O presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior, concedeu entrevista ao programa Sala de Redação, da Rádio Gaúcha, nesta sexta-feira (8). E, de maneira muito transparente, abordou a preocupação com o retorno do futebol no Brasil. Segundo ele, caso os campeonatos voltassem a ser disputados apenas em 2021, o Tricolor iria à falência.
— Nós teríamos que suspender todos nossos compromissos com a folha de pagamento, suspender contratos. O Grêmio não sobreviveria se voltasse só no final do ano. É absolutamente impossível para qualquer clube brasileiro. Se, no Rio Grande do Sul, pudermos voltar daqui a dois ou três meses, todo o cenário nacional passa por Rio e São Paulo. Sem aeroportos, que passam por lá, sem os clubes de lá, não tem como equalizar isso. Não teríamos como jogar — pontuou. — Independentemente do prazo que voltem, o importante é que voltem. Querer jogar parece que virou uma questão política. Não é isso. Nós gerimos futebol, e misturar política com futebol, sinceramente, não dá certo. Quero dizer que será fundamental que isso aconteça, mesmo com um calendário que perpasse 2020.
Ao lado do rival Inter, o Grêmio foi o primeiro clube da Série A que retomou as atividades. Porém, conforme Romildo, a volta aos trabalhos não quer dizer que o clube pense que seja viável reiniciar os campeonatos neste momento.
— Estamos treinando de maneira científica, muito mais em busca de uma retomada. Jogador de alto nível não pode ficar 50, 60 dias sem nenhum acompanhamento físico, médico e nutricional. Então, esse movimento que o Grêmio fez em conjunto com o Inter é muito mais cultural, científico e protocolar de subsistência do que futebol profissional. Aqui, não tem viés ideológico. Estamos fazendo isso de acordo com medidas das autoridades sanitárias — declarou.
Romildo ainda revelou que, junto de outros dirigentes, tem elaborado propostas à CBF para repensar o calendário. Ainda assim, ele prevê que só haveria condições de reiniciar o Gauchão depois de junho. Sobre o cenário nacional, a reorganização levaria mais tempo.
— Acho que não jogamos (as competições nacionais) antes de setembro. É a minha impressão. Mas pode ser melhor. Em agosto, acho que daria para encaminhar tudo. O Brasileiro e Copa do Brasil, pelo menos. Não falo em calendário sul-americano. O Campeonato Gaúcho, um pouquinho antes disso. Libertadores é difícil, não vejo como reiniciar neste ano — disse.
Mesmo com a retomada das competições, o presidente tricolor ressaltou que a crise financeira continuará afetando muito mais os clubes menores.
— Acho que clubes pequenos e médios, já passou o prazo. Cada clube vai sobreviver pela sua capacidade de endividamento. Não sei a dos outros, sei a do Grêmio. Mas creio que a capacidade de endividamento dos clubes brasileiros é muito pequena — avaliou.
Além de empréstimos bancários, o mandatário tricolor também projeta a venda de jogadores como uma receita mais do que nunca fundamental para a sobrevivência do futebol no Brasil.
— Se não vendermos algum jogador ou tivermos alguma receita que possa cobrir o rombo momentâneo, só teremos uma solução: recorrer aos bancos. Ainda bem que o Grêmio tem um lastro de crédito, mas teremos de pagar. Com a insegurança, principalmente em relação ao campeonato nacional, talvez nem seja possível dar garantia para os bancos. Teremos que ter muita calma — analisou. — Acho que vai acontecer algum negócio, sim. Não sei quando, como e com quem. Mas os clubes europeus já estão em uma fase de recuperação, alguns campeonatos retomando, e acho que eles vão conseguir fazer alguns investimentos. Claro que não vão mais ser os mesmos valores em euros, mas já está de bom tamanho. Se tivermos essa perspectiva, já é um grande negócio. Por um bom tempo, até essa crise passar, o dinheiro vai ser bem menor — concluiu.