O sonho do Grêmio de conquistar o tetra da América foi adiado na última quarta-feira (23) no Maracanã. Mais do que a eliminação, a goleada de 5 a 0 para o Flamengo significou a maior derrota do clube na Libertadores. Um resultado desse tipo seria capaz de balançar qualquer comissão técnica no futebol brasileiro tão viciado em trocas de treinadores. No Tricolor, porém, os títulos dos últimos anos e a condição incontestável de ídolo de Renato Portaluppi deixam a possibilidade de mudança no comando fora de cogitação no momento.
Pelo contrário, o presidente Romildo Bolzan revelou logo no dia seguinte à goleada que havia iniciado conversas para a renovação do contrato do treinador — que termina no final do ano. O dirigente garantiu que o fracasso diante do Flamengo não altera a sua intenção.
— Esse resultado não atrapalha em nada esse processo de continuidade do Renato no Grêmio — sustentou Romildo.
Com a confiança em Renato mantida, a volta do Grêmio para Porto Alegre teve conversas para tentar entender os motivos que levaram o clube a sofrer a histórica goleada no Rio. Em meio a isso é preciso reanimar o elenco. O Tricolor tem onze rodadas no Brasileirão para entrar no G-4 — ou pelo menos no G-6 — para disputar a Libertadores em 2020.
O ex-presidente Grêmio, Luiz Carlos Silveira Martins, o Cacalo, ressalta que a diretoria do clube é fundamental nesse momento. Ele acredita que é preciso um discurso forte no vestiário para remobilizar o elenco para a reta final do Brasileirão.
— É fundamental nesse momento um discurso forte da direção. É preciso um discurso forte e de cobrança interna, mas, ao mesmo tempo, de demonstração de confiança nos atletas. Pode parecer paradoxal, mas é assim que deve ser. Vamos cobrar? Vamos, mas é preciso ter sabedoria. Não pode ser dizer agora que ninguém presta, que todos são ruins — afirma.
A psicóloga do esporte Thaise Coutinho ressalta que uma decepção tão grande como a da eliminação para o Flamengo exige cuidado especial com a parte mental dos jogadores mesmo em um grupo tão experiente como o do Grêmio.
— Os aspectos psicológicos sempre irão interferir no rendimento do jogador e da equipe. É extremamente importante que estes tenham recursos para lidar com as adversidades. O trabalho deve ser interdisciplinar e todos os profissionais contribuem para a conquista das metas planejadas. E vale lembrar que treinador é treinador, psicólogo é psicólogo — analisa.
O primeiro compromisso do Grêmio após a eliminação na Libertadores será neste domingo diante do Botafogo, na Arena. Ex-técnico e jogador do Tricolor, Cassiá Carpes destaca que uma vitória neste final de semana é fundamental para a recuperação anímica do elenco.
— A questão emocional é a mais importante no momento. O torcedor está desconfiado com alguns jogadores e isso pode refletir negativamente contra o Botafogo. Um bom resultado para trazer a confiança de volta. Se não vencer, esse 5 a 0 não vai sair da cabeça do torcedor — projeta Cassiá.
Cautela nas mudanças
A forma como o Grêmio foi superado pelo Flamengo levantou dúvidas sobre muitos jogadores do elenco. O goleiro Paulo Victor e o centroavante André são os mais criticados, mas até mesmo nomes antes incontestáveis passaram a ser questionados após a acachapante goleada no Rio de Janeiro. Nesta sexta-feira (25), Renato Portaluppi concedeu entrevista coletiva e tratou de blindar o elenco.
— Você não pode começar a afastar jogador sempre que houver uma derrota ou uma eliminação. O futebol não pode ser assim. O torcedor está chateado com um ou outro jogador, mas são os mesmos atletas que antes eram aplaudidos. Estamos envergonhados, sim, mas esse é o grupo que pode voltar a dar alegrias para o torcedor — defendeu.
Cassiá acredita que alguns atletas devem ter o ciclo encerrado no Grêmio no final do ano. O ex-técnico, no entanto, destaca que o melhor é que essas mudanças ocorram com calma e que alterações mais profundas sejam feita apenas a partir da próxima temporada.
— Houve um rendimento muito baixo de alguns jogadores, que saíram marcados. Mas temos de pensar que uma reformulação grande vai trazer perturbação enorme ao grupo. Começar a tirar muitos jogadores poderia criar uma animosidade no ambiente — avalia.
Para o jogo contra o Botafogo neste domingo, o técnico Renato Portaluppi não contará com André, suspenso pelo terceiro amarelo, nem Rafael Galhardo, expulso contra o Fortaleza na última rodada do Brasileirão. Talvez nesse momento de insatisfação da torcida possa ser até melhor para o Grêmio não contar com esses dois atletas contestados e que provavelmente seriam vaiados pela torcida na Arena.