Uma das explicações para a derrota do Grêmio diante do Caxias, na decisão do primeiro turno do Gauchão, foi o condicionamento físico. A equipe da Serra iniciou a preparação para o Estadual em 2 de dezembro, três dias antes de os titulares do técnico Renato Portaluppi entrarem em campo pela última vez em 2019, contra o Cruzeiro, na Arena. O grupo tricolor teve um mês de férias e retornou aos treinos em 9 de janeiro, 39 dias após o elenco grená.
— No Brasil, independentemente de qual venha a ser o clube, o Estado, estão os melhores preparadores físicos do mundo. Por termos os melhores, quem trabalha no Caxias, no Brasil-Pel, enfim, em qualquer equipe, saberá utilizar o tempo. Por isso, conseguem aproveitar o período a mais que tiveram em relação à dupla Gre-Nal, que se reapresenta mais tarde — avalia o preparador físico Paulo Paixão, com passagens por Grêmio, Inter, Seleção Brasileira e hoje no Bahia, na comissão técnica comandada por Roger Machado.
A estratégia gremista para esta temporada foi diferente de anos anteriores. Em 2018, o Tricolor optou por iniciar o Gauchão com a equipe de transição, formada por atletas sub-23. Os resultados não foram bons e, a partir da quinta rodada, o time principal passou a ser escalado.
Em 2019, Renato mudou e deu oportunidades aos reservas do grupo profissional nos primeiros jogos do ano. Já para 2020, a ideia foi colocar os titulares desde a estreia do Estadual, ainda que os jogadores tenham tido apenas 14 dias de preparação entre o início da pré-temporada e a primeira partida oficial.
Aliás, a queda de rendimento do Grêmio no segundo tempo tanto do Gre-Nal, quando estava com um jogador a mais e marcou o gol no momento em que o Inter era melhor na partida, quanto na derrota para o Caxias, chamou atenção. Porém, no entendimento de quem esteve em campo, não há problema de preparo físico.
— O professor Renato falou com a gente hoje (terça-feira, 25) e ele não acha que estamos mal fisicamente. Pelo contrário, ele sabe que estamos correndo bem, nos dedicando. Ele só nos cobrou atenção. Estando ali dentro de campo, também não vejo esse problema na parte física, porque do primeiro ao último minuto a equipe se entrega — afirmou o volante Matheus Henrique, que não participou da pré-temporada gremista porque estava com a seleção sub-23 na disputa do Pré-Olímpico.
Pensando nisso, a direção gremista trocou o preparador físico em meio à pré-temporada. Saiu Rogério Dias, que comandava a preparação física da equipe profissional desde 2015, para a chegada de Márcio Meira, que estava no Muangthong United, da Tailândia, mas já havia trabalho em vários clubes do Brasil, como Fluminense, Flamengo, Botafogo e Athletico-PR. Neste último, foi levado por Edinho, que foi zagueiro e treinador do Grêmio.
— O Márcio é um cara que interage com todos os preparadores, é um palestrante, um profissional bem informado. Ele tem experiência de sobra para ajudar o clube — destacou Edinho, hoje coordenador técnico do Tombense, que lidera o Campeonato Mineiro.
A mudança na metodologia de trabalho de um preparador para outro, no entanto, é algo a ser observado. O volante Nunes, bicampeão gaúcho pelo Tricolor em 2006 e 2007, garante que a parceria entre jogador e comissão técnica é fundamental.
— Tem preparador físico que gosta de um método que às vezes não é o melhor para o jogador, porque ainda não conhece cada atleta. Quem trabalha mais com a força, precisa de exercícios de tração. Outros precisam mais resistência, aí são importantes as corridas, os "tiros", como a gente chama. Por isso tem diferença quando troca um profissional dessa área — explica o atleta, hoje no São Paulo de Rio Grande.
Tempo suficiente para a preparação
Para esta temporada, o Grêmio apostou em jogadores experientes. Contratou Vanderlei, 36 anos, Thiago Neves, 34 anos, Diego Souza, 34 anos, Victor Ferraz, 32 anos, além de Lucas Silva, Orejuela e Caio Henrique, estes, mais jovens. A média de idade subiu. Se na partida contra o Cruzeiro — a última dos titulares em 2019 — a média era 28 anos, contra o Caxias ela passou para 30,4.
O envelhecimento do time precisa ser levado em consideração. Porém, os preparadores físicos ouvidos pela reportagem afirmam que os atletas mais experientes, muitas vezes, têm mais facilidade para absorver o treino de condicionamento do início de temporada do que os mais jovens. Além disso, os 48 dias de trabalho neste início de ano são considerados suficientes para que o grupo tenha boa condição física.
— Uma margem de quase dois meses, mesmo para um atleta destreinado, já possibilita que ele esteja no nível dos adversários que começaram a trabalhar antes. Mesmo parando por 30 dias, a condição técnica não cai. Taticamente pode encontrar algo novo, mas fisicamente cai pouco também, porque os jogadores são acostumados com isso — ressalta o preparador físico Márcio Corrêa, com passagem pelo Grêmio e hoje no Oeste-SP.
No caso de Thiago Neves, um dos mais veteranos e que apresentou desempenho abaixo do esperado até aqui, a justificativa tem sido o condicionamento físico. Tudo bem que o meia começou a treinar no CT Luiz Carvalho apenas no final de janeiro e não entrava em campo desde 28 de novembro, mas o prazo para estar pronto está correndo, e na próxima terça-feira, 3 de março, o Grêmio já estreia na Libertadores, contra o América da Cali, na Colômbia. E será preciso de atletas como ele para encarar o calendário cheio que o time tem pela frente. Problema para Renato resolver.
Números do Grêmio na derrota para o Caxias nos dois tempos:
- Posse de bola
1º tempo: 63,15%
2º tempo: 59,95% - Passes certos
1º tempo: 242
2º tempo: 226 - Dribles
1º tempo: 1
2º tempo: 3 - Finalizações
1º tempo: 6
2º tempo: 1 - Perda de posse
1º tempo: 15
2º tempo: 13 - Desarmes
1º tempo: 11
2º tempo: 3 - Faltas sofridas
1º tempo: 7
2º tempo: 8 - Faltas cometidas
1º tempo: 8
2º tempo: 5