O Grêmio e a Copa do Brasil têm relação próxima, quase um desejo mútuo. Não à toa, o Tricolor conquistou o torneio cinco vezes, sendo o segundo maior campeão — atrás do Cruzeiro, que tem seis taças. Esse amor é antigo. A competição foi criada pela CBF em 1989, e logo em sua primeira edição o time gaúcho levou para casa o troféu de forma invicta.
As finais foram contra o Sport, campeão brasileiro de 1987 e pernambucano de 1988. Por ter melhor campanha, o Grêmio decidiu em casa, no Estádio Olímpico. Depois de um empate sem gols na Ilha do Retiro, ficou tudo para Porto Alegre. Os gols de Assis e Cuca garantiram o título tricolor, ainda que o goleiro Mazaropi tenha marcado contra, no final do primeiro tempo. Assim, o jogo terminou 2 a 1 e o clube gaúcho garantiu um título inédito, além de uma vaga na Libertadores do ano seguinte.
— Tenho muito vivo esse jogo e aquele gol na lembrança. O estádio cheio, a torcida gritando, foi legal demais. Mas eu estava nervoso naquele dia, passei a manhã toda rezando na capela que tinha no Olímpico, porque o Claudião tinha chamado alguns jogadores para conversar e eu peguei um chiclete da mesa dele. Depois, ele foi me cobrar que tinha pego aquele bubbaloo e me disse assim: "Ai de ti se a gente não ganhar esse jogo". Virou uma boa história — recorda o ex-meio-campista e hoje técnico Cuca, que marcou o gol decisivo na final escolhida por leitores de GaúchaZH para ser relembrada neste fim de semana pelo Grupo RBS no projeto Saudade do Esporte.
Mas, para quem viveu o dia a dia do clube naquela época, a conquista significou ainda mais. O Grêmio vinha de uma década de glórias, com os títulos brasileiro, da Libertadores e do Mundial anos antes. O final dos anos 1980, no entanto, não era dos melhores. A equipe viveu maus bocados no início de 1989.
Para buscar uma vaga na fase final do Gauchão e evitar a disputa do octogonal da morte, que poderia rebaixar o clube no Estadual, foram contratados o zagueiro Edinho, o volante Jandir e o lateral-esquerdo Hélcio. Além deles, chegou o técnico Cláudio Duarte, que recorda com carinho da famosa "Guerra de Vacaria". O Grêmio precisava vencer o Glória para encaminhar a classificação e escapar de uma possível queda no Estadual.
— Aquele jogo era vida ou morte para o Grêmio. Cheguei ao clube na quarta-feira e no fim de semana já tinha essa partida. Voltamos de Vacaria com a vitória e conseguimos fugir daquela situação ruim no Gauchão. Aquela partida foi uma virada de chave, que serviu para o resto do ano — lembra Cláudio Duarte, técnico do Grêmio no título de 1989.
Depois do susto, vieram os títulos do Gauchão, em junho, e da Copa do Brasil, em setembro. Aliás, na trajetória até o título nacional, o Tricolor aplicou três goleadas: contra o Ibiraçu, por 6 a 0, sobre o Mixto, por 5 a 0, e diante do poderoso Flamengo, por 6 a 1, já nas semifinais. Por isso, tamanha confiança na decisão, que terminou com gol de Cuca, artilheiro da equipe na competição.
— Jandir domina, toca na direita para Luiz Eduardo, que levanta na área para Lino, desvia para Cuca, vai marcar, apontou e gol. Goooool do Grêmio! Cuca, seis minutos e meio. Termina o sofrimento no Olímpico — descreveu o narrador Haroldo de Souza, que comandou a partida à época nos microfones da Rádio Gaúcha já que Armindo Antônio Ranzolin estava acompanhando a Seleção Brasileira, que enfrentaria o Chile no dia seguinte, no Rio, pelas eliminatórias da Copa de 1990.
Foi assim o primeiro capítulo do romance entre Grêmio e Copa do Brasil. Os demais, viriam em 1994, 1997, 2001 e 2016, repletos de drama, mas com o sentimento apaixonado da torcida gremista.
FICHA TÉCNICA
Copa do Brasil
Final (volta) – 2/9/1989
GRÊMIO 2X1 SPORT
Grêmio: Mazaropi; Alfinete (Trasante, 28'/2ºT), Edinho, Luís Eduardo e Hélcio; Jandir, Lino, Cuca e Assis; Nando (Almir, 35'/2ºT) e Paulo Egídi. Técnico: Cláudio Duarte
Sport: Rafael; Betão, Márcio Alcântara, Aílton e Aírton; Rogério (André, int.), Lopes (Edinho, int.), Joécio e Marcus Vinícius; Barbosa e Édson. Técnico: Nereu Pinheiro
GOLS: Assis (G), aos 9min, Mazaropi (contra), aos 31min do primeiro tempo, e Cuca (G), aos 6min da etapa final.
CARTÕES AMARELOS: Lino, Assis (G) e Aírton (S).
CARTÃO VERMELHO: Betão (S).
ARBITRAGEM: José de Assis Aragão, auxiliado por Ilton José da Costa e José Renato de Oliveira Fidalgo.
PÚBLICO: 62 mil pessoas
LOCAL: Estádio Olímpico, em Porto Alegre (RS)