Mais do que apenas um título, a conquista da Libertadores de 1995 pelo Grêmio foi a consolidação de um grupo tido até então como comum em um dos maiores times da história do Tricolor.
Talvez por isso, a memória afetiva do torcedor (ou a ausência dela, para os mais jovens) tenha feito com que a decisão contra o Atlético Nacional, em 1995, tenha sido escolhida em enquete no site de GaúchaZH para ser relembrada neste fim de semana, e não a de 2017, diante do Lanús, e bem mais presente na lembrança de todos.
— Não tenho dúvidas: eu escolho o título de 1995. Não só pelo fato de eu ter vivido aquilo de forma tão presente. Mas seria interessante também, para o pessoal que era muito criança ou não tinha nascido, reviver aquela conquista. Perceber a diferença que tinha naquela época em comparação com hoje. Nos anos 1990, era difícil chegar à Libertadores, havia menos vagas. Eram dois clubes brasileiros na mesma chave já na primeira fase — recordou Danrlei em entrevista à Rádio Gaúcha.
A escolha do goleiro multicampeão pelo clube na década de 1990, além de despertar a nostalgia de quem vivenciou aqueles anos de glória do Grêmio, também serve como oportunidade aos mais novos, que não viram a equipe de Felipão vencer verdadeiras batalhas campais há 25 anos. E tudo começa contra o Palmeiras, que chegou ao torneio como campeão brasileiro do ano anterior e tinha nomes como Roberto Carlos, Edmundo e Rivaldo entre os 11.
O Grêmio iniciou a campanha do título perdendo para os paulistas no Parque Antártica por 3 a 2. Depois, recuperou-se em mais duas partidas fora de casa: um empate contra o Emelec e um vitória sobre o El Nacional, no Equador. Foi para a sequência no Olímpico com apenas quatro pontos. No primeiro jogo em casa, empate em 0 a 0 com o Palmeiras. A classificação às oitavas de final veio com duas vitórias sobre os equatorianos: 4 a 1 sobre o Emelec e 2 a 0 em cima do El Nacional.
No mata-mata, o Grêmio elimina o Olímpia com duas vitórias nas oitavas e reencontra o temido Palmeiras nas quartas. O duelo que era para ser complicado (com direito a briga e expulsões) parecia liquidado com a história goleada por 5 a 0 sobre o rival no Olímpico.
Mas, na volta, os paulistas assustaram e fizeram 5 a 1 no Grêmio. Foi no sufoco, mas foi. Nas semifinais, novamente o Emelec pelo caminho. Com um empate no Equador e uma vitória em Porto Alegre, o Tricolor avançou à final para encarar o Atlético Nacional, da Colômbia.
A equipe rival, além de campeã nacional no ano anterior, tinha diversos jogadores da seleção colombiana, como o goleiro Higuita, o volante Serna e os atacantes Ángel e Aristizábal. Nada disso, porém, evitou que o Grêmio levasse a melhor no Olímpico e fizesse 3 a 1, com gols de Marulanda (contra), Jardel e Paulo Nunes — Ángel descontou para o Atlético Nacional. Restava ao time gaúcho segurar a pressão no jogo da volta.
A partida foi realizada na noite de uma quarta-feira, 30 de agosto de 1995, em Medellín. O time da casa tinha o apoio de mais de 50 mil pessoas. Mas foi assim que Zero Hora contou na edição do dia seguinte como havia sido o bi da América conquistado pelo Grêmio:
"Uma final sempre é sofrida. É tensa. O futebol brilhante de um campeão se perde entre lances de nervosismo. Um detalhe, porém, decide um título. Assim foi a dramática reconquista da América pelo Grêmio, ontem à noite, ao empatar em 1 a 1 com o Nacional, no Estádio Atanásio Girardot, em Medellín. O Grêmio começou mal, sofreu um gol de Aristizábal, mas Dinho empatou aos 41 minutos finais, de pênalti, garantindo o bicampeonato", publicou o jornal nas linhas iniciais do texto.
De fato, a partida foi tensa. O Grêmio iniciou errando passes e atacando pouco. Levou o gol cedo e a pressão dos colombianos aumentava. Felipão precisou corrigir a equipe no intervalo, mas melhorou apenas a parte defensiva. No ataque, o time estava inoperante até que Paulo Nunes (lesionado) foi substituído por Alexandre Xoxó aos 18 minutos. Depois de algumas tentativas erradas no ataque, aos 39min30seg daquele segundo tempo em Medellín tudo mudou.
O árbitro chileno Salvador Imperatore marcou pênalti de Herrera sobre Alexandre Xoxó. Dinho cobrou aos 41 minutos e o Grêmio empatou: 1 a 1. Era a garantia do título. Mesmo que o volante Goiano tenha sido expulso logo depois, o campeão estava definido.
— Acho que foi a sensação mais gostosa da minha carreira. Uma das lembranças mais importantes do tempo de jogador que tenho. Fui escolhido por Deus, digamos assim, para sofrer o pênalti naquele momento tão importante do jogo. Confesso que queria ter tentado o gol, mas, pelo título, valeu — recorda Xoxó.
FICHA TÉCNICA
Libertadores – Final (volta) – 30/8/1995
No placar agregado: 4x2 para o Grêmio
ATLÉTICO NACIONAL (1)
Higuita; Santa (Herrera, 12'/2ºT), Marulanda, Foronda e Mosquera (Matamba, 37'/2ºT); Gutiérrez, Serna, Arango (Pabón, 12'/2ºT) e García; Ángel e Aristizábal.
Técnico: Juan José Peláez
GRÊMIO (1)
Danrlei; Arce, Rivarola, Adilson e Roger; Dinho, Goiano, Arílson (Luciano Dias, 34',2ºT) e Carlos Miguel; Paulo Nunes (Alexandre Xoxó, 19'/2ºT) e Jardel (Nildo, 38'/2ºT).
Técnico: Luiz Felipe Scolari
GOLS: Aristizábal (A), aos 12 minutos do primeiro tempo, e Dinho (G), aos 40 minutos da etapa final.
CARTÕES AMARELOS: Serna, Foronda e Gutiérrez (A); Danrlei, Adilson, Arce, Rivarola, Paulo Nunes, Dinho e Alexandre Xoxó (G).
CARTÃO VERMELHO: Goiano (G).
ARBITRAGEM: Salvador Imperatore Marcone, auxiliado por Mario Sánchez Yantén e Mario Maldonado (trio chileno)
LOCAL: Estádio Atanázio Girardot, em Medellín (Colômbia)