O gol de Carlos André na final do Gauchão de 1977 devolveu ao Grêmio e sua torcida motivos para comemorar depois de um octacampeonato estadual do maior rival. Um mês antes, o atacante já havia vencido outro clássico, por 2 a 1, com direito a brincadeiras com a bola na linha de fundo em provocação aos colorados nos minutos finais de jogo, em lance que rendeu o apelido de André Catimba.
Tão marcante quanto o protagonismo marcando o gol do título é a imagem do jogador alçando um voo que durou apenas o suficiente para ser fotografado na linha de fundo. A intenção de André era comemorar o gol no goleiro Benítez, na decisão do Estadual, em setembro, com uma pirueta sobre o eixo do próprio corpo, o popular "salto mortal". Seja por euforia, cansaço ou uma combinação dos dois, o resultado foi uma queda frontal com fraturas nas costelas.
— O lance foi rápido, eu achava que ele chutaria com a esquerda, mas veio com a direita. Colocou a bola no ângulo, não consegui chegar. Um golaço. E depois ele contrariou a lógica dando aquele pulo, ninguém entendeu — relembra o ex-goleiro colorado Benítez, que elogia:
— Não digo isso porque era meu amigo, porque dentro de campo éramos inimigos em uma guerra, mas o André foi um dos melhores centroavantes que enfrentei.
— Eu fiquei tão emocionado naquela tarde que não sabia como expressar. Pensei em dar o salto mortal, desisti, mas já estava no ar quando voltei atrás. Era tarde. Me machuquei todo — disse André Catimba, em depoimento ao livro “A História dos Gre-Nais”, dos jornalistas David Coimbra, Nico Noronha e Mário Marcos de Souza.
O começo da jogada havia sido um balão de Caçapava da defesa colorada interceptado pelo gremista Vitor Hugo. Ele acionou Iura, que encontrou André invadindo a área para estufar as redes e fazer com que a taça do Gauchão ficasse no Olímpico.
— Naquela época ele disse que eu fui responsável por tudo dando o passe para ele, mas não foi assim. Ele que foi decisivo. Ele disse isso porque o primeiro passe do primeiro gol do campeonato foi um passe dele para mim, e eu também tinha dito isso sobre ele. A gente se entendia. Eu sabia como que ele correria, e ele sabia que eu conseguiria dar aquele passe — contou Iura, em entrevista ao Show dos Esportes, nessa quarta-feira (28)
A festa da conquista do Gauchão começou ainda dentro de campo, com a torcida invadindo o gramado do Estádio Olímpico e decretando o final da partida antes dos acréscimos - fato que levaria alguns colorados a acreditarem em uma anulação daquela partida. Depois, no vestiário, André e os demais jogadores gremistas receberam o abraço de um outro baiano como Catimba, igualmente emocionado com a façanha do time, mas mais afeito ao carnaval do que ao futebol.
— Já estava na hora, não é? Tomara que agora o Grêmio ganhe por 10 anos consecutivos — gritou o cantor Gilberto Gil, torcedor gremista, que justifica a paixão pelas cores “azul como o céu, branco como a paz e preto como eu”.
Último a deixar o Olímpico naquela noite mágica, Catimba não procurou atendimento médico no primeiro momento. Aguentou as dores que se estendiam do peito até a coxa esquerda e foi para o apartamento na Avenida Érico Veríssimo onde morava com a esposa Rita e os três filhos Andréa, Cláudio André e Ana Paula. Dali saíram no carro da família - com Rita ao volante - para ver os pequenos carnavais que a torcida gremista celebrava nas ruas da Capital.