Setenta dias depois de ter sido anunciado como substituto de Renato Portaluppi no comando do Grêmio, Tiago Nunes entrará no Estádio Alfredo Jaconi para enfrentar o Juventude na noite desta quarta-feira (30), a partir das 21h30min, pelo Campeonato Brasileiro, pressionado. A lanterna da competição com o Tricolor tendo somado somente dois pontos após cinco jogos gera desconfiança sobre o trabalho do treinador. Publicamente, o discurso da direção é de respaldo à comissão técnica, mas as cobranças por parte da torcida têm sido cada vez maiores. A vitória no confronto gaúcho será fundamental para evitar uma crise na Arena.
Por coisas que talvez somente o futebol brasileiro permita, Tiago Nunes vive uma instabilidade em um trabalho que começou de forma altamente positiva há pouco mais de dois meses. Ele estreou com um triunfo de 3 a 2 sobre o Ypiranga, pelo Gauchão, em 24 de abril. Acumulou uma sequência de oito vitórias, marcando o melhor início de um treinador no clube desde Orlando Fantoni, em 1979.
Um dia antes de completar um mês de sua estreia, Tiago Nunes levantou a taça do Gauchão com o empate de 1 a 1 no Gre-Nal, na Arena. Naquele momento, o Grêmio já estava classificado para as oitavas de final Sul-Americana com a melhor campanha da fase de grupos. A situação começou a mudar logo após o título estadual, quando o elenco passou por um surto de covid-19 que atingiu também a comissão técnica. Desde então foram apenas duas vitórias em nove compromissos. A conquista da Recopa Gaúcha em cima do Santa Cruz e a classificação na Copa do Brasil sobre o Brasiliense ficaram em segundo plano diante do mau começo de Brasileirão.
O incômodo com a situação apareceu, principalmente, após a derrota para o Sport. Na ocasião, Tiago Nunes não gostou de questionamentos sobre o pouco aproveitamento de jovens no time titular e avaliação de falha de Paulo Victor no gol nordestino. O treinador chegou a perguntar a um repórter se ele havia sido goleiro em defesa a seu camisa 1.
— O Paulo Victor é um grande goleiro, com experiência e merece respeito. Vivemos uma rotina no futebol em que quem está fora é a solução para quem está dentro. O desvio no Diego Souza tirou totalmente a referência do Paulo. Ele pode ter falhado em outros lances, mas não no gol — argumentou.
Apesar da declaração, Paulo Victor sequer foi relacionado para os jogos seguintes. Tiago, porém, mudou o tom de seus discursos nas últimas partidas. Até mesmo a discussão com Matheus Henrique com direito a troca de ofensas durante o confronto com o Santos foi minimizada nos microfones. Após o empate com o Fortaleza, o treinador optou por mostrar uma visão otimista sobre as atuações da equipe.
— Prefiro olhar o copo meio cheio nesse momento. Sei a dificuldade da tabela, de olhar e ver o Grêmio embaixo, mas sairemos. O Grêmio já esteve nesse momento em outros campeonatos, depois decolou e foi embora — citou.
Dar a volta por cima é o desafio
Tiago Nunes tentará no Grêmio evitar o prolongamento de uma crise que possa comprometer o seu trabalho, como a que viveu no Corinthians no ano passado. Depois do sucesso no Athletico-PR, ele chegou ao Parque São Jorge em alta no começo de 2020. A queda na fase preliminar da Libertadores para o Guaraní-PAR, porém, iniciou uma instabilidade que não pôde ser revertida. Mesmo com a parada do futebol por mais de quatro meses em razão da pandemia, a perda do título paulista para o rival Palmeiras e um mau começo de Brasileirão interromperam sua trajetória pelo Timão após apenas 28 jogos.
—A eliminação na Libertadores pesou e a continuidade do trabalho foi questionada ainda durante a parada da pandemia. Ele chegou em janeiro e em março estava questionado. Inicialmente, isso ocorria pelos resultados. Se os resultados fossem outros, talvez tivesse superado os outros problemas. O que eram esses problemas? Muitos jogadores entendiam que o que ele pedia não daria certo com aquele elenco. O Tiago sentiu isso, que o ambiente não era bom por falta de confiança dos atletas. Além disso, algumas declarações dele causaram turbulência, como críticas a dirigentes influentes, à imprensa e pessoas do entorno do clube — aponta o repórter da Rádio CBN, de São Paulo, Roberto Lioi.
Em seu trabalho anterior, o sucesso rápido com o título da Sul-Americana no primeiro semestre no comando do Athletico-PR foi suficiente para uma trajetória mais tranquila. Antes, Tiago Nunes precisou tirar o Furacão da zona de rebaixamento do Brasileirão, quando assumiu após a saída de Fernando Diniz.
—Esse momento que está vivendo no Grêmio o Tiago nunca passou com seu trabalho no Athletico-PR, nem mesmo depois de perder a Recopa Sul-Americana (para o River Plate) ou da queda na Libertadores (para o Boca Juniors). Ele pegou o time em crise após a saída do Fernando Diniz e soube lidar naquele momento. O Tiago gosta de explorar os jogadores de confiança. Acredito que ele vá apostar em quem ele confia nesse momento — aponta repórter da Rádio Banda B, de Curitiba, Monique Vilela.
O torcedores gremista espera que, diferente do Corinthians, Tiago Nunes encontre soluções para evitar uma crise e o Grêmio poder reagir no Brasileirão.