Há quase 37 anos, o Grêmio tornou-se o primeiro clube gaúcho campeão do mundo ao derrotar o Hamburgo-ALE por 2 a 1, na prorrogação, no Estádio Olímpico de Tóquio. Direto do Japão, o gremista Paulo Sant'Ana, que assinava uma coluna em Zero Hora à época, descreveu o sentimento de quem acabara de tornar-se "rei dos reis" ao conquistar o planeta.
O texto da coluna pode ser conferido abaixo. No vídeo acima, o jornalista declama tudo aquilo que escreveu para ZH em 1983, coberto com imagens da conquista e da festa em Porto Alegre quando o time de Renato e companhia retornou ao Brasil. Confira trechos da coluna do Sant'Ana na edição extra de ZH de 11/12/83:
Glória insuperável
O mundo se dobra perante o Grêmio. Todas as raças, todos os credos, todas as narrações invejam agora o novo e vigoroso campeão mundial de clubes. A Terra é azul. Está provada a declaração dos astronautas. Quero dizer que este título do Grêmio foi forjado no sofrimento e na dor. A dor de perder tantos campeonatos e ainda assim reunir amor, suor e sacrifício para alcançar a grande conquista de Tóquio. A dor de sofrer na carne gols perdidos, campeonatos perdidos, erros de arbitragem monstruosos que mutilaram a alma gremista, mas também a dor dos erros cometidos por nós. Pois dando a volta por cima nesses azares, nesses equívocos, transpondo o cipoal terrível desses tropeços quase que mortais e desanimadores, o Grêmio atinge agora a suprema glória de um grande clube. Milhares de gerações de gaúchos irão relembrar com orgulho a façanha fantástica do clube das três cores.
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Nem estou acreditando neste momento que bato nestas teclas de uma máquina de telex japonesa em que os caracteres locais se sobrepõem aos do nosso alfabeto e me confundem mais ainda a alma agitada por essa grande emoção que o Grêmio seja agora o rei dos reis do futebol mundial. Não dá para crer. E mais: ainda me pergunto se estou sonhando quando me lembro que, ainda menino, com cinco anos, meu pai me levou ao primeiro jogo do Grêmio na Baixada, onde hoje fica o Parcão. Naquele dia nascia minha enorme paixão, brotava um fanatismo talvez maior do que o dos crentes de seitas radicais.
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E dizer que eu estava aqui em Tóquio na decisão. E dizer que a minha luta jornalística de 12 anos culminou com a minha presença e participação na grande glória. E dizer que o menino pobre do Partenon, mercê de seu esforço jornalístico, lidando com as palavras embrenhadas na paixão e amarradas com os cordões da razão, o comentarista que pronunciou mais vezes a palavra "Grêmio" na história da imprensa gaúcha, ganhou a oportunidade de estar aqui.
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Alô, gremistas, somos campeões do mundo. E agradecemos aos colorados que torceram por nós, que foram muitos. Mas aos que nos secaram, a esses vamos dizer o seguinte: não queremos mais saber de Regional ou Nacional. Até achamos que não vamos ligar para a próxima Libertadores, porque nós pertencemos a outra galáxia. Vamos decidir o título de Campeão do Universo com um time de Marte, semifinais com Vênus, classificatória com Mercúrio. Aos colorados que nos secaram, dizemos agora que para jogar no Beira-Rio só com alta cota e não iremos mais de ônibus. Só se nos levarem do Olímpico ao Beira-Rio numa nave espacial, porque nós transcendemos do mundo.