiro, em Minas Gerais.
— Havia conversado com ele perto do meio-dia, conversa franca. Foi sujeito homem. Ele foi sincero quando falou que não se encontra 100% fisicamente, nem tecnicamente. Achou que ia prejudicar mais que ajudar. Pediu para não escalasse para recuperar totalmente a forma física e técnica. Gostei da atitude. Minha intenção era colocá-lo para jogar. Achei de uma sinceridade... Ganhou ainda mais pontos comigo. Sentiu que o momento não era tão bom para ele — revelou o técnico em entrevista coletiva.
6) Discussão com D'Alessandro
Recuperado das lesões, Maicon voltou a atuar em grande estilo em 2018. No entanto, foi exaltado pela torcida gremista por um fato que e passou fora das quatro linhas. Antes mesmo da bola rolar pelo Gre-Nal 413, no Beira-Rio, pela fase classificatória do Gauchão, trocou farpas com D'Alessandro na hora do "cara ou coroa".
— Se o D’Ale começar a apitar, a gente vai ter problema. A gente já conhece — disse o capitão gremista para o árbitro Jean Pierre de Lima.
7) Bronca com Dourado
Ainda em 2018, o volante mostrou que havia incorporado o espírito da rivalidade gaúcha. Depois de ter sido citado por Rodrigo Dourado, após uma vitória do Inter no Gre-Nal pelo Brasileirão daquele ano, Maicon compareceu em entrevista coletiva no CT Luiz Carvalho e disparou:
— Quem? Não sei quem é Dourado. Ele falou que eu fugi do jogo. Já joguei oito clássicos, ganhei três, perdi um e empatei quatro. Onde ele estava no 5 a 0? Foi baile. Onde ele estava no 2 a 1 de lá? No 3 a 0 da Arena? Vou refrescar a memória dele. Eu joguei.
8) "Cavalo cansado"
Conforme o Grêmio empilhava vitórias em clássicos, Maicon seguia provocando os rivais. Em 2020, depois de marcar um dos gols da vitória por 2 a 0, na final do returno do Gauchão, o volante foi o protagonista de uma live realizada no vestiário da Arena.
— Campo ruim, campo bom, com 10, com sete, com 11... Mais posse de bola, jogaram mais e perderam de novo. E outra, teve gol do cavalo cansado! — disse ele, rebatendo críticas feitas à sua condição física.
9) Lesões e emoção
Apesar da qualidade técnica inquestionável e da liderança exercida no vestiário, Maicon foi se tornando figura cada vez mais ausente no time do Grêmio. Em 2020, não conseguiu ter uma sequência grande de jogos, seja pelo desgaste físico que o impedia de terminar as partidas ou pela série de lesões musculares que lhe tirou dos gramados. Uma delas foi sentida na partida contra o Juventude, pela Copa do Brasil.
A situação fez com que o atleta embargasse a voz em janeiro de 2021, após o empate por 1 a 1 com o Atlético-MG, pelo Brasileirão.
— Venho a cada dia tentando melhorar. Tem sido muito difícil para mim, porque quero jogar e não consigo. Mas vou continuar trabalhando, porque ainda tenho muita coisa para ajudar a equipe.
10) Descontrole e rescisão
Entre idas e vindas do departamento médico, Maicon disputou 16 partidas com a camisa gremista durante a temporada de 2021. Após uma delas, diante da Chapecoense, causou estranhamento ao aparecer nas redes sociais, anunciando que deixaria o clube em dezembro, quando seu contrato chegaria ao fim.
A estadia do camisa 8, no entanto, se encerrou quatro meses antes do previsto. Por iniciativa própria, ele procurou a direção no dia 30 de agosto e pediu a rescisão do vínculo com o Tricolor. Assim, sua última aparição em campo se deu na derrota para o Corinthians, quando se descontrolou emocionalmente e foi expulso por ofender o árbitro Ricardo Marques Ribeiro. Em súmula, o juiz ainda relatou ter recebido um tapa no braço e que o jogador gremista teve de ser agarrado pelos companheiros de equipe.