Chegou o dia de o Grêmio enfrentar o jogo do ano, o duelo que definirá o brasileiro que entrará para a história como o primeiro a disputar a final da Libertadores em partida única, em Santiago, no Chile, em 23 de novembro.
Além de encarar um Flamengo milionário, o time de Renato Portaluppi, que conquistou seis títulos nos últimos três anos, precisará buscar inspiração na conquista de 1997 para superar um Maracanã com mais de 60 mil pessoas e trazer mais um troféu para o Museu Hermínio Bittencourt, na Arena. A confiança se resume numa frase dita ontem por Renato, ídolo maior do clube:
— Meu time está acostumado a entrar para a história.
Para transpor os gritos que tomarão conta do maior estádio do país na noite de hoje e dar o penúltimo passo rumo ao sonho do tetra da América, o Tricolor precisará repetir o que fez de bom ao longo do ano e levar de lição o primeiro embate com os cariocas, quando o 1 a 1 saiu barato para a equipe, que foi salva pelo VAR e por um gol do garoto Pepê no final. É o momento de recordar o que o time fez de positivo e usar as derrotas como aprendizado.
Quanto a isso, parece que tanto jogadores quanto treinador entenderam. As três primeiras rodadas da fase de grupos foram assustadoras em termos de projeção na tabela. Na mesma cidade da final da Libertadores, foi onde se deu a virada de chave da equipe na temporada. Depois de perder por 1 a 0 para a Universidad Católica, no dia 4 de abril, e o desespero tomar conta de gremistas que imaginam que avançar para os mata-matas seria impossível, o goleiro Paulo Victor alertou:
— É colocar a cabeça no lugar para conseguirmos nos classificar. Enquanto tivermos oportunidade, lutaremos até o final.
E foi o que aconteceu. Renato garantiu que o Grêmio avançaria à próxima fase, a equipe batalhou e venceu as três partidas seguintes pelo torneio, terminando a fase de grupos em segundo no grupo, atrás do Libertad, que seria seu adversário nas oitavas.
Mas a contribuição do comandante não se deu apenas nas palavras. Teve atitudes. Ele sacou Michel e Luan do time e deu lugar aos jovens Jean Pyerre e Matheus Henrique, responsáveis por dar mais dinamismo a um meio-campo que precisava de energia.
— Nenhuma equipe de futebol mantém o alto nível sempre. Nós sabíamos que tínhamos de virar a chave no segundo turno para conseguir a classificação. O Grêmio não fez muita coisa diferente. Ficou mais focado, errou menos, e conseguimos as vitórias. Eu banquei a classificação porque conheço meu grupo — destacou o treinador depois de derrotar a mesma Universidad Católica por 2 a 0, na Arena, pela última rodada da fase de grupos.
Uma pausa de mais de dois meses separou essa vitória do primeiro jogo das oitavas. Durante o período, Everton brilhou na Copa América com a camisa da Seleção Brasileira e os torcedores tricolores viveram dias de expectativa pela permanência ou não de Cebolinha. O assédio europeu não virou proposta e o craque do time seguiu em Porto Alegre.
— Sabemos que o jogador fica marcado na história com títulos e quero ser ídolo da torcida do Grêmio, ficar marcado com títulos — afirmou Everton sobre sua permanência no clube após a classificação diante do Palmeiras, nas quartas de final.
Aliás, sobre esse confronto, foi no sufoco. Após um golaço de Gustavo Scarpa dar a vantagem para os paulistas na Arena, o Grêmio precisava reverter o resultado no Pacaembu. Com 13 minutos, o Palmeiras abriu o placar com Luiz Adriano e deixou os gremistas desacreditados por quatro minutos. Isso porque foi esse o tempo que levou para Everton empatar o jogo.
E, depois de mais quatro minutos, veio a virada com Alisson, aos 21 minutos do primeiro tempo. Foram mais 69 minutos — fora os acréscimos — de garra e determinação para segurar o 2 a 1 que colocou o Tricolor na semifinal, para enfrentar o Flamengo que viria a eliminar o Inter um dia depois.
— Nosso grupo é muito experimentado. Não à toa, chegamos nas três últimas semifinais da Libertadores. Isso mostra toda a consistência do nosso trabalho. Mesmo perdendo em Porto Alegre, a gente acreditava no nosso trabalho e o apoio da nossa torcida foi fundamental para esse resultado — disse o capitão Geromel na saída de campo.
Esse triunfo foi daqueles para resgatar ao autoestima e servir de inspiração. Entre os quatro melhores do continente em 2017, 2018 e novamente em 2019, o Grêmio igualou o São Paulo e tornou-se o clube brasileiro com mais semifinais de Libertadores.
Bom, depois de recordar a trajetória ao mesmo tempo acidentada e heroica do Grêmio na competição, fica difícil não se manter confiante. O torcedor sabe que será preciso uma partida perfeita — ou o mais próximo disso — para superar o time ao qual o próprio comandante gremista se refere como "uma seleção".
Ainda que os desfalques sejam mais um ponto a ser suplantado, eles existem para os dois lados. Enquanto a equipe gaúcha não poderá contar com Leonardo Gomes, Luan e Jean Pyerre, os rubro-negros tem Arrascaeta como provável ausência e Rafinha como dúvida.
Assim, é hora de esquecer mistério, favoritismo, pressão da torcida ou qualquer outra coisa que não seja a partida de hoje. É hora de lembrar que o Grêmio pode repetir o que fez há 22 anos, quando calou um Maracanã lotado e conquistou o tri da Copa do Brasil ao empatar em 2 a 2 com o Flamengo. É hora de pensar que, com esse mesmo resultado, a equipe estará na final. É hora da decisão