Ainda antes do término do Brasileirão, o técnico Renato Portaluppi avisou que, para 2020, o Grêmio teria de acertar a mão nas contratações para brigar por títulos na próxima temporada. Pensando nisso, ao que tudo indica, a direção tricolor estabeleceu nova estratégia no mercado: buscar jogadores que atuam no país para que não precisem de tanto tempo de adaptação ao novo ambiente.
O primeiro reforço anunciado foi o lateral-direito Victor Ferraz, 31 anos, que estava no Santos desde 2014. Os outros nomes próximos de acerto com o clube gaúcho também atuaram no país nesta temporada: o volante uruguaio Carlos Sánchez, do Santos, e o lateral-esquerdo Caio Henrique, emprestado pelo Atlético de Madrid ao Fluminense em 2019.
— Parece que nos últimos tempos os dirigentes estão entendendo que não importa o jogador descer no aeroporto. Às vezes, quem desembarca na rodoviária pode ser mais útil — destaca Cláudio Duarte, ex-treinador do Grêmio em quatro oportunidades.
As experiências recentes ruins com atletas vindos do Exterior, como Marinho e Diego Tardelli, que estavam na China, Walter Montoya, argentino que atuava no México, e Felipe Vizeu, que veio da Udinese, da Itália, parecem ter influenciado a mudança de rumo na Arena. Dos especulados, apenas o volante Lucas Silva, que rescindiu com o Real Madrid em setembro, viria "de fora" do país, já que treinava na Espanha depois de ter atuado até junho pelo Cruzeiro.
— A facilidade maior está no mercado nacional, porque você acompanha mais de perto e sabe da resposta que o jogador pode dar — avalia o ex-dirigente do Grêmio César Pacheco, que complementa:
— O ideal é buscar atletas que ainda não estouraram porque é mais barato. Tem jogadores que não estão bem em determinado clube e uma mudança de ares faz bem para eles. Quando fui dirigente, trouxe o Jardel, em 1994, e o Maicon, em 2015, que eram caras vaiados e deram muito certo no Grêmio.
Essa experiência de trazer nomes desconhecidos ou em baixa deu certo nas contratações de diversos atletas importantes para o elenco tricolor nos últimos anos, como Geromel, Cortez, Michel e Alisson. Porém, quando o clube fez investimentos mais altos, como Miller Bolaños, André e Marinho, os reforços não renderam o esperado.
Até mesmo por isso, Renato avisou em uma de suas últimas entrevistas antes do término da temporada gremista que o clube buscaria reforços, mas não teria condições de contratar jogadores caros. Na ocasião, falou que o cinto não iria se fechar, tampouco poderia se afrouxar como no Flamengo ou no Palmeiras.
— O Grêmio sempre teve os pés no chão e fez bons negócios. Fizemos contratações muitas vezes criticadas e conquistamos vários títulos. Recuperamos muitos jogadores. O Grêmio está aberto, desde que se encaixe na parte financeira do clube. Não vamos fazer loucuras. Sempre montamos bons grupos assim — salientou o treinador em novembro, dias antes do fim do Campeonato Brasileiro.
Nessa hora, o trabalho do presidente Romildo Bolzan Júnior e do executivo de futebol Klauss Câmara é essencial para definir quem seguirá na equipe, o perfil dos jogadores que chegarão e negociar as possíveis contratações. No entendimento de Cláudio Duarte, o fundamental para minimizar os erros nos reforços é estabelecer as características que o grupo precisa.
— É preciso saber o que você quer para o time. Precisa de um jogador sanguíneo, bom de grupo, fisicamente mais forte, alguém veloz, com potência, bom condutor de bola, finalizador? Isso é que precisa ser estabelecido para se acertar na contratação — entende o ex-treinador.
Para quem já viveu por diversas vezes o outro lado, de quem busca os reforços para o time, além de uma pesquisa complexa também é necessário uma boa dose de sorte nas contratações.
— O negócio é ter dinheiro, responsabilidade e sorte junto. Precisa tudo isso. Hoje existe mais concorrência no futebol. O Tardelli todo mundo achou que daria certo. Eu tive essa experiência com o Amoroso também, achei que ia dar certo. A gente fica triste, mas nem sempre vai dar o resultado que esperamos — pondera Pacheco.
Seja qual for o perfil da contratações, a tendência é de que os novos jogadores não precisem passar pela imigração antes da apresentação ao Grêmio.
As contratações do Grêmio nos três últimos anos:
2017
- Gastón Fernández (Universidad do Chile)
- Beto da Silva (PSV)
- Michel (Atlético-GO)
- Léo Gomes (Boa Esporte)
- Léo Moura (Santa Cruz)
- Bruno Cortez (Albirex Niigata-JAP)
- Lucas Barrios (Palmeiras)
- Jael (Joinville)
- Bruno Rodrigo (Cruzeiro)
- Michael Arroyo (América-MEX)
- Cícero (São Paulo)
- Paulo Victor (Gaziantepspor-TUR)
- Cristian (Corinthians)
2018
- Paulo Miranda (Red Bull Salzburg-AUS)
- Hernane (Sport)
- André (Sport)
- Alisson (Cruzeiro)
- Thonny Anderson (Cruzeiro)
- Madson (Vasco)
- Thaciano (Boa)
- Marinho (Changchun Yatai-CHI)
- Juninho Capixaba (Corinthians)
- Maicosuel (São Paulo)
2019
- Julio César (Fluminense)
- Diego Tardelli (Shandong Luneng-CHI)
- Montoya (Cruz Azul-MEX)
- Rômulo (Flamengo)
- Rafael Galhardo (Vasco)
- Felipe Vizeu (Udinese-ITA)
- David Braz (Sivasspor-TUR)
- Luciano (Fluminense)